segunda-feira, 30 de setembro de 2013

BARBEIRO DO BRASIL

Mas doutor, o que de fato eu tenho?
A senhora está com a Doença de Chagas!
Doença de Chagas? Mas o que significa isso, doutor?
Isto significa que a senhora foi chupada por um barbeiro!
Desgraçado... ele me disse que trabalhava no Banco do Brasil!

sábado, 28 de setembro de 2013

AAAAULA

Ele comeu a professora na sala de educação sexual.

VIDA PERNETA


O Gordo Tetéu fez uma acentuada e irresponsável curva pra esquerda e foi colhido, com sua moto, por um carro em alta velocidade. O impacto arrancou a sua perna logo acima do joelho e ele passou a ter um novo e bulinático apelido: Gordo Perneta.

***

O Gordo Perneta dizia que seu membro (que não existia mais) coçava. E eu fiquei me indagando, pois já ouvi histórias sobre pessoas que perdem mãos e pés e eles seguem doendo, coçando, incomodando como não faziam antes, quando, de fato, existiam.

***

O taradão perdeu a mão e deixou, por certo tempo, de acariciar um bumbum feminino. Contudo, seu prazer não se findara... muito antes pelo contrário. Diz ele que depois da amputação, quando passava uma mulher bonita, ele fechava os olhos e a mão inexistente se deliciava com uma pseudo e etérica bunda.

***

O fato é que eu já estou há 5 dias em Santa Rosa, minha cidade natal.
Neste curto espaço de tempo, revisitei pontos onde minha infância aconteceu.
O sítio do pai, o arroio onde eu e o Ale tomávamos banho... o bar do merengue, as pedras, ginásios... reconstruímos vários momentos que ficaram (ou pareciam ter ficado) para trás.
As pessoas que cercam o ambiente onde eu cresci, hoje, são completamente diferentes... novas crianças, tios que já partiram. Há uma calçada nova e um cachorro que eu não sei o nome. O galpão virou garagem, o bolicho, mercadão. Trocaram o antigo calçamento por asfalto, e poucas coisas eu reconheço, embora a essência do que me forjou ainda permanece, como uma alma escondida atrás de um muro, como a ex-perna coçante do Tetéu.

***

Pensando nisso, vi que minha infância, em certo ponto, hora após hora, também vai ficando num lugar distante... as memórias também vão se perdendo, em sua grande maioria, e eu daqui, deste exato presente, vendo tudo o que me cerca, minha mãe ficando velhinha, sinto que tudo passa muito rápido... sinto que a vida, como a infância, vai passando sem parar, e eu teimo em olhar pra trás. E então, reconhecendo aquilo que fui, faço perspectivas tolas, como se tudo fosse eterno... mas percebo também que o que finda, aquilo que passa e não existe mais, deixa no ar uma tênue energia, um cheiro de realidade, uma infância que insiste em ficar, como aquela mão que não está mais no corpo, como uma perna que não existe mais.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

MEU NOVO POEMA

Eu tento encontrar
Num mar de palavras
Algumas gotas pra te dar...
Peixe pequeno nestas águas turvas
Vou nadar...
Nadar até onde não podem os peixes
Eu vou nadar até cegar num feixe
Deste sol que fora d'água
[aquece e reina

Eu vou achar
Uma concha irresistível que me coma
Que me tranque como pérola
Uma ilha de vulcões,
Pétalas na areia
Onde a onda vá buscar
Todo dia tua manha,
Meu novo poema...

EU COMPRO UMA REVISTA


O jovem sentado no banco da praça ouve a conversa de outros jovens no banco da frente... enquanto isso, as pombas giram pelo céu e pousam, em grupos e separadamente, bebem água no chafariz e ciscam migalhas pelo chão da vida, esta dimensão fugaz onde o tempo passa sem parar. O sol reflete na água do pequeno lago, fazendo lâminas, devolvendo luz ao céu que brilha azul, sem nuvens. Entre pontos cintilantes, as tartarugas espiam o mundo do lado de fora, amontoadas, e outras nadam entre kinguios branco-alaranjados e carpas dançarinas, que nada mais fazem nesta tarde do que hora para a morte, como os jovens que conversam e se beijam na minha passagem.
Eu, compromissado, creio estar seguindo a um lugar exato... creio ter função nesta roda, ora samsárica, ora sistemática e monetária, e quase sempre quando ando penso se vivo ou sou vivido pelos lugares em que vou e não gosto, pelas coisas que quero e que não posso, pelo que quero demais. Há sempre um futuro, escondido num outro lugar que ainda não veio, mas nem sempre há um destino. No entanto eu vejo e também observo
[o que talvez seja mais importante

