terça-feira, 28 de agosto de 2007

PERSONA

a ingmar bergmann



juntando os cacos do que sou no chão
milhões de rostos num espelho opaco
me diziam coisas que eu esquecia
de todas as faces do que fui um dia

sou muitos...
sou outros...
sou quem?

visto de perto sou igual a todos
visto de longe já não sou ninguém

sou pai, sou filho
sou um tal que foi
sou alguém que disse
um desses que fez

sou mil personagens
em um mesmo escopo
sou do tudo um pouco
procurando vez

[um ator que deixa seus papéis na estrada
esquece que sem eles
não lhe resta nada...

BOLA DE PAPEL

Umas horas vazias, centenas de páginas em branco... O som da chuva se misturava ao ruído dos automóveis que se cruzavam rumo ao nada, ao menos para mim. Em Pelotas sempre chove...
Pensava em pessoas que escrevem, eu. Pessoa, Quintana... outros, até colunistas de jornal, cada qual com suas letras. Comecei a rabiscar um pouco, como quem provoca as idéias. Mas não queria temas específicos nem poemas de amor; não queria escrever contos nem romances, tampouco artigos sobre a cosmologia... Queria escrever sobre o que sinto agora, neste exato momento, que é algo que não será igual amanhã nem nunca mais, pois a cada dia tenho algo a mais (ou a menos) em minha essência. Queria tirar um sentimento e jogá-lo escrito como quem arremessa uma bola de papel.
Sentei na escada, tateando os pensamentos. A folha branca, a tinta preta, as palavras escondidas... E neste silêncio, nesta busca de registrar o hoje do mundo das idéias, percebi um abismo entre eu e a frase feita.
Eu, sujeito. Idéia, predicado. Mas os verbos não saíam da caneta.
Resolvi deixar tudo como estava, simplesmente pairando sobre a lápide branca de celulose todas as hipóteses do que eu era. Sem fontes, gráficos, desenhos sequer... Nem eu sabia o que significava aquela melancolia e, em vez de pô-la no papel, deixei-a voar livremente por dentro de mim, seu habitat constante.
Encontrei num canto apenas uma frase do Duda Teixeira, acho que mais ou menos assim: "A memória é a forma mais gananciosa de apreensão".

Esqueça...

PELA MADRUGADA

E se fosse nada
Teu remoto encanto
Que num pranto desce
Pela madrugada
Tua voz vazia
Que outrora em canto
Sempre me dizia
Onde era estrada

E pensei que fosse
Quem tu mais querias
Mas eu não sabia
Pela madrugada
Que tua boca insana
Foi comigo fria
Porque já não tinhas
Que dizer mais nada.

SEM CANETA

Não perco tempo
Questionando as coisas
Mas perco coisas
Em questão de tempo

Se é frio ou calor
Que diferença faz?
Cedo ou tarde, nunca mais?
Para onde vamos, afinal?

Sei que este ônibus pode ser
O fim da minha linha
E que nesta noite pode até chover
Quase todas as coisas podem

[até mesmo ser...

Mas como viverei
Até o último minuto
[sem uma caneta?

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

PAPÉR DI BOBO

Aconteceu em Porto Mauá, divisa com Argentina, no RS. Minha tia Neli, bem gordinha, era casada com o tio Jenuíno, magricelo, num casal tipicamente rural. Lá, na propriedade deles, vivi episódios muito bons, que muito influenciaram no que sei sobre o respeito, a simplicidade, a humildade e a harmonia com a natureza. Depois que meu pai faleceu, pouco os tenho visto: na verdade, tenho ido pouco às minhas origens... Mas não sou mandioca pra ter raiz, então sigo os ventos.
Num fim de semana de sol, fomos com o Passatão 78 a mais um passeio a Porto Mauá. Eu era moleque, um pouco mais velho que meus primos Elia e Bano, filhos da tia Neli e que representavam a inocência encarnada. Eu fazia o papel do garoto do concreto, da cidade, do videogame Atari. Entre uma brincadeira e outra, o Elias chegou pra mim e disse:
Tu é muitu esperrrto, mais eu consigo adivinhá o qui tu faiz iscundido.
Como é que é Elias?
Ué sô! Tu pódi si iscondê atráis daquela árvre ali e fazê qualqué côsa: tirá meleca, coçá o saco, escrivinhá no chão... qualqué côsa que eu adivinho o qui cê tá fazeno.
Ah é? Duvidei essa!!! Quer dizer que eu me escondo e tu consegue adivinhar o que eu tô fazendo sem me ver? Duvidei!
Lá fui eu pra trás da árvore, sempre me certificando que nem ele ou o Bano conseguiam me ver. Me virei de costas até, tal receio. Catei um galho seco no chão e comecei a quebrá-lo, lentamente, bem no mocó.
Ô Chico Bento... Vamos ver se tu adivinhas o que é que eu tô fazendo então...
Craro qui sim... tu tá fazeno PAPÉR DI BOBO!

