quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

TABACARIA


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

HORA DE SER CRIANÇA


O cara tentou me ofender dizendo que eu pareço uma criança...

HORA DO VOO


Vai 2009
Ano louco
Gregorianamente incerto...

Mas um marco
Onde descobri
Minhas verdadeiras gaiolas...

21º GP MARANGUAPE


Sem sombra de dúvidas ele era um ás no volante.

O OUTRO LADO DO ESPELHO


Onde vai dar o outro lado do espelho?
Ilusória pedra, água plana
Mostra o que existe e que não vejo
Inclusive minha cara insossa
Meu grande nariz...

Abre a porta
Deixe entrar para além do tocável
A ilusão-real
Que é o que não parece
E que perece, se não estou...

Quebra-se o espelho
E em cada caco um pedaço da verdade
Uma cara de deus

Rasga-se o couro com teu cortante olho
E dentro da pele existe outro alguém
Um espelho de sangue
Uma alma além...

CLARA DIFERENÇA ENTRE O HOMEM E O SOL


O Sol, com certeza, acordará pela manhã...

UM RABISCO


Rabisco o dia, escrevo hoje o que pouco sei... A noite vira a página da vida e eu penso como posso ser melhor...
Se existe melhor, é algo que não toco. A felicidade é o agora pleno; é desejar o que se tem... e eu busco, como meta, realmente compreender isto...
Outro ano se passou... Fragmento a vida em anos, dias, natais... Ontem mesmo já não lembro e o amanhã, quem dirá onde estarei?
Sinto aromas... vejo cores... e isto me concede a clara percepção de que ainda existo. Mas existo onde? Em que dimensão? Serei eu apenas sonho de alguém que é meramente sonho também?

Que sonhemos! Enquanto durmo, o mundo pára.

CIDADEZINHA QUALQUER


Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond de Andrade

O VOSSO TANQUE, GENERAL, É UM CARRO FORTE

Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar

Bert Bretch

COMO A VIDA...


Um dia
sob o céu azul de Setembro
silenciosamente, debaixo de uma ameixeira,
envolvi-a
[à minha pálida amante]
em meus braços,
como num sonho belo,
encantador.
Acima de nós,
no lindo céu de verão
uma nuvem atravessou-me o olhar.
Branca, muito branca
alta, muito alta
leve, insustentavelmente leve.
Ao entardecer, olhei novamente. Desaparecera.
Simplesmente. Sem deixar qualquer vestígio.

Bert Bretch

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

TEOREMA DO TUNTI-TUNTI


A qualidade da música é sempre inversamente proporcional à qualidade do equipamento sonoro.

***

Eu nunca vi o som de um carro estourando um Chico Buarque ou um Djavan...

MONUMENTOS ESTRANHOS

Andei arrolando e enrolando, durante minha estada em Santa Rosa, a tera da caroça, alguns monumentos estranhos pelo mundo.

HOMENAGEM A CAIO PINTO

Caio Pinto foi um cara muito bacana, cheio de filhos. Parece-me que eram mais de 50 (os conhecidos) e que ele tornara-se símbolo de fertilidade masculina, embora a vizinhança o achasse símbolo de chifrudo masculino. O fato é que ergueram, em Pau Grande-MG, uma estátua para homenageá-lo.

O CHEIRA-CU

A estátua do Cheira-cu está localizada na praça central de Bundkor, cidade do Uzbesquistão, perto de Kosovo e longe do Peru. Ela homenageia um menino, de nome incerto, mas que era da família Rego, com toda certeza.

O HOMO-EMA

O homo-ema é a espécie a ser homenageada por este protótipo aí em cima. Será colocado na praça dos 3 Poderes, em Brasília, porque dizem que lá os colarinhos-brancos vivem escondendo a cara. Viva o Brasil!

O PEGA-PÉ

Homenagem às sogras da Bulgária, o Pega-pé simboliza a mania internacional da mãe dos cônjuges de bisbilhotar, periquitar e pipipizar na vida dos genros e noras do mundo.
Já mandei fazer uma cópia tamanho P pra dar pra Lena.

SAPATEIRO

Pra finalizar, essa aí é de Pelotas. Está sendo construída no Navegantes para homenagear o maior sapateiro do mundo, meu compadre Alexandre Mattos Meireles, vulgo Zapata.

sábado, 26 de dezembro de 2009

POTCHUA BABULENKA


A vida é como um filme: quando termina, se aplaude.
Quem fica na sala, há de compreender (e compreender é diferente de aceitar) que a grande brincadeira, muito rápida, por sinal, nunca termina: apenas recomeça em outra medida.
Te amamos vó. Prepara um pão com cebola aí no espaço que logo logo eu tô chegando...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

CAIXÃO DE LUXO

Belíssima prisão...
O cadáver dele deve estar confortavelmente podre.

FELICIDADE


Felicidade é desejar aquilo que já se tem.

