sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

MÁXIMA DO NÃO TEMPO

O atraso sempre chega no momento certo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

FONTES

Há vários senões na cama macia do senão, esperando pelo momento exato de sua manifestação, aguardando, nos mares da dúvida, a onda (in)certa... Como a palavra acaso, que existe para absolutamente nada, mas exige lugares em frases e ditados prontos... E este mesmo acaso, juntamente ao senão e ao quase, ao talvez e ao quiçá, ao quem sabe e ao se (ah... esse se...), que representam o rojão não explodido, a frase não dita, o dito não feito, que habitam o pretérito-mais-que-perfeito do universo subjuntivo, este mesmo acaso, portanto, e sua troupe, criam teias na memória, murcham as flores da esperança e secam as fontes da realidade.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

NENICH


Ele cantava odes a Augusto dos Anjos e esperava em vermes as repostas que buscava... Costumava reparar nas sombras das velas nas paredes brancas e dormia em lençóis amarrotados, na microcompanhia de ácaros e percevejos. As cortinas, fizera de singelos panos de cetim colorido, e buscava a água entre os laticínios que gelava na sua gorda e pobre geladeira branca.
Quando acendia a luz, olhava o quadro de Cristo na parede. E na busca de ascender à luz, olhava o quadro de Cristo na parede. Saciava a fome com massas brancas, e o intelecto alimentava a Baudelaire e Rimbaud, fazendo das letras um leito por onde deitavam os seus pensamentos.
Nos bolsos, pouquíssimas respostas lhe tangiam o dia, e fazia dos pratos, castiçais. Era um pouco tímido ao cercear as moças, mas sabia onde havia de chegar. Dizia coisas que lhe enchiam os ares e montava castelos com um baralho velho... De manhã cedo, jogava milho aos frangos, sem saber ser deles o complemento da troupe insólita... ciscava nos cantos, cantava no júbilo da aurora... era pouca coisa diferente dos que criticava, contudo neste espelho opaco já não lhe cabia o rosto...
Escrevia versos que tão poucos liam, e dizia coisas úteis para os seus... o mundo seguia, sempre em seu crescendo, enquanto ele ficava cada vez menor... Até que um dia, em seu pulsar constante, percebeu que era pouco mais que nada, e todas questões que antes levantava, eram prisioneiras de sua mente farta... as sombras, as luzes... a fome, os sons... é percebeu, num lapso de tempo entre os espaços, que todas as coisas é que dele dependiam. Reparou que o tempo, imediato instante, representava não o futuro e o passado, mas sim um branco e turvo lago de eternidade, onde era um grão que à deriva andava... Suspirou ao ver o seu reflexo na água suja da pia entupida, e pensou achar algum barbeiro novo...
Cerrou seu ópio, que por ser ocioso já lhe incomodava, e escreveu bilhetes pros amigos seus... Apagou a luz, num sopro de sonolento... não rezou nem refletiu... apenas mergulhou, na vasta escuridão que abastece a noite, a encontrar seu imo nas dimensões que não queria, pois o seu desejo era faca de dois gumes... e o seu partir era inevitável.

MÁXIMA DA PEDRA


O melhor lugar é onde se está...