quinta-feira, 26 de maio de 2011

RENDENIZASSONHO


Andando pela noite, vi uns operários de macacão com aquelas faixas reflexivas neon... Dezenas, em perspectiva, formavam traços desconexos e desencontrados e eu pensei brevemente estar sonhando... pensei no quanto o sonho pode ser realidade... e eu viajo um monte enquanto durmo, recebo muita informação. Eu recebi, por exemplo, as seis dezenas da mega-sena... tenho elas aqui, anotadinhas comigo. Ainda não saíram assim, as seis juntinhas num jogo só, mas hão de sair um dia.
Eu também conheci Baudelaire num sonho... Já fiz poemas inteirinhos. Minha rendenização noturna brinca com fatos subliminares, com fragmentos da minha consciência... forma um mundo imenso e insensato, amplo e vago... frases soltas... conclusões sutis.

[O mundo dos sonhos é onde não nos vemos... é onde a mente anda sem molduras.

***

Eu pedi pro nome do meu livro vir num sonho. Ao dormir, me veio a face da minha vó Sofia, falecida num dezembro desses. Lembrei da canção polonesa que ela me ensinou, Potcha Babulenka... ainda não sei se é assim que escreve, mas é assim que se fala. E eu nem sei se a cantiga que restara daquele longinquo ensinamento ainda é em polonês, ou se eu crio fonemas quando canto... enuvecidos... como imagens num sonho maluco.

***

Potcha Babulenka!

***

Eu quero dizer que eu me lembro da minha infância como se fosse um sonho. E ela me trouxe até aqui, a minha infância. Mas ficou um pouco longe... cada vez mais longe. Depois, um zilhão de coisas aconteceram... tantas pessoas, lugares... eu já desejei coisas diferentes... já empunhei outras verdades... e hoje não sei se eu mudo a todo instante ou se esse mundo gira muito rápido sob nossos pés.
É que eu sou outro a cada dia.
E amanhã, ao fechar a última página, irei querer que tudo tivesse sido diferente.
Compensarei os sês.
E tentarei perceber o quanto restou de mim, comigo.
E o quanto de mim o tempo levou consigo.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

AL ARABI


O arabesco amigo meu
Pulou do 9º andar
Je ne finne, ces't finne
E caindo devagar
Ainda pôde gritar
Homus tahiiiiiine!!!

O POR DO INFINITO


A noite cai
O sol explode pela linha do horizonte e vai
Colorindo os oceanos de repente...

Brilhando estrelas pelo espelho do mar
O feixe mostra a poeira pelo ar
Noutra janela mais um novo alvorecer

E quando eu vejo
A luz na porta me chamando para o dia
Mais uma volta do planeta pelo céu

A vida vai ao léu, andando na rotina
Fazendo jus a minha sina que, por sinal
Também tem pôres ao derradeiro final...

E assim se vai
O sol nascendo e se pondo pelo chão
Fazendo sombras entre o sim e o não
Tornando tudo brevemente perecível...

A noite mostra como vive o universo
E o infinito vai findando pelas horas...
Só, sem pressa, indivisível.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

OS NOMES


Nome é um meta-substantivo que explica, em sua etimologia, o seu próprio conceito.
Em outras palavras, o nome é mais pra nós do que pras coisas.
Sim, porque um copo viviria eternamente contente se não tivesse essa alcunha, copo.
Ele e todos objetos, coisas e animais.
Agora, se o homem não tivesse nome, imagine o caos que seria.

***

Filho 1 e filho 2.

***

E com esta mania de nominar as coisas, o homem já deu nome pra tudo.
Claro, pois a primeira coisa que o homem criou depois da escrita, foram os nomes.
Então o cara entrou na caverna e viu uma bela pintura rupestre, virou pro neandertal e disse:
O que é isso, véio?
Isto são hieróglifos criados por mim, Juarez Neandertal, e assim acabo de criar uma linguagem, que a partir de então chamarei de neandertalês.

***

Será que existe alguma coisa no planeta que não tenha nome?

***

Aí o Vicente me veio com um lista de nomes de seus amigos uruguaios e eu descobri que eles, os uruguaios, tem mania de botar nome estranho nas crianças. Eu, ao lê-los, não imagino seres humanos, mas sim, extravagantes produtos do mercado (mercado uruguaio, claro, Rivera, por ali).