O FRACASSO DA COP15


O capitalismo mostrou mais uma vez que é incapaz de resolver os
problemas que ameaçam a humanicdade. A maior reunião diplomática da
história, a 15ª Conferência do Clima (COP-15) terminou num retumbante
fracasso. Milhões de pessoas que dependiam de uma decisão importante
para enfrentar o aquecimento global foram abandonadas à sua própria
sorte. “A cidade de Copenhague foi palco de um crime, com os culpados
correndo para o aeroporto perseguidos pela vergonha”, resumiu um
ambientalista do Greenpeace.
A conferência, que reuniu quase 200 líderes mundiais durante duas
semanas, sequer fixou algum tipo de meta para diminuir as emissões dos
gases estufa, responsáveis pelo aquecimento global. O único documento
apresentado pela conferência – que não prevê metas obrigatórias de
redução de emissões de CO2 até 2020 – não terá o menor valor jurídico,
pois é apenas uma carta de intenções.
O acordo foi assinado apenas pelos chefes de estado da União Europeia,
Estados Unidos, China, Índia e África do Sul. O Brasil também assinou,
apesar de o presidente Lula ter dito horas antes que estava frustrado
com as negociações. Parte dos países africanos, além da Bolívia e da
Venezuela, não assinou o documento, num claro sinal de protesto.
Mas Copenhague não só fracassou no objetivo de estabelecer um acordo
mundial sobre o clima. Também significou um retrocesso mesmo diante
das tímidas ações já feitas para enfrentar o aquecimento, como o
Protocolo de Kyoto, o único acordo climático mundial com valor
jurídico.
Kyoto estabeleceu metas insuficientes para conter o aquecimento,
pedindo que países industrializados diminuam em 5,2% a quantidade de
gás carbônico jogada na atmosfera em relação aos índices medidos em
1990. Mas segundo os cientistas do Painel Intergovernamental de
Mudança do Clima (IPCC) é preciso reduzir a emissão dos gases estufa
pela metade. Mesmo estabelecendo compromissos rebaixados, os EUA se
recusaram a cumprir as metas de Kyoto. O simples fato de o
imperialismo não aderir às metas já tinha provocado a falência do
acordo. Agora, em Copenhague, uma pá de cal foi jogada sobre o que
restou do protocolo.

Pobres sofrerão mais

O imperialismo norte-americano é o principal responsável pela atual
catástrofe ambiental. Sozinhos despejam pelo menos 20% de todos os
gases estufa na atmosfera. Mas a transformação da China (segundo maior
poluidor mundial) numa plataforma de exportação imperialista aumenta
ainda mais a degradação ecológica.
Hoje já é possível perceber os efeitos das mudanças climáticas
causadas pelo aquecimento. Neste ano, eventos climáticos extremos
ocorreram na América do Sul, Ásia e Austrália. No Brasil, as enchentes
no Nordeste, que aconteceram entre março e maio, e as que ocorreram em
outubro e novembro em Santa Catarina podem ser consideradas anomalias,
bem como a seca que atingiu o sul do país e o norte da Argentina no
início do ano.
Mas os maiores desastres ocorreram onde vivem as parcelas mais pobres
da população mundial. De acordo com o IPCC, cerca de 250 milhões de
pessoas sofrerão com a falta de água na África, com uma redução de até
50% na produção agrícola em alguns países até 2020. O mesmo pode
ocorrer com regiões inteiras da Ásia, afetando mais de um bilhão de
pessoas.
Já na América Latina, a previsão aponta para a desertificação de
regiões mais secas, como a caatinga e o serrado. Cientistas também
avaliam que 40% da floresta amazônica poderá se transformar numa
região semiárida. Algo que terá profundas consequências no conjunto do
clima do planeta. O IPCC ainda diz que o nordeste do Brasil pode
perder 70% da recarga de seus aquíferos.
No entanto, há uma diferença nisso tudo. Apenas os países
imperialistas poderiam promover as profundas adaptações que a mudança
climática vai exigir. Podem, por exemplo, impedir que suas cidades
sejam devastadas pela elevação dos oceanos. Um exemplo é a Inglaterra.
Por muito tempo, Londres, que se encontra praticamente no nível do
mar, sofria inundações quando chuvas prolongadas ou o brusco
derretimento da neve coincidiam com marés altas, afetando o volume de
água do rio Tamisa, que corta a cidade. A solução foi a construção, em
1982, de um sistema de comportas para regular o fluxo das marés. Com a
ameaça de uma elevação do nível dos oceanos, estuda-se agora a
construção de um novo sistema para impedir qualquer ameaça de
inundação.
Mas os países semicoloniais não possuem recursos para tal adaptação,
uma vez que suas riquezas são espoliadas pelo imperialismo. É um
delírio achar que Bangladesh (ex-colônia britânica, um dos países mais
pobres do mundo afetado por constantes enchentes) possa construir um
sistema de comportas como o de Londres. Uma pequena elevação dos
oceanos pode ter consequências catastróficas para esse pequeno, mas
populoso país asiático.
Por outro lado, os países semicoloniais também enfrentam a degradação
ambiental provocada por multinacionais e grandes corporações. A
África, por exemplo, se tornou uma espécie de aterro sanitário do
imperialismo e das multinacionais. Lixo radioativo na Somália, derrama
de produtos tóxicos junto à Costa do Marfim, mais de 5 mil litros de
cloro abandonados nos Camarões são apenas alguns exemplos que tornam o
continente o destino de uma boa parte do lixo tóxico do mundo.