eu vejo e também observo os arredores deste corpo andante. Na parte norte dos bancos há um gramado e algumas plantas, arbustos, piracantas, uma sica deveras revoluta, gigante e descabelada, como o cara que toca seu violão na calçada por onde passo agora. Então o ritmo constante de minhas pernas com chegada certa me leva pra fora da praça e outros minutos ficaram para trás. Eu compro uma revista, eu vejo pessoas que eu (acho que) conheço e cumpro ações de uma lista, costurando esquinas, reconhecendo outra vez a cor do dia, que passa rápido e parece feroz.
Há um cachorro cheirando a rua por onde andam também centenas de pessoas, constante passar. Há dois, há quatro, há dez cachorros marginais. Há também em uma loja um cachorro de pelúcia verossímil, uma boneca inflável para companhia e solidão... Há, no segredo dos apartamentos, o domínio inefável dos amores sobre outros amores
[se é do amor o domínio, a supressão e o mando).

Quem sabe o amor não seja assim tão puro, pois aquilo que mais amo é também minha maior prisão, a ferida mais frágil e aberta, a possível maior ruína.

***

Eu volto sempre pelo mesmo caminho. Quando chove, sob um conjunto de marquises, eu desvio das gotas insistentes e salto as poças pelo chão. Elas refletem uma mulher de guarda-chuva colorido... elas refletem qualquer coisa, imitando a vida antes do sol secá-las. Tolas poças, tão finitas quanto ela, a vida. Estagnadas pela gravidade e pelo tempo da cidade úmida.
Espelhando algo que não são, às poças eu dedico esta pequena história que parece não ter fim, só meio. E de fato, vivemos entre os meios, buscando inutilmente como tudo começou, esperando um fim, andando pela praça e ruas, seguindo os mesmos caminhos por dias diversos...
Talvez o fim fique na frente... talvez o fim nem há. Ou vivamos apenas de fins... vários e incessantes fins... fins que se unem uns aos outros num permanente transformar... uma intrigante e rápida eternidade, como o espaço-tempo entre dois bancos de praça por onde passo, novamente, agora.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

OUTRA ROSA


Outra rosa vai abrir
Inevitavelmente, vai abrir
Escondida atrás destas paredes
Desta velha casa, escondida na fachada que encara a rua
Longe da grande avenida, esta rosa vai abrir
Queira ou desqueira, como o amor se manifesta
As plantas crescem...
Os homens passam...
E, alheia a tudo,
Outra rosa vai abrir...

A ENGUIA E OS SUPER-HUMANOS


Eu encontrei no Youtube um vídeo onde um jacaré morre eletrocutado por uma enguia sul-mato-grossense.
A enguia tava presa num anzol e gritava que nem o Rod Stewart.
Uhhhhhhh....
O jacaré foi se aproximando, se chegando, e uact, desferiu seu poderoso
[e neste caso derradeiro

bote.

***

Bzzzzzzzzzzzz....
Bzzzzzzzzzzzzzzzzzz....
O peixe-elétrico deu um choque fatal tão potente, mas tão potente que acendeu uma luz na ponta do rabo crocodiliano...
Poizé poizé poizé!

***

Ô cumpadi... corre aquim! Corre aquim! Vem rapidão vê issoqui ômi dideus.
Quiqui foi cumpadi?
Eu peguei um bichão no anzol, olha só!
Iqui bichão é essi cumpadi?
Ignoro!!!
Mas que baaaaaaita ignoro!

***

Ô cumpadi... corre aquim! Corre aquim! Vem rapidão vê issoqui ômi dideus.
Quiqui foi cumpadi?
Eu peguei um bichão no anzol, olha só!
Iqui bichão é essi cumpadi?
Sei não... tá mi parecendo um peixelétrico!
Será cumpadi?
Nunsei! Toca nele pra genti vê!
Eu não, tá loco? Toca ocê!
Eu? Bencapais! Ocê que pegô ele... toca ocê...
Nem pensar! Si eu tocá eu morro!
I si eu tocá eu não morro poracauso?
Talvez você morre sim, cumpadi. Mas ocê também podi tomá um choqui e virá um supererói poderoso, quinenqui eu vi na TV.
Então toca e vira ocê, uai!
É qui eu prifiro o anonimato di pescador...