Jesús Ramón Gallo: saboroso azeite de oliva com propriedades medicinais e espirituais.

Nelsa Pineda: conhecidíssimo perfume uruguaio com leve aroma de pinus e vidro sexuado em forma fálica.

Maricel Monzón: novo telefone da Nokia, tipo o tablet do Alexandre, sensível ao toque das mãos grandes.

Ninosca Etcheverria: veneno pra mosquitos e varejeiras granulado. Agora também em tiras de parede.

***

Eu conheci um uruguaio, o pai do Krister, que se chamava Primitivo Rosauro, e concluí que este deve ser o nome mais antigo do mundo!

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E o pai do Alencar é o tio Nego. Mas o nome verdadeiro dele é Florivaldo Robalo.
Só que um dia ele se candidatou a deputado estadual no Mato Grosso e, claro, não se elegeu.
Também pudera: na campanha ele usava o seguinte jargão:

Como deputado, vo_te Robalo.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

ABUNDÂNCIA NO MUNDO


Essa semana começou tumultuada pelo fato do gerente-executivo do FMI, Dominique Strauss-Kahn, assediar uma servente de hotel em NY e acabar no chilindró.
Eu, que desconfio de tudo, vejo que se o fato não tivesse substrato político, certamente o Kahn-Kahn não iria estar preso.
A questão agora é: qual o interesse de seus inimigos políticos e qual a postura do FMI frente à crise econômica mundial após a saída do taradinho. E mais: a quem (ou a quê) ele estava atrapalhando?

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Políticas à parte, estão dizendo por aí que a cada hora que passa os problemas do Dominique abundam.

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Isto tudo me fez reencontrar a teoria que diz que atrás de todo grande homem existe uma bunda.
Castelos e reinos já ruíram.
Casamentos e sociedades terminaram.
Homens (milhares deles) morreram.
Mulheres pelo mundo todo agarraram com veemência os cabelos das adversárias.
Atletas e professores perderam o foco profissional.
Enfim... a grande maioria dos problemas do mundo estão relacionados com a interferência de uma bunda no cotidiano humano.

***

Eu penso que em todas as culturas do mundo, ocidentais, orientais, africanas e indígenas, a bunda tem um destaque histórico.
Que povo não atenta às bundas?
Mais que uma almofada anexa, mais que um lugar de castigo, mais que um muro ao redor da área de saneamento e diversão, a bunda deveria ser declarada como patrimônio da humanidade a ponto de que pra se mexer numa bunda, deveria haver autorização expressa do Ministério da Cultura.
Ainda mais se essa bunda fosse alheia.
Autorização do Ministério e boleto bancário com código de barras: pagou, pode mexer.

***

Às plásticas de bunda e implantação de silicone, projeto específico do IPHan, com comprovação de celulite e anexos (com fotos) que demonstrassem o futuro melhoramento da bunda.

***

Aí a bunda passa pela calçada.
O homem disfarça, mas olha.
Mais que automático, é neurolinguístico e genético.
A esposa percebe o olhar maroto do cônjuge.
Aperta sua mão.
Vira a boca.
Fica brava.
Ele, automaticamente, puxa do bolso um habeas corpus.
Uma autorização com carimbo oficial.
Ele prova que tem direito de olhar, afinal de contas, as bundas não pertencem a ninguém e, ao mesmo tempo, são de toda a humanidade.
A bunda é do mundo.
Sem ela, a espécie humana estaria fadada ao desaparecimento.
E o Strauss-Kahn estaria despachando confortavelmente do seu escritório na França.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

NENA


Eu traço objetivos.
Eu faço planos.
Eu viajo na maionese.
Eu ganho grana.
Eu perco grana.
Eu fico fulo um dia, feliz no outro.
Eu faço cagada.
Eu chego tarde.
Eu deixo muito a desejar.
Mas independente de onde eu esteja.
E independente de como seja.
Quando eu olho ao lado, ela sempre está lá... sorrindo... mostrando a força e a fé que tem.
Positivando.
Simplesmente estando.
Como a verdadeira parceria.
E eu, que ainda amo todos os que sempre amei, por ela sinto um algo mais.
Uma mescla de gratidão, confiança e carinho.
Um amor supraamoroso.
Mais que por mim mesmo, até.
Estar contigo, Nena, é sempre primavera.

domingo, 15 de maio de 2011

TEORIAS CONSPIRATÓRIAS


Com a morte do Bin Laden eu vi a poeira das teorias conspiratórias levantar.
E como numa roda de piada, um conto leva a outro e me lembrei que as pessoas tem mania de achar que sabem de fatos que o resto da humanidade nunca saberá.