Falência do desenvolvimento sustentável

Copenhague também demonstrou a falácia do chamado desenvolvimento
sustentável. As propostas de desenvolvimento sustentável tentam
conciliar o que, na verdade, é impossível: crescimento econômico e
lucros dos capitalistas com preservação ambiental. Essa proposta
insere-se no marco da defesa de um capitalismo ecológico, com rosto
humano. Mas o capitalismo não pode superar a crise que provocou, pois
isso significaria impor limites aos lucros da burguesia.
No marco deste sistema predatório e de concorrência entre os
burgueses, é impossível que o capitalismo possa utilizar tecnologias
racionais e não poluentes, uma vez que sua adoção é infinitamente
menos rentável para os capitalistas. Qualquer proposta de cunho
reformista estará fadada ao fracasso, como se pode ver hoje com o
Protocolo de Kyoto.
Por outro lado, a sustentabilidad” – como tudo no capitalismo –
tornou-se mais uma forma de se ganhar muito dinheiro. Os chamados
créditos de carbono movimentam hoje US$ 120 bilhões e estão se
tornando numa oportunidade para especuladores ganharem muito dinheiro
enquanto o planeta agoniza.
O discurso da sustentabilidade também pode ser utilizado para preparar
grandes derrotas. No Brasil, a maior defensora da sustentabilidade é a
ex-ministra do Meio Ambiente
Marina Silva, pré-candidata à presidência da República pelo Partido
Verde. Sob o discurso da sustentabilidade, Marina aprovou leis que
permitem alugar as florestas públicas brasileiras para empresas
privadas e ONGs (Projeto de Gestão de Florestas Públicas para a
Produção Sustentável). Ou seja, a chamada sustentabilidade colocou
toda a nossa biodiversidade da Amazônia brasileira à mercê dos
empresários, inclusive os estrangeiros. Também foi sob seu ministério
que foi liberado o cultivo da soja transgênica, além das obras da
transposição do Rio São Francisco.
Copenhague é a demonstração cabal de que a lógica predatória e de
concorrência entre os burgueses impossibilita que o capitalismo crie
algum tipo de desenvolvimento sustentável, pois isso seria menos
rentável para os empresários. A bandeira ecológica insere-se na luta
pela superação completa do regime de exploração. Ou o capitalismo é
superado ou a humanidade seguirá para a barbárie e o ecocídio.


Jeferson Choma
da redação do Opinião Socialista

sábado, 19 de dezembro de 2009

PERCEBO ou VERSÃO ZEN DA TEORIA DA GOTA NA TESTA


Um jovem discípulo perguntou a um mestre zen
[dentre tantas outras perguntas metafísicas, filosóficas e existenciais

qual era o sentido da vida. Então o mestre respondeu: Eu não tenho nada a te esconder.
O discípulo não compreendeu momentaneamente aquele argumento, porém não insistiu e saiu para seus afazeres.
Dias depois, durante uma caminhada pelos jardins, mestre e aluno passaram por uma ramada de glicínias floridas.
Podes sentir este perfume? - inquiriu o sábio.
Sim, respondeu o jovem discípulo.
Então o mestre lhe falou: Estás vendo!? Eu não tenho nada a te esconder.

E o discípulo se iluminou.

UM DIA

A vida é mesmo
Um momento absorto
Se amanhece vivo
Se anoitece morto.

TODA COR


Toda cor surge de uma interação harmônica perfeita entre a luz e a retina. Cada matiz reparado é, na verdade, a perfeição exata e dinâmica de todas e cada tonalidade, que faz as primas e as secundárias e as terciárias etc... Assim, o que seria do verde se não fosse o azul e o amarelo? O que seria do branco, que é todas, se não fosse cada uma? Qual sentido teria o vazio do preto não fosse o cheio da palheta divina? E das cores, se não fosse o preto?

***

A mente pré-concebe: rosa é cor de mulher; preto é isso; branco é aquilo; verde é das matas... conceitos deveras restritos de um universo amplo, que existe por si só.
Na verdade, as cores existem para quem pode vê-las.

TEXTO GRIPADO

Atchim saúde obrigado de nada eu que agradeço disponha.

TAMBÉM FILHO


Quando vejo que tu queres colorir o céu
Teu sorriso de criança:
Giz-de-cêra da vida...

Quando chamas
Acende a chama da minha atenção
Canta as novas, diz bom-dia
Pra ti eu não tenho nome.

E vai, filho meu
Cresce... o mundo é tão pequeno
E eu respiro um horizonte
Tão legal...
Estar contigo é mesmo massa.

PSICOMUNDO


Quem domina a mente, domina o mundo.

CÚMULO DA IMPERTINÊNCIA

Pertinente mesmo é não ser impertinente.