Que bom que não há êxodo às boas lembranças...

PELOTAS É HOJE!!!

Aqui em Pelotas, uma gama de sobrenomes falidos gosta de ressaltar a época das charqueadas, as oligarquias fantasmas, o que a Princesa foi... Acho a história um instrumento fantástico para sabermos quem somos e como chegamos a ser. Penso que um povo sem memória é um povo sem alma (acho até que alguém já disse isso, ou quase isso). Mas hoje, lendo um diário daqui, fiquei de cara! Por que não se fala dos saladeiros, onde escravos perdiam pés e pernas em infecções, quando não morriam... Por que ninguém lembra dos Capitães do mato, cargo público instituído a conhecedores de matas que perseguiam e matavam os negros quilombolas? Por que ninguém lembra do grande número de miseráveis que margeiam a cidade como sombras de um passado discriminatório e opressivo e apresentem propostas positivas de inclusão social em detrimento a presídios/lixeiras que se espalham ao longe? Poxa... tanta coisa pra falar da história e me vêm com igrejinha das charqueadas, com coluna social, com princesinha do Dunas???
Amo Pelotas... é minha cidade há uma década já. Curto as calçadas curtas, a galera esperta que rodeia a Federação Galláctica, a atmosfera cult e tantas outras coisas... Pelotas, na minha vida, foi um grande presente. Pena que na vida de tantos ela siga presa a um passado...

Mais que imperfeito...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

EM SANTA ROSA...

Nasci em Santa Rosa, RS, em 14/07/1979. Aliás, 14 de Julho era o nome da localidade antes de virar Santa Rosa. Um amigo me perguntou se era em minha homenagem... Eu disse: claro!!! Depois que ficaram sabendo que eu nasci, tiraram 14 de Julho.
Mas o certo é que em Santa Rosa (terra da Xuxa, dizem quase todos. E dos Keiber, digo eu), bom, sigo, em Santa Rosa não tem muita gente: mas de alemão tá assim óh... cheinha. E numa tarde quente, há uns 15 anos, o seu Franz estava capinando na horta com sua frau, a dona Sibila, quando passou um avião dando um rasante na propriedade. Os dois pararam as enxadas e olharam pro céu, por baixo das abas dos chapéus de palha.
O quequi é isso frau ali uma veiz?
A frau deu uma breve pensada e respondeu: Ignoro!
Mais que baaaaaaaita ignoro!!!

TRÊS EUS

Os cientistas Gunter Nimtz e Alfons Stahlhofen, da Universidade de Koblenz, na Alemanha, afirmam ter conseguido quebrar, pela primeira vez na história, a velocidade da luz (+ ou - 300km por segundo). Isto implicará, se verídico for, além de pôr em xeque a teoria eisteniana da Relatividade, em uma parada muito legal: se fosse possível transferir esta incomensurável ligeireza ao mundo fático e material, o Néverton da telentrega, por exemplo, chegaria na minha casa antes mesmo de sair de sua pizzaria. Isto mesmo... Eu, na praia, ligaria para o Néverton, encomendaria minhas portuguesas e 4 queijos e antes de dizer tchau Néverton ele já estaria buzinando no portão.
O lado ruim seriam aquelas visitas chatas... Você tá em casa? E antes de eu mentir que não lá estariam elas, que nem as Testemunhas de Jeová, barulhando na sineta.
Mas o mais louco de tudo seria o dia em que eu, em mais uma rápida fuga do trabalho, voltasse à minha mesa e desse de cara comigo mesmo, sentadinho da silva.
Ué? Tu ainda tá aqui?
Tô, mas já tô saindo.
Ôpa galera (chegou mais um eu, agorinha mesmo). E as novas?