***

Eu mesmo sei de várias coisas que a humanidade nem desconfia...
E ainda bem, pra boa preservação de nossa ética e costumes.

***

Eu sei, por exemplo, que o homem nunca chegou na Lua. Foi tudo uma invenção cinematográfica, em plena Guerra Fria, dirigida pelo Stanley Kubrick e um bando de pateta acreditou. Por que então, 52 anos depois ddaquele fatídico pouso, nenhuma missão tripulada voltou pra lá? Por quê? Por quê?

***

Sei também que o Hitler só tinha um testículo, pois perdera o outro na primeira Guerra, onde era apenas um cabo do exército alemão, e o corpo encontrado cremado (junto a Eva Braun, ao término da segunda Guerra) tinha o saco completinho. Alguém pode explicar? Eu tenho informações de que Hitler fugiu pra Bagé e virou pipoqueiro na rodoviária.
E os netos dele andam por lá, hitlerando. Eu já mandei o nome deles pra Interpol, mas ainda não obtive nenhuma resposta.

***

E os ovnis então? Ah... caro amigo cidadão comum, eu sei tudo sobre os ovnis.
Os ovnis não viajam no espaço: viajam no tempo!
E é por isso que eles, no futuro, já estão aqui.
E estão até no nosso passado também.
Mandei por um uma carta pra vó Sofia, endereçada a 1935. Pra ela cuidar e não se ajoelhar na agulha, como fez remotamente.
E eu até pegaria uma carona com um ovni pra dar um pulinho na semana que vem e anotar os números da mega-sena.
Se eu não soubesse que a mega-sena é uma mentira fajuta já comprada por uma máfia envolvendo empresários goianos e uma rede internacional de tráfico de tetas pretas.

***

E tem mais.
Acabei de ver o Bin Laden de moto, sem capacete, passando numa blitz em Pelotas.
O que será que isso significa?

quarta-feira, 11 de maio de 2011

UM CONTO SOBRE CONCEITOS VAZIOS


Na reformulação administrativa da zona do meritrício, o seu João, porteiro, que trabalhava no local há 20 anos, fora demitido.
O motivo: era analfabeto.
E um analfabeto não pode fazer o controle anotado nem uma planilha do excel.
Rua!
Como nunca tivera outra profissão na vida, seu João ficou um tempo de bangu, como dizem no paralelo 30.
Mas certa dia, enquanto consertava a cerca de casa, um dos seus vizinhos solicitou o martelo emprestado.
Após usá-lo, pediu a aquisição da ferramente, tendo visto que a ferragem mais próxima ficava a 2 horas dali.
E passou então na cabeça do seu João fazer um estoque de ferramentas pra vender pros vizinhos.
O estoque cresceu.
As vendas aumentaram.
Seu João montou uma pequena ferragem.
Seu João montou uma mediana ferragem.
Seu João montou uma megaferragem, a maior da região.
Ganhou dinheiro e prestígio social.
Até o ponto de ser homenageado pelo executivo local como Personalidade do Ano.
O prefeito, ao diplomá-lo, pediu que o seu João assinasse o recibo do prêmio.
Seu prefeito, tem um poblominha. Eu sô analfabeti, não sei assinalá.
Seu João!? Que interessante! O senhor analfabeto chegou onde chegou! Já imaginou se soubesse ler e escrever, aonde o senhor estaria?
De porteiro da zona.

MORAL DA HISTÓRIA: Todo conceito é vazio.

FREUD EXPLICA


Sigmund Schlomo Freud, kin 238, foi um médico austríaco fundador da psicanálise, criador da hipnose como método terapêutico, bem como outras inovaçãos psicoterápicas, como o advento do uso da cocaína como estimulante e antidepressivo e da interpretação dos sonhos como contingente analítico do inconsiente reprimido humano.
Ah... além disso ele dividiu o inconsiente sapiens em id, ego e superego e foi o grande responsável pela criação do jargão popular: Nem Freud explica!

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Superfreud!