JANELA DE TINTA


Escrevo
Como quem desocupa uma gaveta velha
Retiro as meias, pequenos bibelôs
Uma carta de amor...
Te mando flor
Te digo tudo, muito mais
Do que eu mesmo creio

Espeto a faca,
Corto a língua flácida da palavra
Boca-muralha, viaduto expresso pela mão

E no papel
Claro lugar onde desnudo fico
Construo ideais castelos
E espio o mundo
Por uma janela de tinta.

DODAVID

Feliz mesmo é o filho da Gisele, que a essa hora deve estar mamando.

FALÁCIAS ONOMATOPÉICAS


Ele chegou pisando forte BAMBAMBAM e tocou a campainha: PLING-PLÓN. Repentinamente, apareceu o gato do vizinho e MIAUUU. Aquele MIAUUU atraiu um doberman que RAURAURAU saiu em perseguição atrás do pobre moço, fazendo com que ele tropeçasse BAM num toco no chão e caísse sobre as latas de lixo BALALAM.
Foi então que o vizinho acordou, acendeu a luz, parou na janela e atirou três vezes com sua carabina: PAU. PAU. PAU. As balas passaram zunindo pelo ouvido do rapazote: ZIN, ZIN, ZIN, que se jogou no rio TCHUM-BUM e teve que fugir a nado para não ser encontrado.

MÁXIMA POBREZA

Eu conheci um cara tão pobre, mas tão pobre, que só tinha dinheiro.

A HISTÓRIA

A história é uma coisa muito ultrapassada.
A moda agora é o agora.

A LAS PUCHAS

A las puchas
A las puchas não: a La outra
A la outra não: a la misma
A La misma não: a las puchas.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

SARAMAGUÊS


Se Romeu tivesse os olhos de um falcão, provavelmente nunca teria se apaixonado por Julieta.

BONECA MATRIOSCA


Quantas faces dentro
Obsoletas pelas circunstâncias
Reservadas, como se não fossem
Auto-explicativos todos os teus atos

E tua boca santa
Entre o beijo e a ira
Dizia coisas, bem de dentro vinham
Como as tuas caras,
Anônimas e vorazes,
Que aparecem pouco entre os dias...

Mas quem de fato te conhece
Vê-te uma, vê-te todas
Pois o que és liga teu imo
A todas tuas aparências...
E era eu quem não te via
Entre os dedos que te modelavam...

PRIMITIVO ROSAURO


Ele achava que ninguém no mundo tinha o nome mais feio que o seu... Na real, sua mãe, quando o chamava pela rua, parecia sempre brava. Parecia... ela era uma mulher bacana, a dona Lorena, o nome de seu filho, Primitivo Rosauro, é que soava como um xingamento.
Os amigos, pequenas e cruéis crianças, zombavam de Rosauro pela feiúra do nome. Feiúra tão intensa que sujava a cara, fazendo com que aquele menino fracote, mas meiguinho, ficasse feio também. E isso foi pela vida afora, em todas as fases, aquele nome
[Primitivo Rosauro
foi, na verdade, uma condenação... uma prisão pertpétua.
***
Não arrumou namorada... não conseguia se apresentar em público... Não queria ver seu nome em nenhuma lista de universidade ou concurso federal... guardou a sete-chaves sua genialidade musical apenas para nunca ser famoso...
Ele não se olhava no espelho... não tinha fotos dos pais... não foi batizado, nunca se casou... não organizou eventos nem lançou negócio algum que pudesse revelá-lo, de alguma maneira, à sociedade que, mesmo quieta e inerte ao seu anonimato,
[o melhor dos anonimatos

o ameaçava pelo simples fato de existir.
***
E quando morreu, já velho, seu nome fora timbrado na lápide e o acompanhou pelos idos, enquanto existisse memória.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

MINHA CALÇA NOVA


A minha calça nova é tão bonita que eu não vou usá-la nunca.

ASSINTAGMÁTICA

Criou ela uma vontade de chorar
Que já não entendia mais palavras
Tudo o que era ordem se perdeu
Como se chovesse dentro,
Como se o ar a espreitasse...

Mas não foi fogo, não foi nada
Era o tempo construindo estrada
[uma infinda estrada
Que dava em lugar nenhum
E que não dava pra ninguém passar...

E enquanto há chuva na janela
Entendeu que o certo era passageiro
Como todas coisas que sua mente desenhava
E desejou ficar-se nu
No mar
Entre os portos.

TODA RELIGIÃO É MORTA

A fé não torna o indivíduo diferente do que ele realmente é, apenas mais cínico quanto ao mundo a seu redor. A religião é um artifício para enganar a vida e para aproximar o ego do indivíduo de um fator que ele denomina deus, ou “seu deus”.
O amor é a única religião: dele todas as coisas derivam e a ele todas retornam. Ele é a causa e o efeito da existência; a liberdade dos conceitos; a não-dogmática, pois cada pensamento restringe o todo, e cada restrição é uma forma de medo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

PEQUENA FÁBRICA DE ESTRELAS


Pequena fábrica de estrelas
Jogando luz no universo preto
Buscando a matéria-prima do que somos
Que a alma vai até o esqueleto...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O QUE SE QUER VER?