***

Então eu fiquei pensando como pode a natureza produzir  um ser assim, que dá choque? Qual dispositivo aciona este mecanismo no animal? Como pode a enguia dar choque, os pirilampos acenderem luz, peixes das cavernas cintilarem? Qual informação genética é esta que captura propriedades da atmosfera elétrica e as coloca dentro da carne desta bicharada?

***

Na verdade, estes animais incorporaram uma propriedade não-animal, a eletricidade, em sua dinâmica corpórea. Isto significa que o que está fora dos genes, neste caso a eletricidade atmosférica, também pode ser apreendido e processado organicamente. E é por isso que a tecnologia, que revolucionou (e revoluciona) o processo de conhecimento está alterando a genética humana e gerando crianças cristais incrível e assustadoramente mais inteligentes e mais sensíveis...
Estamos, portanto, nos aperfeiçoando como raça,
[e a evolução é um acontecimento inevitável!

ao ponto de formar uma nova ordem orgânico-telepática, os super-humanos.
Está acabando a Era do medo, das mentiras, das guerras e da ignorância dos antigos homo sapiens, e começando a Era da luz, da beleza, da quarta dimensão racional, a dimensão psico-precipitada, onde todos os pensamentos acontecem...

***

Estes novos tempos serão tão avassaladores aos humanos velhos, àqueles que ainda teimam em atirar, ofender, sacanear... eu diria até que serão chocantes... tão chocantes quanto um fio desencapado! Tão chocante quanto rabo de uma enguia encurralada.


domingo, 25 de agosto de 2013

A EVOLUÇÃO


O mundo veio do fogo.
A chuva, dos gases.
As microcélulas aos bichos aquáticos, aos dinossauros, aves e mamíferos.
Do macaco, o homem.
[do macaco, o macaco contínuo.
Outros meio homem, outros meio macacos...

A planta que morre, cresce, entre a brecha cintilante do asfalto e a rocha.
Sobre o nada, a planta cresce.
E segue crescendo, comendo as cidades abandonadas...

A evolução acontece, queira-se ou não se queira...

A girafa tem pescoço...
O abacate com caroço.
O homem que anda em pé...
Anda falando aos cotovelos
Onde vai este novelo?
A genética, a perfeição
Vai parar aonde, meu irmão?

***

Na evolução das espécies, perderemos o cabelo e o apêndice.
As unhas, talvez também.
Troca-se os mingos por telepatia.
Troca-se as tias por irmãos!
Ficaremos tão modernos
Ou não!

O HOMEM E OS GOLFINHOS


Em Laguna, Santa Catarina, ocorre um fenômeno talvez inédito em toda humanidade. Lá, pescadores trabalham em conjunto com os golfinhos,
[ou botos, no linguajar local

numa interação entre espécies tão rara quanto bela, singela e mágica, proveitosa a ambos, homens e golfinhos, e ninguém sabe como aquilo começou.

***

Existe, neste caso, uma óbvia aproximação de um ser “racional”, o homem, e de um animal “irracional”, no caso o golfinho. E, desta interação, surge uma dúvida: o homem compreende os golfinhos ou são eles, botos, que se aproximam da dita mente racional humana?

***

Então, o grande questionamento resultante é se a racionalidade humana é uma dádiva ou um castigo.  

***

Vejamos... neste planetão azul, a racionalidade é o que difere os hominídeos das outras espécies. A racionalidade é a propriedade de utilizar elementos da lógica e dialética em pensamentos sequenciais até atingir uma conclusão embasada em conceitos criados através dos milênios da mente instrumentalizada. Ou seja, através do conceito racional o homem estabelece regramentos de convívio, transforma elementos naturais oriundos da Terra em produtos manufaturados e artificiais que não mais são aceitos no processo orgânico terreno (como petróleo em plástico, a pedra em concreto, a água em tinta etc), se torna a única espécie que produz o conceito de lixo, de guerras, que solta bombas químicas e defeca na água que bebe. E, sob esta ótica, a racionalidade é um castigo.

***

Contudo, há dois aspectos que tornam a racionalidade uma dádiva, que são a arte e o esporte. É neles, arte e esporte, que o suprassumo da vida e do amor são reduzidos em belas ações, em competitividade sadia (pois a única forma de competitividade sadia entre os homens é o esporte), em quadros, músicas, arquitetura que se assimilam à flor que abre, às cores dos bichos, à música das baleias e aos ninhos dos pássaros... Assim, em toda manifestação humana embebecida de amor e outros sentimentos que conduzem a breve passagem dos homens niilisticamente ao esquecimento, a arte e o esporte são o que há de dadivoso em nossa mente dita superior e “racional”.