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Freud desenvolveu tese acerca do Complexo de Édipo e concluiu que toda sexuística humana é, no fundo, um amadurecimento da libido em relação ao desenvolvimento natural das etapas psicosexuais, ou seja, o humano nasce poliformicamente perverso, tira prazer da chupeta (fase oral), depois do controle do esfíncter (fase anal), depois dos próprios órgãos genitais (fase fálica), tendo aí a identificação de sua sexualidade de modo reverso, relacionada com seu próprio ego.
A partir de então, a psicosexualidade se dirige ao sexo oposto e o guri passa a amar a mãe e odiar o pai, até que age o superego, que chega chegando, dá uma pressão no id e no ego (tipo, que papo é esse de amar a mãe?) e o elemento passa a se identificar com o pai e (re)conhecer a mãe, pondo fim a esse taradismo psicológico.

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E eu freudiei até agora pra dizer que ontem, no banho, eu lembrei de um cara que tentou me subornar para entrar na área VIP do show do Fábio Jr. e aquilo me fez um mal danado... Me ofendi e fiquei triste... E reparei que sou igualzinho a meu pai, a referência de ser que tenho no mundo.
Então lembrei do Freud e dessa explicação maluca de id, ego e superego, de Édipo e chupeta, cu e pinto, mãe e sexologia, loucura e pulsão de morte...
Ah... essa humanidade é mesmo um prato cheio pra galera da psicologia.
Um prato cheio!

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Psicologia é coisa de louco.

terça-feira, 10 de maio de 2011

BICHO-GENTE


Hoje eu fiquei questionando sobre a racionalidade.
Quase uma metaquestão.
E, para ampliar as molduras deste ínterim, perguntei a mim mesmo o porquê de eu ter nascido gente e não animal. E mais além: se eu nascesse animal, qual animal eu seria.

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Grandes questões!

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É muito melhor ser um animal quase-gente do que um humano animalóide.

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Aí minha amiga disse que seria uma borboleta.
O colega falou que seria um leão.
Outro, que seria uma águia.
Égua, cusco e burro ninguém quer ser!

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Meu chefe seria um cavalo.
Não pelo tamanho do pinto, mas pela quantidade de cagada.

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Se eu fosse um bicho, eu não teria hábitos noturnos.
Nem seria carnívoro.
Eu gostaria de voar, isso sim.
Um pássaro.
De repente, um canário.
Ou um beija-flor.
Pra ficar vendo o mundo de cima, cantarolando, beija-florzando...
Brincando de nuvem...

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Algumas personalidades e seus bichos correspondentes:

Michael Jackson - Camaleão.
Ronaldinho Gaúcho - Castor.
Justin Bieber - Poodle.
Xuxa - Mico-prego.
Fábio Jr. - Pavão.
Napoleão - Cavalo branco.
Faustão - Sucuri.
Maguila - Pit bull.
Tiririca - Tiririca.

BREVES APORTUGUESICES


A língua poruguesa é uma das maiores maravilhas do mundo das palavras. Seus labirintos, regras, segredos e poréns são tentadores e absolutamente mágicos.
E é graças a ela que eu rio diariamente dos jornais e das placas comerciais de Pelotas.

***

Como em qualquer lugar no mundo, Pelotas também tem suas locuções, neologismos e expressões próprias. Aqui se fala muito o agora depois. Deixa esse papel aí que agora depois eu entrego ele pro chefe. Eu nunca tinha visto um agora depois. Nunca.
E tem também o pisar, usado como sinônimo de machucar, lesionar. O cara chegou pra mim e falou: Hoje eu não vou jogar bola porque me pisei no pescoço. Eu fiquei pensando: como é que esse maluco conseguiu a façanha de pisar no pescoço? Só mesmo pela língua portuguesa.

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Em Santa Rosa também tem neologismo. Mas é tudo ali uma vez alemães os neologismos.

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Então o Alencar recebeu o cara de terno e gravata no escritório, pedindo pra falar com o Orli.
O Orli não tá, disse o Alencar. Mas o que seria pro senhor?
Eu vim falar com ele sobre uma patente.
Ah bom... o senhor pode passar aqui então.
E o Alencar levou o agente de marcas e registros pra ver o vaso sanitário.

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Esse cachorro tá muito doente.
Eu acho que vocês vão ter que crucificar ele!


