sexta-feira, 28 de maio de 2010

ELE, ELA E O MORENO


Ela saiu pra comprar pão e ele nunca soube que aquela era a banda que a faria decidir que o largaria pra ficar com o moreno que morava na Dom Pedro e se fizera de amigo pra poder se aproximar.

***

Ela disse não e pediu apartamento. Ele quis saber porquês, enquanto que o moreno prometia ser o que Platão nem ideara; na cama, nas flores, no samba... Ela acreditou, como acreditava sempre, e ele passou de mito a chato.

***

Meu bem pra lá, meus bens pra cá... Ela e o moreno montaram mercadinho e, entre o vasto sexo novo, atendiam à comunidade. Ele, partido em dois, projetava vida nova sem sua metade, num quartinho emprestado de um amigo seu, porque a escada da vida nem sempre sobe...

***

Tanto é que o moreno já tinha arrumado outra nega, e a mulher do amigo muito a ele interessava...

***

Pois o outro é a fuga de si.
Não importa quem se queira... A mente inquieta não suporta o vazio.

MESA ANTIGA

Pegue sua mesa de 1845 e enfie no cu de 1952.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

TODO MUNDO É UM POUCO GREGOR

CHOCOLATE DE DEZ ANOS


Comi uma trufa de chocolate branco agora... vixe-mãe, nem te conto. Impressionante o sabor do chocolate, ainda mais em Pelotas, capital do doce. Eu realmente não sei o que seria da minha vida sem o chocolate, sério. Pra mim, depois do fogo e da roda, o chocolate foi a maior descoberta da humanidade. Ah, depois da energia elétrica também, porque com energia elétrica pode-se produzir muito mais chocolates.

***

Não tem aquelas dietas que as pessoas param de comer chocolate? Não tem? Pois eu abro mão de 10 anos da minha vida pelo chocolate. Não vejo motivos de permanecer vivo sem o chocolate... não vejo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

sexta-feira, 21 de maio de 2010

DOCE PROFESSORA


A doce professorinha
Ensinava com didática
Os meandros da língua portuguesa
A seus pequenos famintos

Atrás do livro de lições,
O hino nacional...
Ensinava às crianças
Lições de patriotismo
E nos intervalos, conversas sobre programas de TV

À noite, dormia sozinha
Enquanto envelhecia
E sonhava ainda em ser a mãe
Daquela boneca Barbie...
E seu Ken?
Ora ninguém...

Pensava nas contas
Tinha medo de trovão
Questionava quase nada
Pois ainda era aluna da vida
Aquela doce professora
Porque a vida
É uma aula sem recreio.

A RUA


Eu não sei se moro no início ou no final da minha rua.

***

De manhã cedinho
Pessoas caminham
Num ritmo acelerado
Pra algum lugar

Algum emprego
Um escritório qualquer
Onde batem ponto
E se reconhecem
Como pessoas de bem
Por escravizarem seu tempo
Em troca de moedas...

Este é o início da rua.

***

À noitinha
Bem na calada da lua
Outras pessoas aparecem
Todas pretas
Uns demônios observam, outros entram nas bocas de fumo
Outros tantos trepam nas sombras ocultas,
Picham muros e quebram vidraças
No ponto exato onde acaba a rua.

***

Da vidraça, viro peixe. Observo o mundo, dando voltas às costas das gentes. Enquanto isso, uma expedição encontra um alpinista, morto há décadas, absolutamente conservado pelo frio dos Alpes. Seus filhos, ao olharem o corpo, vêem o pai mais novo que eles próprios... e enterram, junto ao corpo, sonhos que até então estavam vivos.

***

Sonhos morrem.
Sonhos vivem.
E os meus, em que passo estão?

CONQUISTA

Conquistar uma mulher é uma barbada.
Reconquistar uma mulher é o que eu quero ver.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

INJUSTA BONDADE


Bondade é diferente de justiça. A justiça é equânime; a bondade não.
Explico.
Sempre ajo pensando em ser bom... em fazer o bem. Contudo, reflito sobre o bem e o mal e percebo que são conceitos complementares e interdependentes... ambos, o bem e o mal, têm aspecto próprio e atmosfera peculiar, mas dependem da justiça para que tenham êxito.