Infinito reflexo de espelhos
Aonde vão meus corpos em fuga?
Todas as coisas se ressaltam, multiplicam
A luminária ao chão...
A janela translúcida...

Quando sonho, não me vejo
Talvez até nem faça parte dos meus planos
Pois o que penso tem limites
E ao dormir, já não sei quem sou...

***

Acendeu uma vela na varanda
O vento, brando, permitiu-lhe a chama
E pela sombra clara, tilintante,
Desenho na brisa dançante
Rastro do mundo que saiu do escuro

Aquela luz já era boa
[embora pouca

O que, de fato, precisamos ver?

A BOCA DA FORMIGA


A formiga cabeçuda
Come o mundo em migalhas
Que tudo é pequeno para sua voraz boca
[incomensurável boca

Ainda bem que formigas não falam...

FLORES MORREM DE VERDADE


Morri
Faz 15 anos que não piso aqui
E o que restou, algumas fotos
Lembranças poucas...
Quem me conhecia, já esqueceu
E o que juntei coube numa caixa
As outras coisas, a elas pertenci.

***

Morri agora
Faz bem pouco
Aprendi aquilo que eu não sabia...
Cada vez que aprendo, morro àquilo que cria
Muitas mortes tive, tantas eu terei
Sem lágrimas, só flores
Pois flores sim, morrem de verdade.

A TROMBA E O RABO

Ele se achava estúpido
Olhando no retrovisor
Um espelho de ilusões
A começar por sua cara estranha...

Depois da cara,
Um mundo que não alcançava
Um tato distante,
Mera memória

O elefante tem mais tromba do que rabo
E ele, naquela gorda estrada,
Queria mais curvas...
Muitas mais...

ZZZZ

Como pode um mosquito fazer tanto barulho?

CM

A vida se mede em largura, não em comprimento.

PESSOA

Quem questiona as pessoas
Muito mais pessoa é...

domingo, 6 de dezembro de 2009

LIRA AO JOÃO


Cai a chuva lá de riba
Tamborilhando no chão
Eu canto, que o peito canta
Na lira do coração
Cantemos, que a vida passa
Como chuva de verão...

LEMBRANÇA À CRÍTICA


Meus cumprimentos a todos aqueles que, de um jeito ou de outro, não me ajudam pra nada!

MINHA MÃE ADOLESCEU


Minha mãe adolesceu. E adolesceu gravemente. O doutor disse que às vezes é normal, nesta faixa etária. Terceira idade é fogo, diz ela.
Reparei que vários amigos dela adolesceram também... E muitos estão adolescendo numa velocidade crônica. Dizem que visitas são bem-vindas, que proferir atenção faz bem para estes idosos que adolescem, mas eles não aceitam chá: gostam mesmo é de uma cervejinha gelada. O que fazer? Já trabalharam muito, deram muito gás na vida (e continuam dando, né mãe?)... agora, que entraram na terceira idade e adolesceram, vamos deixá-los fazer o que quiserem.
Podem sair... voltar de madrugada... dançar, agitar, viajar e muitos outros ar... Aproveitem, porque após adolescer nunca se sabe o dia de amanhã...

Se é que antes se saiba...

PAVLOVIANICE


Vejo minha face refletida no riacho... Aqueles olhos, que obeservam tudo e me transformam narrador do que entendo vida, agora brilham, numa transparência insípeda que, sobre as pedras e folhas se desenha.
O que tenho é pouco, é o próximo suspiro. É o ar imenso que preenche o tempo do mergulho, uma linha reta que separa o calor do corpo do gelo do mundo. E penetro a cara momentaneamente quieta, de olhos cerrados, e desapareço na quadridimensionalidade que absorve tudo.
O caminho do rio é leste, é baixo... E ando como ele: fazendo de conta que nada acaba...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

TEERÃ 43


A declaração oficial redigida pelos três líderes reunidos em Teerã parecia justificar tais esperanças. Stalin, Churchill e Roosevelt concordavam em que seus países deveriam manter a cooperação mútua tanto naqueles tempos de guerra quanto na construção da futura paz. Ressaltavam que era necessário "banir por muitas gerações o flagelo e o terror da guerra".
Depois da foto, os três reuniram-se a cerca de um farto manjar. Enquanto comiam, Stalin peidou. Churchill olhou rapidamente a Roosevelt, mas nem tão rapidamente que Stalin não notasse aquele olhar de reprimenda. Roosevelt enrubreceu.
Ali começava a Guerra Fria.

TUDO, TUDO


O amontoado de coisas que penso
Empilhadas no desajeito do dia
Lembra algum depósito de coisa antiga
Um lixo colorido, de uma cor opaca
Em um gris unido

E quando me liberto
[provisoriamente
De um pesado fardo que
Mesmo sem corpo
Soterra a mente, cola os pés e fecha os olhos
Sinto-me vazio
[um vazio constante

E desapareço
No insólito desejo
De ser tudo, tudo.