***

Neste ínterim, ao indefinir a racionalidade como boa ou ruim, também não conseguimos definir a essência humana, já que a mente precede (e propaga) a existência. O homem é bom ou ruim por natureza? Qual é a nossa saga e nossa sina como espécie e para onde conduzimos nossa genética que, muitas vezes, nem parece natural como a dos animais e plantas que pela Terra insistem em brotar.

***

E neste breve post, movido pela racionalidade e intencionado à conclusão, como praxe humana, penso que a natureza do homem não pode ser apontada como boa ou má, mas sim o conjunto de ações individuais de cada elemento que compõe a espécie. Temos homens belos e, outros, bélicos. Temos artistas e temos arteiros. Temos pacificadores esperançosos e tiranos egoístas, mas nenhum deles consegue resumir sua espécie, que incógnita, viaja pelo espaço-tempo a transformar seus arredores, sem destino nem ponto de chegada.

***

E, entre uma era e outra, momentaneamente, o homem para numa breve pescaria com seus irmãos nadadores golfinhos. Entre eles, muito mais que simples tainhas: o segredo nunca revelado da humanidade.
A bondade e a maldade são, também, como a própria existência da mente que os julga, ilusões passageiras.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

MARS ONE


Fiquei sabendo dum projeto da empresa holandesa Mars One, do alemão Bas Landsdorp, que consiste em um interessante concurso que contempla os escolhidos com uma viagem só de ida a Marte, o planeta vermelho.
Segundo a ideia, serão selecionados 24 "felizardos", homens e mulheres, que terão a missão de cultivar seus alimentos, reciclar a água congelada marciana e se reproduzir, que pra mim é a mais simples e prazerosa de todas elas, missões.

***

Diz o projeto que os contemplados passarão por treinamento físico e psicológico e que os astronautas ex-terrenos já sairão daqui casadinhos da silva. Ou seja... o cara paga taxa de inscrição, sai pra uma superaventura dessas, pra nunca mais pisar no solo da Terra, passa por mega-adversidades espaciais, tem que viver pra sempre dentro daquelas desconfortáveis roupas astronáuticas com capacete de aquário e, além de tudo isso, já vai levar mulher de casa.
Tem que estar muito de cara com a vida pra aceitar uma indiada destas.

***

Aí o Paulão chega em Marte.
Viagem longa, descabelado.
Mulher bafuda e brava, com ciúme da astronautinha bonita.
A paisagem, pedras vermelhas em todas as direções.
E uma casinha robótica, com água de mentira e comida enlatada.
Já na primeira semana, sem notícia do Corinthians, o Paulão está astronauticamente chateado.
A Terra lããããã longe, aparece de vez em quando no céu.
Não chove.
Não venta.
Não tem feira de domingo nem cerveja na praia.
O dinheiro pago pelo alemão não tá com ele, lógico, pois ali não existe banco nem valores agregados nem preços.
O dinheiro ficou na Terra, com a ex e o seu novo macho dominante.
Passam-se dias, meses, anos sem fazer a barba.
De repente, barulhos cósmicos.
É uma nova tripulação chegando...
Naves pousando categoricamente.
[o pouso eterno.

Delas, começam a sair pessoas que atraem a curiosidade dos antigos astroloucos terráqueo-marcianos.
Brancos, pretos, índios e americanos.
Os novos turistas pra sempre são de várias nações, sexos, religiões...
Mas entre eles, Paulão reconhece alguém sob o escafandro espacial.
É sua sogra, e ela não veio pra passear!

***

E se já houver marcianos lá, à espera dos novos habitantes?
Haverá disputa territorial.
Troca de casais, adultério, miscigenação.
Vai surgir um povo híbrido, que se dividirá em castas.
Uma nova pirâmide social, dominada pelo clero e pela monarquia.
Inventarão uma moeda de troca nova, o $olar!
Criarão bancos e mercados.
Em breve, ninguém mais precisará das antigas roupas e oxigênio da Terra.
Em várias gerações, os marciominídeos nem mais lembrarão da existência do planeta azul.
Vão achar que vieram do macaco-marciano.
Que veio do fogo.
Que veio do sol.
E, em pouco tempo, com Marte em ruínas, buscarão habitar um novo planeta vazio.
Saturno, talvez. Quem sabe Urano...
E terão uma leve sensação
[uma leve e certeira sensação

De já terem passado por isso em algum momento.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

ELE CRIA PASSARINHO


Ele cria passarinho
Da gaiola fez o ninho
E agora não sai de casa
Meio doente da asa
Meio–dia pega o sol
Ele já foi foi rouxinol
E cantava no telhado
Agora engaiolado
Num pequeno apartamento
Solitário sentimento
Repentina porta abria
E a Margarete saía
Noutra ida no mercado
Porque o pão tinha acabado
E o alpiste tá no fim
Uma gaiola é assim
Tão sem rima, tão sem graça
Não se queixa, o tempo passa
E ele cria passarinho...