***

Se eu tenho R$ 30 no bolso e entrego a um usuário de crack, por exemplo, estarei sendo bom ou mau? Posso estar pensando no meu âmago que sou bom, pois me privei de uma condição material hipotética para beneficiar alguém que me pedia... Minha mente está orgulhosa, mas meu coração sabe do erro. Posso pensar que estou desapegado... como é belo alguém ajudar o outro. Mas eu, neste exemplo, ajudei a destruição do outro. Sigo sendo bom? Minha mente pode até me convencer que fui bom... afinal, cada um com suas circunstâncias... detalhes da vida de um dependente cabem a ele, apenas. Eu sou bom e ponto. Contudo, sou justo? A minha bondade é justa com a outra pessoa, com o seu merecimento próprio? E se ele, o beneficiado, não for um merecedor? Então a minha injustiça se tornará maldade, pois irá gerar uma atmosfera mau, um engodo, um engano, atributo do que não é o bem.
E minha cabeça, teimosa, vai achar que sou bom.
E minha aura estará, entrementes, impregnada de injustiça e ranço.

DIA CLARO


Era um dia claro. O sol ganhava as nuvens, como a flor amarela no cabelo dela... E, do espaço, alongava e encolhia as sombras, dourava as vidraças e desenhava o arco-íris no céu. Enquanto isso, as nuvens iam embora... E vinham outras, novas nuvens...
Ela tinha forma de fera, como a nuvem...

***

Agora mesmo há alguém no Congo
Outro alguém que já partiu
Eu continuo aqui, como uma criança cega...
Tateando o mundo...
A mim mesmo...
Procurando a cada instante onde nasceu a primeira certeza...

Mas continuo cego...
Vou morrer cego...
Desaprendendo tudo
A todo momento.

TOY MARISCO


Toy Marisco era um cara foda.
Um temível marinheiro.
Era um susto vê-lo com o charuto na boca.
Graaaande Toy Marisco, diziam ao vê-lo.
Tapinha nas costas.
E ele era grande mesmo.
E careca.
Uma mescla de David Beckham com cicatriz, Popeye e o cavaleiro medieval recosntruído pela universidade inglesa.
Era belo e feio, o Toy Marisco.

***

Mas um dia, a puta que ele amava fugiu com outro. E putas são como as certezas: se as amar, serás um idiota. Mas Toy Marisco a amava, se é que um dia ele, a besta-fera encarnada e careca, tivesse sabido o que é o amor, ou se é que alguém neste mundo sabe...
Então ela saiu de Santos e foi morar em Caxias pra casar com o Giuseppe, que veio da Fiorentina pra jogar no Juventude. Regina, a Puta.

***

E Toy Marisco envelheceu, ficou magro e apenas feio.
Deprimido, começou a beber e a se isolar num quarto escuro daquele porto sombrio.
Depois de meses assim, Toy Marisco reagiu.
Reergueu-se.
Perdeu nariz.
E entendeu que as mulheres são como as ondas.
Ou te levam, ou te ferram.

***

Mulher não é pra sempre, mas ex-mulher é pra sempre.

terça-feira, 18 de maio de 2010

REPIPOCA


Ontem na noite fiz uma aventura que entraria pro livro das aventuras do Duda, se um dia existir. Capítulo das coisas mais malucas, lá pela página 8.903. É que quando o Johan era pequeno (6 meses), dei a ele um cachorro labrador chamado Pipoca. O Zé Pequeno recém havia morrido e a tristeza da não-presença canina sentida pela Nena e pelo Alemão me fizeram presenteá-los com um cachorrinho meigo, amarelinho, que fedia a leite e pulava pelos cantos, o Pipoca. Virou até música...

***

Ele chegou em casa doente e mamou do leite excedente da jovem mãemãezinha Nena, que parecia a vaca das cinco tetas... airbag duplo, enfim... Bebeu do nosso leite, como diria o prefeito..., mais do Jojô do que meu... porque eu sempre me interessei foi pela embalagem, mas isso é uma outra história.

