sexta-feira, 30 de julho de 2010

VIVER MUITO É COISA DE VELHO


Ontem fiquei sabendo que meu novo filho, que nascerá em outubro, é um menino... ainda sem nome... esperando, como eu, que o tempo responda suas questões neonatas.

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O tempo responde tudo... anseia... divaga... acelera... O tempo enche minha cara de rugas, minha cabeleira de fios brancos espalhados, se encontrando, do meio pra frente, daqui pra frente, cada vez mais...
Os amigos vão sumindo... os irmãos, ficando diferentes pela idade acrescida... aquele tio bacana já morreu... o carro antigo que o pai comprara não existe mais... naquela esquina agora tem um prédio enorme e o campinho de futebol virou três casas de concreto.
Tudo muda... tudo é impermanente... tudo deve fluir, sem que queiramos nos segurar no mistério das coisas... sem que tentemos estabelecer verdades eternas, rostos sempre iguais...

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Mudar é bom e é por isso que morremos.

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E eu, que estou ficando velho, já fui o nenê esperado de alguém, que foi um nenê também. E é essa mania dos bebês chegarem dominando o mundo que nos faz ter a impressão de que somos perenes como uma pétala...

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A eternidade é o agora: feliz nele, feliz sempre.
Porque a vida se mede em largura, não em comprimento.

A VIDA DE ALFREDO


Encontrei o Alfredo no cemitério, num velório em comum. Ele me avistou de longe e caminhou, lentamente, em minha direção. Me apertou a mão e falou, com sua tenaz falta de ânimo.
Essa vida é mesmo uma merda!

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Eu poderia ter dito que discordo, mas preferi o silêncio. Afinal, cada um vê a vida como pode. Eu vejo a minha como um jardim na tempestade... Há flores, raios, trovões e a chuva, que de uma hora a outra se transmuta de força a alimento e traz os mares ao quintal de casa.
A vida é show... é mágica... somos dela, cada um e todos, atores principais... protagonistas da própria história... E não tem segunda chance: é apenas na peça de estreia que subimos ao palco e fazemos, do roteiro, mescla do determinismo e da esperança, a ação que desejarmos.

AS INDAGAÇÕES


A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.
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Hoje, 30 de julho de 2010, kin 113, Caminhante do Céu Solar, Mario Quintana completaria 104 anos. No mesmo kin, há 104 anos atrás, o mundo começava a ficar mais belo...

CONTATOS MODERNOS


Alan Sieber

O HOMEM QUE NÃO SABIA MORRER


E era tanto frio naquele dia
Que nem o mundo acontecia
Na chama dos dedos, ele observava
[Sob os rastafaris do cobertor de lã
Os movimentos na calçada úmida

Era o ponto mais distante do verão
Mas o calor que lhe faltava
Era dentro...

O coração pode ser
O pior de todos os invernos...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

TROFÉU CHICO XAVIER


Passada meia-hora da Copa do Mundo na África, só se fala na Copa do Mundo do Brasil. Quem é a favor, quem é contra, o superfaturamento, o turismo e blábláblá. O que será que os estrangeiros vão pensar? Será que vão reparar as heranças históricas da exploração e do genocídio que provocaram e provocam aqui?
Ai... eu vou ficar com vergonha se os europeus notarem nossos mendigos e favelas.
Vou morrer de vergonha.

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E o logo da Copa do Brasil 2014 parece o Chico Xavier espiritografando.
Por isso a Copa 2014 vai se chamar Troféu Chico Xavier, pois é pois é.

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E a bola vai ser a Superfatulani.

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E por falar em futebol, o time do Flamengo até que é bom. O que mata é o goleiro.

terça-feira, 13 de julho de 2010

PEDRAS E LINHAS


Depois de alguns anos, caminhei por Santa Rosa, minha cidade natal. Aqui, já não lembro o nome das ruas, das tias e primos nem tão próximos assim, das pessoas... não conheço mais ninguém. As referências pontuais, quase todas perdidas. Lojas e comércios trocam de fachadas, trocam de placas, e parece que tudo é perto da casa da mãe, o centro do mundo aqui.
As ruas de pedras irregulares guardam estranhas linhas retas, como é metódico o progresso e estigmatizados os conceitos do correto... O alemão cortou a amexeira onde eu brincava e os vizinhos seguem invadindo a casa livremente pra saber como estamos todos, nossas profissões, os filhos, o quanto ganhamos e todas as informações possíveis que alimentem suas coleções mentais de vidas.

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Mas todo motorista para na faixa de pedestres.

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Tudo é cultural. A mente interpreta o mundo... É impossível ver o que não se pode entender. E todo entendimento chega no momento certo... nem um minuto a mais. Embora não pareça, o mundo começa e acaba no um. A cada indivíduo cabem seus passos e suas direções... E cada um elabora os conceitos que consegue... e executa aqueles que pode. Mudando a si, muda-se o todo.

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Porque a sociedade é como as ruas irregulares de Santa Rosa... Repleta de pedras tortas e linhas retas.

ENTRESQUINAS


A rodoviária de Giurá é uma esquina vazia na cidade.
A cidade de Giruá é uma esquina vazia do pampa.
O pampa é uma esquina vazia do mundo.
O mundo é a esquina vazia onde moro.

sábado, 10 de julho de 2010

O RIO E O OCEANO


Diz-se que o rio treme de medo antes mesmo de cair no oceano.
Olha pra trás, para toda sua jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, dos povoados... e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Pode-se apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece.
Apenas o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se o oceano.
Por um lado é desaparecimento; por outro, renascimento.
Assim somos nós: voltar é sempre impossível. É preciso ir à frente e se arriscar... é preciso, sempre, ter coragem.