A MÃE MAMÍFERA

A mãe mamífera
Mama mamãe mamífera
Muito mais mamara antes
Em outras tetas gigantes

A teta da vó é teta
Tão teta que a teta partida
[da bisa e da mãe da bisa
Mamantes mamosas idas

Agora esta teta clama
A bocaberta do bicho
Mamando o mimoso mimo

Da vida, leitosa, infinda.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

TALVEZ ALGUÉM


Eu vi uma mulher, incorporada por um espírito, chorar por uma vida que já passou...
Ela dizia que era homem, que lutara no Contestado, que queria sair de um buraco.
Outra chorava pela mãe, que a havia abandonado.
E aí a mãe apareceu, em outra médium, chorando pela filha...
Se deram mãos e se abraçaram, como num emocionante reencontro...
E eu fiquei pensando onde é que andavam

[e andam

essas almas desencarnadas?

***

Será que existe um lugar?
Uma casa, uma morada?
Onde descansa a pobre alma
Desencarnada?

Será que é sala de espera
Com sofás, revistas de fofoca
Será que tem ventilador,
Secretária e pipoca?

Um dia eu sei, vou pra lá
Vou chegar de madrugada
Uma mala, um bom livro e um violão
Será que dá pra levar coisas para o nada em vão?

***

O médium curador operou sem corte, fez reverências, girou e falou numa língua estranha...
E sanou um câncer de próstata...
Outro voltou com recado do pai, da dívida, da mulher traíra...
E eu pensei no que eu vou levar pro mundo dos espíritos...
O que, desta vida breve, irei chorar, buscar, procurar?
O que de fato eu levo desta minha passagem insanamente humana?
E
[talvez mais importante

trago eu dos outros corpos pelos quais morri?

***

Pra mim, não existe morte após a vida.
Todas as coisas estão relacionadas...
Carmas e darmas infindos, amores que vão e vêm
Talvez tenhamos essência...
Talvez sejamos ninguém...

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

TOMARA QUE CAIA

A rocha Kjeragbolten fica na Noruega a mil metros de altura...
Rochedo cai-não-cai...
E a galera
Como se querendo desabar ou desafiar sei-lá-o-quê!

Um dia a rocha cai
E aí vancê vai ver!

O AMOR E A LEGO

Eu vi o Jojô e o Pepê brincando com Lego e isso me fez refletir...

[na real, muitas coisas - e às vezes mínimas coisas - me fazem refletir, nesta mente altamente reflexiva, inclusive duas crianças brincando com Lego.

Mas, como dizia eu, os guris brincando com Lego me trouxeram uma reflexão sobre a humanidade e, muito mais importante

[para mim

sobre eu mesmo.

***

A Lego, que vem do dinamarquês leg godt (brincar bem), foi criada na década de 30 por Ole Kirk Christiansen, e ainda hoje é um sucesso mundial. Consiste em vários brinquedos divididos em partes desmontáveis, com as quais se criam castelos, carros, pistas e o diacho a 4.
Mas o que eu acho mais interessante são os bonecos que, embora feitos de partes diferentes, resultam em peças sempre semelhantes.

***

Eu lembrei dos alunos do Direito, que eu associava aos bonecos Lego, pois mudam cabelo e roupa mas são sempre iguais.

***

Mas não é só com os alunos do Direito que isso acontece...
Os Legos se repetem em vários clãs, várias tribos, onde seus elementos se identificam e se assemelham entre si, escolhendo vestimentas e cortes de cabelo similares para estarem, digamos assim, associados e reconhecerem-se no meio da multidão eclética e multifacetada.

***

No Carnaval o cara começou a usar chapéu Panamá.
Os góticos de preto.
Os maias com taidai.
Os jogadores de futebol, médicos, advogados...
Os biólogos, os rastas, os políticos e os vendedores.
Na verdade, são microssociedades dentro da mesma sociedade.
Uniformizam não só roupas, mas maquiagens e gírias.