Três eus já é demais...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O HOMEM FEIO E O HOMEM MAIS FEIO (Millôr Fernandes)

(...)PARADO! Vou te matar!
Me matar? Mas por que por que por que por que por que?
Por que tenho uma ordem do delegado de matar qualquer pessoa que seja mais feia do que eu.
Eu sou mais feio que você? Sou mais feio? Então por favor, pelamordedeus, ME MATA!!!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

NINGUÉM PRECISA DE DUPLA SENA

Era tarde. Era noite. Dirigia sua moto em direção à sua casa, na praia. Nos fones, Jorge Drexler cantava su...ave...mente, e do céu vinha o presente em água. Ao sair da paranóica metr(necr)ópole, não se sentira mais perseguido (se essa é a palavra correta, ou se há realmente palavras corretas para o que sentia). Até o capacete, restrição legal a seu (in)direito de morrer, já tirara, na anti-pressa comum às madrugadas. Apenas mais uma máscara de ferro...
Quando a moto parou, ainda chovia. Na frente do portão, algo parecia errado... mas não estava. Nada com o tempo... que o tempo nem existe, pensara. Nada com a chuva, que peixe era em Aquário e, quieto, sabia do bem de estar molhado (vivo!!!). E foi assim que entrara em casa, pisando manso nas notas do silêncio, sussurrando no sono dos outros, deixando o dia acabar...
Banho, café, cama, sono, beijo, bom-dia, tchau, boa-noite... A vida não é uma missa marcada... A vida é pra se respirar o pólem de cada instante.

RESPOSTAS ÓBVIAS A PERGUNTAS DESNECESSÁRIAS V

Qual é o teu fone?

- É um Nokia azul assim coisado, pequenininho...

RESPOSTAS ÓBVIAS A PERGUNTAS DESNECESSÁRIAS IV

Me passa o sal?

- Sim... Aonde?

RESPOSTAS ÓBVIAS A PERGUNTAS DESNECESSÁRIAS III

Tem alguém aí?

- Não!

RESPOSTAS ÓBVIAS A PERGUNTAS DESNECESSÁRIAS II

A surdez já lhe atrapalhou deveras?

- Ãh?

RESPOSTAS ÓBVIAS A PERGUNTAS DESNECESSÁRIAS

Você não tem vergonha de andar nu na floresta?

- Ugabuga!

MEDITAR

Meditar
Me editar no pensamento
Onde se deita o vazio
E onde os milênios aguardam
A aurora do som primordial
Sentados com mão no queixo

Não me queixo!
A vida é por si mesma...
E apenas me cobra a árdua tarefa
De respirar enquanto posso,
De contemplar as dimensões das dimensões

[com o tamanho dos meus olhos...

E receber a luz do sempre novo
Iluminando a escuridão
Daquilo que ainda não consigo ser.

ESTOU GRÁVIDA! V

Estou grávida, e então?

- Primeiro motel, depois pensão...

ESTOU GRÁVIDA! IV

Estou grávida! Vais assumir?

- Vou já sumir!!!

ESTOU GRÁVIDA! III

Estou grávida, o que digo pro meu pai?

- Diz que ele vai ser avô!

ESTOU GRÁVIDA! II

Estou grávida, o que faço agora?

- Vais parir!

ESTOU GRÁVIDA!

Estou grávida, e o filho é teu!

- Meu amor... me desculpa... Isto foi um ato fálico de minha parte.

COM O TEMPO PARADO

Gosto mesmo de ficar assim
Com todas as coisas
Acontecendo por mim

O pé na rede, o livro aberto
O mate,
O vento que bate
E traz você pra perto

Liga um som
Toca um Belchior
Com este tempo parado
Tudo parece melhor

Deita comigo num tapete de grama
Me enche de manias como você faz
É tão bom ouvir que você me ama
Viajar contigo por noites de paz

Mostra um dom
Com conchas do mar
Com este tempo parado
Eu deixo o mundo acabar.