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E tem dois bares chamados O Sol nasce para todos e Se deus quiser vai dar certo.
Num bar com um nome desses, dá até vontade de ser alcoólatra.

***

Voltarem a esi açunto da linguística prosódica epopéidica apostólica portugeza, pusque tenho istórias qeu num acaba maiz.

A MULHER ASCENSORISTA


A mulher ascensorista
Sobe e desce todo dia
Dentro duma caixa fria
12 horas na corrida
Presa num caixão em vida
Cima baixo, baixo cima

Até o décimo segundo
Cada porta, um novo mundo
Até o fim
Até o plim do cartão-ponto

E eu fico tonto
Em pensar em mim
Em vender meu tempo assim

[o melhor elevador é o da mente serena.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O EX-CARECA


Cotidianamente, os valores e os conceitos se transformam, se mesclam e se fundem. Então, deste ideológico relacionamento surgem as mais variadas conclusões, todas também fadadas ao perecimento.
É uma sopa-do-diabo psicomental.

***

Mas de todos os conceitos, a estética sempre aparece como algo relevante.
Tão relevante que inspirou Kafka em A metamorfose e Gogol em O nariz.
Tão, mas tão relevante que mulheres levam horas e horas para se vestirem a um singelo passeio na praça.
Tão, mas tão, mas tão relevante que consultores de moda passam a vida discutindo as tendências da próxima estação.
E Tantão relevante que fez com que a humanidade abandonasse as calças boca-de-sino e o bigode.

***

É que eu encontrei o Roque e foi um grande, um dos maiores desafios de minha curta vida.
É que o Roque estava ex-careca.
A última vez que eu vi ele a careca dele parecia uma bunda branca.
E hoje ele entrou aqui cabeludo.
Eu sofri tanto para não rir que chegou a me dar uma enxaqueca depois que ele saiu da sala.
De tanto não rir.
Ele me olhou desconfiado.
Pensou que eu comentaria algo sobre o seu novo cabelo.
Mas eu fiquei calado.
Concentrado no além-Roque.
E acho que o meu silêncio foi uma crueldade maior ainda.
Ele saiu sabendo o que eu pensava.
E eu fiquei pensando que ele sabia de tudo.
Afinal, um cara que faz um implante daqueles tem que estar preparado.
Tem que realmente estar afim de não ser careca.
Porque ele encontrará os amigos na rua.
[mais cedo ou mais tarde

E os amigos serão cruéis.
Independente dele ter ficado até um pouco mais bonito.
Se é que existe ex-careca bonito ao primeiro olhar...

***

É dos carecas que elas gostam mais?

***

Aí eu vejo um símbolo da estética nacional, o Fábio Júnior.
Ele tá vindo pra Pelotas para um show.
Mas meu amigo já disse que não vai levar a mulher dele.
Isto porque depois dela ver o Fábio Júnior, vai olhar pra ele e irá notar que ele, seu marido, é apenas o seu bom e velho (talvez mais velho do que bom) marido...
Será uma decepção na certa.

***

Aí o cara chega segunda-feira no trabalho com um sorriso no rosto.
Vira pros colegas e diz, com um ar de felicidade, orgulho e contemplação.
Vocês sabem com quem minha mulher me traiu ontem!? Com o FÁBIO JÚNIOR!

***

O Fábio Júnior nunca será um ex-careca.

terça-feira, 3 de maio de 2011

LIXO NA SALA-DE-ESTAR


Se tem uma mania humana que me deixa de cara é de jogar lixo no chão.
Fico fulo.
Possesso.
Aqui em Pelotas isso é quase um hábito.
E veja bem: não quero com isso dizer que o costume seja dos pelotenses.
Pelotas é uma cidade plural. Aqui tem gente de toda parte do estado e do país.
Mas é aqui que eu moro. E é aqui que eu percebo essas atitudes nefastas.
E é aqui que eu tenho que registrar a minha indignação.

***

Eu tava esperando o ônibus pra me levar ao doce paraíso do Laranjal, meu lar.
O cara chegou, acendeu um cigarro, jogou o maço vazio no chão.
Depois de fumar, jogou a bituca.
E eu pensei: pobre mundo... pobre cidade. Pobres cidadãos.
E então eu percebi que o lixo já não é mais uma questão que sanidade urbana.
O lixo é uma questão de sanidade mental.