BOCA, PERIGO DA LÍNGUA


Acento circunflexo
Ú tremado
Ponto de interrogação
Próclise, palíndromo,
Advérbio e locução

Ele escreveu “Naõ Páre”
Numa porta de garagem
Num pneu, “Ultra Lavage”
E numa carta de amor
Ele disse “Vóuta logo”,
“Praser” e “Buquê de flo”.

sábado, 14 de novembro de 2009

TONINHO RAPADURA


O cara era boxeador desde os 3 anos de idade e, no mundo dos ringues, seu apelido era Toninho Rapadura. Isto porque era acostumado a arrancar dente dos velhos e derrubar os outros pelo "estômbigo", como ele dizia.
Costumava falar que onde sua mão batia, não nascia cabelo. Era o diacho chupando manga. Mas depois de perder aquela importante luta por uma importante confederação mundial em uma importante capital brasileira e acordar nos vestiários zonzo, querendo ir embora a pé, tudo mudou.
Agora ele esmurra o balcão do bar do Zé e pede, com seu vozeirão de 124kg:
Um copinho de leite, por favor...

O HOMEM FEIO E O HOMEM MAIS FEIO (à moda dos chineses)


Preso porque assutava as criancinhas o homem feio foi conduzido à Polícia. O delegado olhou-o e concordou que sua cara era, em verdade, um perigo público. Colocou-o na cadeia durante dois meses pelo crime de feiúra(1). Hong-Fung-King chorou muito atrás das grades, mas isso de nada adiantou. Insistia que não era feio por querer mas obra de condições ancestrais e metafísicas. Enquanto isso os dois meses se passaram. Solto, protestou. Gritou ao delegado que era vítima de uma exceção. Que com os outros não faziam o mesmo. Ponderou o delegado, com rara sabedoria(2), que o tratamento de exceção que lhe davam era devido ao fato de ele ser um feio excepcional. Hong-Fung-King disse que todos os feios da cidade deveriam ser submetidos à mesma penalidade.
- Mas nenhum chga a assustar criancinhas, como você, com o simples mostrar-se.
- Deve havê-los feios como eu. Não queira me fazer mais feio do que sou.
- Previno-o, filho, a que não busque encontar gente pior que você. será seu mal e sua morte. Você se decepcionará e viverá para sempre humilhado. Confie em mim: você é pavoroso.
- Pois bem, eu lhe trarei aqui pessoas mais feias do que eu, vivendo nesta mesma terra. Mas o senhor, como delegado, terá que condená-las, como fez a mim, por crime de espanto e atemorização.
- Não farei isso. Alguém mais feio que vocêmerece a morte. À vista. é um perigo público, um espavento, uma coisa de outro mundo. Se encontrar alguém mais feio, pode matá-lo onde encontar.
Hong-Fung-King partiu, então, munido de um revólver que o próprio delegado lhe emprestou(3), e disposto a liquidar quem fosse pior que ele em seus atributos físicos. Do decorrer dos dias tirou apenas o que o sábio delegado lhe dissera: uma humilhação cada vez maior. Reparando bem em seus traços fisionômicos, e comparando-os com a gente que encontrava , forçado lhe era concluir que ainda os mais feios não eram tanto quanto ele próprio. De modo que a sua mágoa crescia, seu ressentimento aumentava, sua dor o devorava. Até o dia em que, ao dobrar uma esquina, deu com algo de arrepiar os cabelos. Olhou bem e chegou a conclusão de que aquele era pior do que ele. Ergueu o revólver e disse para o homem aturdido:
- Vou matá-lo!
- Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? Por que? - interrogou o homem numa repetição enfadonha ditada pelo pavor.
- Porque tenho uma ordem: - explicou Hong-Fung-King - a de livrar a face da terra de qualquer homem que seja mais feio do que eu.O homem olhou-o aterrotizado e, juntando as mãos em atitude de oração, disse, os olhos esbugalhados:
- Eu sou mais feio do que o senhor? Sou mais feio? Então, por favor, pelo amor de Deus, me mate!(4)

MORAL: DAS CONDIÇÕES FÍSICAS TIRE-SE UMA ESPIRITUAL: NÃO ACUSEMOS NINGUÉM DE BURRO PORQUE ELE PODE SER DESSES QUE TÊM UMA RESPOSTA PRONTA E BRILHANTE E ENTÃO, QUEM SERÁ O BURRO?

1. Art. 248. Parágrafo 8, do Código Kaligeno.
2. Era um delegado Chinês, não esquecer.
3. Ironia.
4. A história, literalmente, termina aqui porque este é o ponto dela que interessa, mas em verdade, ela termina com a funda consciência de Hong-Fung-King em ser o homem mais feio sobre a face da terra. Se vivesse na era atual e em Hollywood, no mínimoganharia um Oscar. Não sendo assim destinou a si próprio a bala que reservara ao homem mais feio.