POEMINHA DO TEMPO MORTO

Acho que acabo de descobrir por aquilo que esperava...




Esperava concluir




Que sempre espero demais.

BILHETES PRA NINGUÉM

Com Alexandre Mattos





Te dei amor, te dei coberta
De Neruda roubei a frase certa
Tentei voltar, recomeçar
Te pegar na mão, te levar pro altar
Incenso e flores pra te esperar
Promessa fiz a Iemanjá

Mas nada deu certo, eu tentei
O mar sabe o quanto chorei
Só eu sei o que caminhei
Só eu sei
Do mel e do fel já provei
Maré sabe o quanto esperei
Só eu sei o que caminhei
Só eu sei

Te fiz canções, desenhei teu kin
Te falei do tom que fostes pra mim
Tentei mostrar que era tudo azul
Eu era teu norte neste nosso soul
Busquei teu rosto pela noite inteira
Bilhetes pra ninguém na geladeira.

NO SINAL

No sinal
Olhando o céu no fim da rua
A invadir as árvores da praça
[e entre os prédios, rios de asfalto

Me senti estranhamente vivo
E que tudo de mim dependia
A arrancada, o destino, a chegada
A ida, a vinda, o tudo, o nada

O infinito era a forma
Eu, a essência

Mas e este medo?

Ah... Esta armadura de gelo...
Esta espada de vidro...
Esta solidão na metrópole...

Enquanto o dia trata de responder umas perguntas
Arrumo a casa dos meus pensamentos

[fora dela posso quase nada.

ONDA (Praia dos suspiros)

Era uma manhã fria
E meu espírito parecia a própria brisa
Acordando nos primeiros raios do Sol...

Eu pensava no que meu filho poderia esperar do mundo
E a maré fazia uma onda nova
[a cada novo segundo
Para bater sob meus pés na areia grossa

Quem nunca seguiu a lua cheia?

Somos todos onda
Da Praia dos suspiros.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

GLÓRIA DO DESPORTO...

Em pesquisa conjunta do Instituto Nacional dos Torcedores Fanáticos do Internacional de PoA (Intofi) e da Nação Colorada de Nova Bréscia (NCNB), foi divulgado o ranking dos 10 maiores colorados anônimos da história mundial, conforme lista que segue. Sei que haverá muitos gremistas questionando a veracidade das informações, mas não sou eu quem está dizendo. É fato! E essa séria pesquisa deve estar registrada em algum lugar, só não sei onde. Mas não vou ficar aqui me defendendo nem enrolando você, caríssimo leitor. Se quiser, siga sua leitura sem me questionar ou então feche esta janela e vá dormir sem encher, pois este blog é meu e se quiser faça um só para você.
10º Lugar: Ernesto Che Guevara - nascido na Argentina, mas torcedor fanático colorado. Dizem que a cor vermelha que o influenciou e registrou sua passagem por este mundo não tem nada a ver com a alusão ao socialismo: era amor puro ao Sport Clube Internacional.
9º Lugar: Martin Luther King - antes da carreira de ativista, Luther King fizera teste no Inter em 1926. Era ponta-direita e foi banco na conquista do primeiro título gaúcho, em 1927. Ninguém se lembra porque ele usava o nome de Martin, era reserva e foi mandado embora em 1928... Diziam no Beira-Rio que o tal do Martin era ruim de bola.
8º Lugar: Paulo Santana - uma vidente escreveu que o fanatismo pelo Grêmio é puro charme. Parece até que há uma carta post mortem escondida, a ser revelada somente após seu óbito, óbvio, e que revela seu amor doentio pelo clube vermelho do Guaíba.
7º Lugar: Nelson Mandela - Candidato à presidência do Inter em 1960, o nosso colorado Nelsinho Sacizito foi preso e exilado por causa de uns gremistas que inventaram o tal de apartheid.
6º Lugar: Bill Gates - sócio em dia colorado, Gates bolou um programa de computador que nominou OInter. Depois, corporativistas da Microsoft, desgostosos (com certeza vinculados ao Grêmio e ao Juventude) sugeriram e aprovaram em conselho a mudança do nome do programa para o atual Windows, que você bem conhece.
5º Lugar: Elvis Presley - compôs Love me tender em homenagem ao Inter. Depois, foi a inspiração do cabelo de um dos maiores ídolos colorados: don Elias Figueroa.
4º Lugar: Marilyn Monroe - fontes seguras revelaram que Marlyn possuía uma coleção de calcinhas com o distintivo do maior clube gaúcho e brasileiro. Mais... parece que em uma viagem ao Rio Grande do Sul, Marilyn teve um caso com Paulo Roberto Falcão, no tempo em que ele ainda tinha cabelo (muito tempo atrás).
3º Lugar: Getúlio Vargas - colorado doente, dizem que seu suicídio fora motivado pela derrota (zebra, claro) da máquina do Inter de 1954 para o mistão do Grêmio na decisão daquele Gauchão.
2º Lugar: Aparício Fortunatto - esse aí eu nem sei quem foi, mas se dizem que foi o 2º maior colorado de todos os tempos, eu o respeito. Grande Aparício...
1º Lugar: Jesus Cristo - ah... vai dizer que você não sabia? Tá duvidando de Jesus, caraca? Vai pra casa rezar, seu pecador. Jesus era ligadíssimo... e mais: tinha informações quentíssimas diretamente da raiz divina. Ele amava o Inter muito antes do Inter aparecer. Leia a Bíblia que acharás muitas metáforas sobre este amor platônico Jesus-Sport Clube Internacional. Leia! Não sou eu quem vai te dar tudo mastigadinho, seu preguiçoso.