***

Eu já vi burguês jogando lata, pacote de salgadinho e fralda cagada pela janela de suas naves.
Já vi mendigo jogando papel de bala e cigarro.
Então, a porquice (com todo respeito aos porcos) não é uma questão financeira, é educacional.

***

Pelotas é a nossa sala-de-estar.
Você joga lixo em sua sala-de-estar?

***

E dizem que existe um superintendente de cuidados com a cidade.
E onde tá esse sujeito agora que eu preciso dele?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ANDRÉ BIN-BUSH E O HPS DE PELOTAS


Ontem, no dia em que os EUA mataram o Bin Laden, fui com o Dani visitar o André, no Pronto-Socorro São Francisco de Paula, em Pelotas. E lá eu vi uma caverna fria, com gente abandonada pelos cantos, sem amor ou atenção, em macas encostadas pelas paredes... um cheiro de doença... um esconderijo de dor e frio... e eu conclui que o Bin Laden foi um sortudo por não precisar de HPS.

***

Eu prefiro a morte que cheiro forte.

***

E eu já tinha cantado a pedra: o imaginário popular via Bin Laden nas cavernas, escondido, passando fome, frio e medo. Enquanto isso, o real Bin Laden, tava numa mansão, digna de políticos influentes e poderosos, como de fato o era. E toda sua família é. Sócia dos Bush e de altas coorporações mundiais. O lado B da moeda da guerra...
Se culpado ou santo, cada lado dirá.
Pra mim, santo é o assalariado que consegue escapar ileso do HPS de Pelotas.

***

E eu aproveito aqui pra cantar outra pedra: Bin Laden não morreu.
Que papo é esse de "lançaram o corpo no mar" e quem duvidar que procure?
Agora querem que eu acredite em 11.9 e na chegada do homem à lua em 1969?
Em Mãe Dinah e na megasena?
Não acredito em quase nada neste mundo.
Eu sou que nem o Papai Noel: um sujeito descrente.

***

Nas entranhas do poder acontecem tantas coisas que nunca serão reveladas.
Em toda guerra existe interesses políticos e econômicos.
Em toda medida do estado.
E então eu pergunto: Qual o interesse do município em manter um HPS em tamanho descaso e abandono?
Quem é o responsável por isso, afinal?
Quem é o Bin e o Bush desta triste história pelotense?
Aqui, nesta batalha da vida digna, é o único caso em que as vítimas é que ficam abandonadas na caverna.

domingo, 1 de maio de 2011

OS CLÓVIS NÃO TÊM CULPA


Hoje eu vi um programa (mais um) que tentava explicar a razão do desaparecimento dos dinossauros e grandes mamíferos, há cerca de 13 mil anos.
Nele, eram desenvolvidas duas hipóteses: ou os humanos Clóvis estavam no auge da sua atividade caçadora ou a causa era extra-terrestre, ou seja, um (ou um grupo de) asteróide ou cometa que caíra e gerou consequências letais a 75% da vida do planeta.
E eu nem preciso dizer que a segunda hipótese lidera as casas de apostas do pré-apocalipse.

***

Em uma visão mais ampla, não existe terrestre e extra-terrestre: o universo é um só.

***

Eu acho que esses últimos 13 mil anos é um intervalo do primeiro pro segundo tempo, em termos de quedas de corpos galácticos na Terra. Isso é tão normal no espaço, os choques entre planetas e asteróides, que a possibilidade do nosso planeta nunca mais ser acertado por nada é irrisória ou quase inexistente.
Quer dizer, mais dia, menos dia, um asteróidezinho vai cair no pátio de alguém.

***

E eu fico pensando... Se o universo é infinito, onde é que ele começa?
Dizem que não começa nem termina. O universo é o todo, indivisível, imensurável, e que não há passado nem futuro nele, pois a relação do tempo com a sua mente é infinitamente inquantificável.
Sendo assim, 13 mil anos é um suspiro do universo e nosso planeta, bem como toda a vida do nosso sistema, inclusive nós, pequenos seres (humanos), os dinossauros até os BBBs, bem como toda materialidade, do papel ao ferro e às Pirâmides, tudo tem um tempo de existência relativo.
Por isso eu não penso no fim do mundo: o mundo finda a toda hora, se reinventa, e segue o baile, com ou sem humanos no salão.

***

Porque o tempo acontece.
E os clóvis não têm culpa de nada.