[muitas gírias que formam pseudo-idiomas novos

E são facilmente identificados onde quer que passam.

***

Claro que este conceito Lego é limitador, pois a verdadeira essência do ser independe de sua aparência.
Eu mesmo já vesti gravata, taidai, pintei o cabelo de azul e fui da moda colona.
E hoje eu fico questionando o que minha vestimenta representa.
Quem me vê passar me encaixa também em alguma "tribo", mas eu, hoje, não sei de que tribo sou.
Então eu descobri que minha essência, embora limpa como a água do rio

[que suja e volta a limpar

minha essência também é mutável.
Eu já acreditei em tanta coisa que não acredito mais...
Já fui de tanta tribo extinta da face da minha mente...
Mas mesmo assim, ao olhar a meu redor, percebo pessoas diferentes, mas com alguma afinidade ou semelhança àquilo que acho que sou agora.
E reparei que fui injusto com os Legos do Direito.
Injusto, pois todo mundo é Lego.
E o que importa não é nem a aparência nem as crenças nem a essência do ser.
O que importa é dar fluxo ao amor, perfume insubstancial que une todos os seres.
O amor é o único bem que quanto mais a gente reparte, mais tem.
Diferente das peças do Lego, que quanto mais a gente reparte menos pode fazer.

***

Então ame com afã
Independente de seu clã!

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

MATEMATIC

O presente é igual à soma de todos os passados...

PELADEIRO

Ele era o rei da grande área
No campinho da Polícia Rodoviária!

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ETERNIDADE

Era uma vez um relógio perpétuo!

terça-feira, 30 de julho de 2013

NOME 168

Meme J.
Escritora americana com incontinência urinária.

LOBISOMEM DO SUCO


Essa noite eu sonhei com lobisomem e lembrei do Baixinho do Suco.
O Baixinho do Suco é um cara todo peludo... parece o Tony Ramos, mas é o Baixinho do Suco.
Ele tem cabelo nas costas, orelha e nariz, sem contar os braços e pernas cabeludas... a ilha perfeita pra piolhada...
Mas a cabeça é careca, vê se pode!
Agora, o mais bacana de tudo é que a mulher dele raspa a nuca dele
[e parte das costas

E aí ele fica com aquela meia-lua raspada na nuca que é pra não fundir a cuca, não dar cheiro ou sabe-se lá porque!!!

***

Então eu fiquei pensando, acordado, no tal do lobisomem.
Imaginei o lobisomem real, homem comum de dia, monstrengo de noite.
E poderia, inclusive, ser o Baixinho do Suco.
Que nas noites de lua cheia sai por aí à procura de um pescoço.
E acorda com a roupa rasgada e fios de seda no meio dos dentes!

***

Aí o lobisomem vai numa entrevista de emprego.
Como o patrão viajou e tá cheio de compromisso, ele
[em seus motivos patronais

marca a reunião pra noite.
Aí o homem-lobisomem-Baixinho do Suco, forte candidato à vaga, senta à sua frente.
Só que o papo rola, a entrevista demora, o Baixinho vai contando suas especialidades, o patrão vai mexendo no seu i-phone 8 e o relógio vai andando...
A cada volta do ponteiro, o Baixinho se coça...
Sente que em poucos minutos não será mais ele, pitoresco homem com pelo raspado na nuca, mas sim um bicho terrível, comedor de carcaças com bafo de açougue.
Só mais uma pergunta, e mais uma, e outra.
Até chegar o momento inevitável e insuportável do Baixinho virar um lobo.
E ele começa a gritar... a roupa a rasgar... a unha a crescer, assim como o pelo da nuca se repõe...
E o Baixinhosomem salta sobre o patrão de terno e o come, bem comido, como se fosse uma coxa de galinha.
O Baixinho fica sem o emprego e outra muda de roupa.
Volta a vender suco de dia, no estacionamento.
Com uma vaga lembrança de que comera alguém importante, um patrão com i-phone 8.
E, assim, relatando à sua mulher depiladora, ela se enche de orgulho...
Lhe faz um cafuné, passa sabonete nas costas e o depila novamente

[incansável e apaixonadamente...

Sem saber se tem sorte ou azar, privilégio ou pena...
E amarra seu Baixinho no quintal, até passar a lua cheia.

***

Mas na próxima reunião
O Baixinho já sabe de antemão
Vai confessar sua melhor profissão:
Lobisomem!