CANTEMOS


Cai a chuva lá de riba tamborilhando no chão
Eu canto, que o peito canta, na rima do coração
Cantemos que a vida passa
Como chuva de verão...

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Eu já vivi outras vidas. Ao contrário de muitos amigos meus, que já foram imperadores, Jesus (tenho dois amigos que já foram Jesus), mártires, eu fui um operário... Trabalhei tanto que nesta vida eu não quero nada... só vagabundear.
Fui com o Dico e o Nando visitar o cemitério... o túmulo dos avós, do pai e até do tio Torres, encontrado na sincronicidade. Então pensei, ao ver uma cova aberta, a terra espalhada no chão: se eu já tive outras vidas, é porque eu já morri também outras vezes. E se o eu que já morreu estivesse enterrado aqui, neste cemitério? E se o meu outro corpo, passado, já estiver putrefato e comido pela terra, então eu posso ser esta terra aqui, que o eu novo pisa agora. Posso até estar numa árvore dessas, que sombreia a cidade dos mortos... a cidade que só cresce... Então o eu de agora pode estar pisando na terra do eu antigo... ou até mesmo cheirando a nova flor deste ipê em que me transformei.

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Morrer não deve ser ruim. Todo mundo tá rindo nas fotos... E ninguém vai embora nem reclama...

FILO SOFIA


Eu posso até acreditar, mas não agora!!!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

POETA UMA OVA


Alguns achavam estranho aquele motoboy ser cego.
Mas poucos sabiam de uma mania sua muito mais estranha: escrever poemas dentro de ovos.

MEU AMIGO DIABO


(No ônibus.)
Mãe... esse aqui é meu amigo, o Diabo.
Muito prazer senhora...
Não precisa se assustar não mãe... ele não é aquilo que todo mundo fala. Ele é gente boa!

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Pó, Diabo. Tu me faz passar por cada constrangimento. Por que passaste a tranca naquela senhora? Sacanagem gratuita? Tu não existe mesmo...

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Ô Diabo... como teu amigo, vou te dar um conselho. Devolve a carteira do cara, meu. Tu não precisa disso, tchê! Depois que o pessoal fica falando de ti, tu fica com a cara amarrada.

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Alô... Diabo!? Beleza cara, sou eu. Vambora pro jogo? Às 15h, mas é bom a gente chegar mais cedo, cara. Não... não faz isso. Vai ter segurança lá mano! Cheio de segurança! Não... não pode entrar com bebida. Beleza. Daqui a pouco passo aí. Falou!

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Bom-dia!? O que era pro senhor?
Eu vim ver as calças jeans da promoção.
Ah... pois não. Venha comigo, sim?
Gostosa!
Como é?
Dizem que essas calças são gostosas.
Ah... são sim. E o preço ta bom.
E vocês trabalham com crediário?
Não, não... só à vista mesmo.
Mas que inferno!

TIO MANECO


Olha a casa do tio Maneco!
Olha o cavalo do tio Maneco!
Olha o tio Maneco!
Oooooi tio Maneco!?

IVANDALÂNDIA


É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar, na verdade não há!

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Desperto com essa música um tanto antiga, porém sempre atual. 5h da manhã e o ônibus para em mais uma cidade com nome de santo. Estou sozinho, indo visitar minha mãe, doente. Ela bem que poderia também dar nome a uma cidade... à minha cidade... pois eu percebo, repentinamente, a importância dela em minha vida.

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Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu.

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Era julho. Ainda longe de uma primavera. A escuridão de toda noite era quebrada por uma luz direcional sobre o rascunho onde eu escrevia, e as fonéticas surgiam ao ritmo da música que eu ouvia.
Isto também passará, como quase tudo em minha vida já passou... Exceto a presença e o amor de minha mãe, sempre a me iluminar, como faz esta pequena luz agora. Preciso urgentemente dizer a ela o quanto a amo, antes que o mundo acabe. Antes que um de nós deixe a vida mais cinza...
Porque na vida, tudo fica antigo: menos as mães e as músicas.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

2 DE JULHO


Um ano não é nada
E é muito tempo
Quem dera a vida andasse para trás

Mas esta vida é assim
E não tem jeito
E vai pro sempre o nunca mais...

Então eu penso,
Como um clic na memória,
N'alguma história, uma lembrança, uma canção

E achava até que era só falta de sorte
Que entre a vida havia a morte, havia o não,
Mas à mentira o puro amor sempre socorre
Pois nunca morre este amor no coração.

ENTRE SEGUNDAS


Que dia é hoje? Segunda? Segunda-feira? Já é segunda-feira?

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Quem é que tá jogando? É o Brasil que tá jogando? Já é meio-dia então? Como? Contra quem o Brasil tá jogando? Ãh?

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Tá pronto o almoço? Já dá pra comer alguma coisa? O que é que tem pra comer? E tu quem és que eu não conheço? Minha neta? Ah... como tá bonita e grande!

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Dá pra botar no canal da missa? Eu gosto daquele padre bonito... Esse é o canal da missa? É o canal da missa? Ah bom... Então não começou ainda?

***

Já é segunda-feira de novo?