E era isso. Tá nos anais da história do futebol. Deve até estar no site da Fifa, já. E só não falo mais porque esta postagem tá mais comprida que xingada de gago.

CONFIANÇA É UMA COISA...

Alguém aí lembra do Neilor? É, o baixinho cego. Pois é... o Neilor aprontava cada uma. Ele dizia: "A vida passou e eu nem vi". Um quadrinho, ele. E tem uma história dele querendo atravessar a Farrapos, em Porto Alegre, trimovimentada, cheia de barulhos e fumaça dos veículos, que se aproximavam e distanciavam só no som dos motores e das buzinas. E o Neilor ali, quietinho no meio-fio, esperando, no mais profundo escuro de sua não-visão, alguém que lhe ajudasse a atravessar a avenida.
Depois de alguns breves minutos, o Neilor sentiu alguém o tateando e o segurando no braço.
Vamos atravessar?
Vamos!
E puseram-se ambos, unidirecionalmente, a cruzar a avenida Farrapos. Do outro lado, o Neilor virou pro gentil acompanhante e falou:
Muito obrigado!
Obrigado pelo quê?
Ué pelo quê? Me ajudaste a atravessar a avenida movimentada... Hoje em dia ninguém ajuda mais um cego a atravessar uma ruela sequer.
Cego? Como assim? Vai me dizer que você também é cego?

Os dois ceguetas atravasseram agarradinhos a Farrapos no poder da confiança...

Essa eu só acredito vendo!

domingo, 12 de agosto de 2007

JOTAÔÁCOMTILÔ

Nome?, perguntou a enfermeira. Eu falei, confesso, com um pouco de sotaque: João.
Jota ú..., disse ela, preenchendo a ficha.
Ô...
Como?
Ô! É com Ô.
Jota ú ô...
Não não. Jota ô...
Como? Me soletra devagar.
Jota ô á, com acentozinho til, e ô de novo.
Jota ô... repetia ela, desenhando no papel. João?
Isso, João! João de João, João!

Pensei nos tempos modernos...
O que fizemos com os nossos nomes?

QUEQUIQUÉ? VII

Com lanterna de cabeça...

QUEQUIQUÉ? VI

Correr de tamanco...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

MAYCON

Não sei porque eu encuco com o nome Maycon. Sei lá... Se eu fecho os olhos, penso numa bichinha com gel no cabelo.
Aqui em Pelotas, dizem as más línguas, rolou uma ceninha...
Ô seu Maycon... O senhor quer mesmo se casar com a minha filha Joana?
Sim, quero muito.
Então o senhor deve saber que minha filha gosta mesmo é de pau grosso e duro?
Mas e quem não gosta????