Retirado do livro "Fábulas Fabulosas" de Millôr Fernandes. (Recomendado)

FUTEBOL É FUTEBOL E VICE-VERSA


Eu estava vendo futebol na TV, quando me passou pela cabeça o fato de que tudo (ou quase tudo) está refém da modernidade, uma prisão inevitável dos adventos tecnológicos.
O cinema da Era digital, a cada hora que passa, insere em sua linguagem computação gráfica progressivamente impressionante, fazendo o mundo ruir, os dinossauros viverem, a visceralidade do sangue ferver, carros explodirem e outros tantos... A medicina usa cada vez mais artifícios eletrônicos em microcirurgias e estudos alopáticos. A comunicação rasgou qualquer possibilidade de distância e os formatos de mídia estão diminuindo de tamanho e aumentando de qualidade.
E ainda há todo o mundo de fatores onde a robótica, a cibernética e a ótica estão revolucionando a mente humana e enlouquecendo a vó Sofia.
Agora, no futebol não!
No futebol não adianta... nunca haverá esse papo de raio laser, de chip na bola, de controle cibernético. O máximo que o futebol permite é o fonezinho que conecta o juiz e os bandeirinhas. Só! E aqueles carrinhos de golfe que recolhem o jogador lesionado, mas aí a culpa é toda (e exclusiva) do golfe, que criou esta balbúrdia.
Malditos golfistas... Bom mesmo era o tempo da maca.

***
E teve um magro me dizendo que no futuro o juiz será um robô que nunca erra. E que haverá um controle óptico que liga as traves e indicará quando a bola passou pela linha, mudando a cor da redonda (eletronicamente chipada). Também vai haver um telão, onde o lance polêmico será repetido, possibilitando ao juiz rever o veredicto (se o juiz-robô perfeito demorar muito a ser inventado, claro). Ah... ele disse também que vai ter câmeras por tudo... até dentro da bola, no olho do jogador, câmera-mosca (que acompanha a jogada de pertinho, voando) e que os uniformes serão absurdamente tecnológicos, de pele de tubarão ou sei-lá-quê, e possibilitarão aos jogadores voar longas distâncias e fazer piruetas acrobáticas inexplicavelmente malucas.
Mas num futuro nem tão distante, o plano é que o futebol seja 100% virtual. Nem existirá mais essa mania antiquada das pessoas irem ao estádio, nada disso. Tudo virtual, em 5D. Os jogadores serão criados por ultraPCs e serão comercializados via internet. Cada jogo será roteirizado por quem pagar mais, claro, mas o lado bom é que nunca mais haverá um 0 x 0. Nem jogo morno, nem cai-cai. Só jogaço, com goleadas massacrantes e viradas heróicas aos 79 do segundo tempo, com 5 em campo.
E quanto às brigas de torcidas, serão marcadas por e-mail e acontecerão em lan houses, onde programas muito sofisticados simularão uma briga de rua e a torcida que perder terá seu login cancelado pelo servidor local. Vai sim...

***

Mas tudo muda na segunda divisão. Na segundona a grana é menor e os investimentos tecnológicos serão restritos. Só microfone de juiz. Será usada bola de couro e campo molhado, com gente (gente mesmo, ser humano de verdade) sentada em arquibancadas arcaicas de cimento, ao céu aberto (urghhh). Haverá suor, troca de camisa e aquelas idiotas comemorações de gol. Mas só praqueles conservadores que pararam no tempo, tipo colecionadores de vinil.

***

É o mundo... o mundo gira, e eu parado fico tonto.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Estar
É como mergulhar no mar
E ver
Como a um raio colorido na janela...
É bela
Só como ela
E nada mais...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

SOFRO MAS GOZO, A BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DO MARINHEIRO POPEYE


Trecho extraído de uma entrevista à revista FAMA, em janeiro de 1985.

FAMA: QUER DIZER ENTÃO LEMBRA BEM DO MARINHEIRO POPEYE?
Popeye? Claro, como é que eu não lembraria do marinheiro Popeye? Conheci Popeye em 1972, numa expedição pelo Ártico. Naquela época, ele ainda não era dependente. Tinha uma alimentação desregrada, lembro bem... só queria enlatados, mas nada de entorpecentes e álcool ainda...

FAMA: E ELE APARENTAVA SER UMA PESSOA NORMAL?
Ele era bonachão... gente boa mesmo. Lembro bem quando ele tomou o primeiro porre e fez xixi no armário... Bah... a Olívia ficou de cara... Mas ela ainda não tinha nada com o Brutus, ainda... O Brutus ela foi conhecer depois, em 1974... aí foi paixão à primeira vista, né!?

FAMA: E O POPEYE, COMO REAGIU?
Ah... o Popeye ficou de cara né? Quem não ficaria? Quando a Olívia foi morar com o Brutus, ele enlouqueceu... Bebia todo dia... Bequiardigava... Começou a usar drogas e a se deprimir... Ninguém tirava ele do quarto, um horror...

FAMA: VOCÊ NÃO CONSEGUIA AJUDÁ-LO?
Ajudar como? Ele tava loucão!