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

QUEQUIQUÉ? V

Com cofrinho de moeda...

QUEQUIQUÉ? IV

Com avião da TAM...

QUEQUIQUÉ? III

Perfumando égua...

QUEQUIQUÉ? II

Com mundo da moda...

QUEQUIQUÉ?

Batizar cavalo...

PROSA PA DOIS

Si tu quisé i vai
ma si fô i memo
vai agora
i num vóuta mais

Si falá pos otro qui mi dexô
qui fugiu di casa i qui mi imprenhô
vô falá pro Zeca ti dá uma surra
i tu intão vai vê qui eu num sô tão burra

Vô ti processá, mandá ti prendê
vô ti arrebentá qui é patu aprendê
vô falá na vila qui tu é marginau
qui bati em mulé i é pernadipau

Vô ispaliá no bar que tu baba a fronha
qui comi mingau e fuma maconha
qui tu usa cuecão nus dia friu di inverno
pra ti maltratá eu vô até u inferno

Mas si quisé voutá pro nosso puxado
preparo agora memo um café passado
si tu chegá tardi causa do sambão
num comi pastel puqui já fiz fejão

I vê si mi discurpa pelas grosseria
já lavei a ropa como tu queria
vem dizê dinovo qui sô tua princesa
i podi botá as bóta sobri a mesa

Sabi qui sem tu, meu nego, tudo é nada
disliga o radinho que já tô cansada
me perdoa memo, to ficando loca
bem qui eu divia tê calado a boca

Já falei pra Cráudia que tu é bom sujeito
é trabalhadô i mi trata com jeito
mas sobri aquilo que tu mi batia
da próxima veiz é na delegacia.

SEGREDO DE POETA

Não conto,
não conto
e ponto.

SOBRE A AMNÉSIA

Poxa, minha guria...
Esqueci o que escreveria...

O ECO

O eco
murmura pras paredes
segredos só nossos...

DO TREM

Triste sina do trem...
vai trilhando seu destino
para os braços de ninguém.

TRRRIM

Pescador morrinha...
atende o celular
e perde o peixe na linha.

SE TODA POESIA...

que no coração havia o vento levou...
E o que se chama amor, como pétalas no chão, a perder a cor...
Mas o Sol todo dia (só pra quem sabe olhar) ilumina e aquece
Sim...

Lindas frases tristes, como todas as outras
Ficam sobre o muro do coração
À espera de algo que as chame pra fora.

PINGS PINGS

Sempre chove na hora de ir embora...

JANTANDO NA ZONA

Ô garçom!!! Garçom!!! Ô!!! Ei, pxxxx!!! Aqui... gentileza, garçom... traz uma Coca que as gurias aqui tão tudo com sede, fafavor.
É família?
Não não... tudo puta mesmo.

CAFEZINHO NO AQUÁRIO

Poxa... quanto tempo, Pedro Paulo?!? Artur!!! Pô moçada... como vocês tão? Faz o quê? Uns nove, dez anos? Que legal... E as novas rapaziada? O que contam?
Nada!!!
Nada demais... Tamo aí...
Eu to na empresa do papai... Me formei em Direito e fui viajar pela Europa. Passei 3 anos nos States aprendendo inglês e investindo na bolsa...
Hum... bom pra você...
Que bom... Papai vai bem?
Bem... Po rapaziada... Vamos tomar um café? Eu pago... Mas que legal encontrar vocês. Cês lembram da gente moleque, correndo por tudo? Aprontando... hehehe Lembram? A gente era umas feras mesmo... hehehe... Cês lembram que a gente ficava até tarde na rua, um comendo o outro... todo mundo se piçando, todo mundo comendo, todo mundo dando pra todo mundo... hehehe
Eu nunca dei em toda minha vida... Que isso? Pelamordedeus...
Como não Pedro Paulo... A gente se comia direto... um dava pro outro... vai dizer que não lembra?
Nunca dei!
Mas quê? E tu, Artur... Vais dizer agora também que nunca deu? Não lembra... Todo mundo dava e comia... todo mundo...
Nunca dei! Eu, euzinho, nunca dei. Juro pela minha mãe no céu.
ENTÃO EU TAMBÉM NUNCA DEI, PORRA!!!