FAMA: MAS VOCÊ SEGUIU VISITANDO ELE, NÃO?
Segui sim... toda semana eu ia ver ele, mas aí sabe como é... ele começou a ficar violento... perigoso. Se infiltrou no meio das prostitutas e do tráfico... depois eu nem reconhecia mais ele.

FAMA: E QUANDO ELE MORREU?
Antes dele morrer ainda tirei uma foto. Ele tava mal. Ainda piorou, depois desse tempo todo, quando soube que a Olívia tinha engravidado. Aí foi a gota d´água...
(...)
Aí morreu, né!? O pessoal todo do Sindicato foi lá, prestou homenagem. Até o Brutus apareceu. Mas tudo bem, a vida continua...

SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS SUBSTANCIAIS ENTRE EU E UM MACACO


É impressionante como o tempo come os dias... Me bota ruga na cara, ideias na cabeça de toda humanidade... Vem verão, vai verão, e os pôres-do-sol nos distanciam cada vez mais de nosso cheiro de macaco... Mas ainda, nos subterfúgios do gene, nos esconderijos dupla-helicoidais de minha memória cósmica ainda restam alguns detalhes que me fazem, em momentos como ora, pensar o quão demasiado humano sou e me comporto...
Por isso, enumerei alguns pontos de semelhança entre o sapiens duda e o primata keiber.
1. Eu como banana de boca fechada.
2. Sei que a hanseníase é a doença mais antiga do mundo e que Cabral descobriu o Brasil antes de escrever loucolunas esportivas no Diário Popular. E sei, também, que não adianta nada saber disso.
3. Cato minhas próprias pulgas.
4. Posso votar e ser votado*.
5. Escolho o canal de TV*.
6. Tomo água tratada*.
7. Raciocino com mente analítica própria*.
8. Não durmo com macacas, isso não...

* Nestes pontos restam dúvidas sobre a vantagem de ser humano ou ser macaco.

A COR DE FUNDO DA ZEBRA


O grande mistério acerca da cor de fundo da zebra assolou uma discussão, ontem pela tarde, em frente a um café conhecidíssimo de Pelotas. Agenor e Pereirinha (nomes fictícios) debatiam sobre os argumentos do primeiro, de que a zebra é branca com faixas pretas, e os do segundo, que afirmava que a zebra era preta com as faixas brancas.
Tomaram café... folharam o jornal... e o tema proposto sempre de pé, a esperar, como esperavam os segundos do velho relógio.
Depois de alguns minutos, ambos restaram convencidos de suas expensas teorias sobre as cores da zebra e foram embora.

Longe dali... longe mesmo... as zebras seguiam (todas zebras, dos zoológicos às savanas africanas) suas rotinas zebrísticas, independente da questão...

MORAL DA HISTÓRIA: Papo de café nem sempre é o que é.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

P.

Aconteça o que acontecer, não o deixe fechar os olhos...

A PRIMEIRA LINHA DE UM CONTO QUE PODERIA TER NASCIDO

Achou a meia, mas não as suas fotos de Trento. Afinal, moravam ele e mais três naquele apartamento... e todas as coisas somem, como somem as horas...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O PARADOXO DO EXCESSO


Viver é bom!
Mas viver demais mata...

DIETÊMPTRICO


Sinto que todos nós
Entendemos poucas linhas,
[muito poucas

Fotografamos muito mais do que vemos fotografias
E falamos antes de aprender a ouvir...

E o mundo anda
Pela avenida do tempo
Fazendo o antes e o depois,
Tornando tudo correlato,
Condecorando as gerações...

Por isso o agora, base de cada segundo
Se amplifica, abre as asas, fica contínuo

O tempo engorda
Quando a mente emagrece.

SEM CORAÇÃO

De teus mil jeitos de dizer adeus
Ficou aquele olhar...
Eu ia pôr um disco para te mostrar,
E o que você me disse eu lembro
Já era hora...

De brincar, descer do teu cabelo
Ao céu da boca
E desenhar as letras do teu nome
Pelos cantos, poesias...

Uma caixa de retratos, um cartão-postal,
Anel, flores vermelhas,
Neruda e um batom, tá bom
Você diz que não tem mais nada
Coração, você não tem mais não...

TICTAC


Você me diz que horas são...
Eu não entendo essa mania louca
De saber as horas...

O dia passa,
A noite espera,
E as estrelas vêm chegando pra bisbilhotar...

A vida é boa
E viver, melhor ainda
Esqueça o tempo
Ele passará...

A DINÂMICA DO NÃO (ou COMO GERAR UM NUNCA)


Pra este ano eu não vou lançar um livro
Não tenho ideia de comprar sítio nenhum...
Não quero mesmo trocar de motocicleta
Nem me imagino estudando alemão...

Eu não desejo ir na feira de calçados
E nem pretendo colorir o meu portão
É certo que este ano eu não viro político
Nem vou pro curso de bailado de salão

E entre tantas outras coisas que não faço
Vou mapeando tudo o que ainda sou
Até que um dia eu canse, eu mude, eu me transforme
E o que eu pense vire nunca, vire não...