***

Depois de um ano na praia do Laranjal, o Pipoca (junto com o Chico e o Kin) foram morar comigo no mato e, a posteriori, na Colônia, pra onde levei mulher e filho. Pois bem... quando fui viajar, o Pipoca sumiu e nunca mais o vimos. Seis meses de procura... A certeza de que agora, com nossa família de volta à praia, tudo seria diferente... Os seres avisaram... o pressentimento virou convicção, e o Pipoca foi visto numa casa na colônia, agora com o codinome Jake.

***

Entrei no carro.
Uma caixa de bombom.
Não era pra mim.
Era pra família que abrigou o Jake, digo, o Pipoca.
Chegamos.
Era ele, deitado na grama.
Pipoca!!!
Choro.
Conversas acerca.
Viajamos; Pois eu cuidei dele.
É manso; E lindo.
Apareceu por aqui...
Só que havia um detalhe que não contávamos.
A família não queria devolvê-lo.
Nem dinheiro, nem chocolate.
Queriam o Jake.
E eu, o Pipoca.
2 em 1, como os velhos Sony.
Jaaaaaaake: vem.
Pipooooooca, aqui.
Ele fica.
Ele vai!
Vou chamar a polícia!
Que ingratidão! A polícia?
O cara gordo levou o Pipoca (ou o Jake?) pra dentro de casa.
A mulherada chorava.
A minha e a dele.
E o que estava em jogo agora era a minha reputação com a Nena, ora bolas.
Marido macho, isso que sou.
Grande reprodutor.
O pedreiro jogou o chocolate no chão, para o deleite dos outros cuscos.
Tiveram o privilégio de me chamar de ignorante.
Os únicos no mundo.
E quase deu briga.
Eu ia matá-lo por amor.
Cheguei a pensar rapidamente em sumir dali com o Pipoca e deixar a Mariana.
Ela que fuja de ônibus.
Mas não fiz.
O fato é que eu saí de lá com o Pipoca.
Marido macho.
E meu filho ganhou o mesmo cachorro pela segunda vez.
Nem deu tempo de dizer obrigado.
Nem tchau.
Mas agradeço, de coração, pelo cuidado que tiveram.
É o apego, disse o cara.
Mas se alguém tem que dormir mal, que seja ele e não eu.
Cordialmente, em algum lugar do cosmos, agradeço.
Pelo Jake, digo, Pipoca.
Até uma hora qualquer.
A gente se vê...
Ops... cuidado aí com as pedras...
Aquele abraço.
Fui.
Fomos.

O SOU


Amor é preciso
Religião não é preciso.

***

Deus é mais que vida
Deus é vida e morte
E ainda a sub e a supravida
E a endo e exomorte
Do intracelurarismo ao extrauniversalismo

É o grande e o tão pequeno
É o nada no tudo
E o tudo no nada
E é por isso que não rezo pra ele
E
Ao mesmo tempo
O sou.

É E É


A sincronia existe a um patamar acima da cabeça tridimensional. Engloba credos, religiões, ciências e conceitos... tudo fica pequeno uma dimensão abaixo. Ante ela, não há questionamentos: ou se vive, ou não se vive.
O sincronário é apenas uma ferramenta, como são o martelo e a marreta. Só que a construção, no caso tempo, é a anti-matéria... é o insight que liga todos e cada um ao todo natural, que vulgarmente recebe nomes de deidades.

***

A sincronia apenas é. É e é.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

OI


Os dois ciclistas iam se afastando... eu andava a pé. Atrás deles, um céu negro, repleto de estrelas... tantas que, se traçadas, demonstrariam o nó da criação divina. Uma complexidade tão imensa que nem os altos muros da filosofia conseguem cercar...
Um cachorro deitado na rua; uma rua deitada no mundo. Meu caminho é um mapa e o xis do meu destino são as estrelas, de onde venho, pra onde volto, a ser mais um ponto a ser traçado por um observador da tridimensionalidade...
Lá, no ensejo da questão do tempo, de repente, eu já seja uma... cada um de nós pode ser uma... Em algum ponto da precipitação temporal, de repente, nem nascemos ainda...
Uma estrela cai, risca o céu. Mas as estrelas não caem: elas apenas dão um oi, na sua forma brilhante de comunicar. Nós, aqui, nesta tênue passagem, damos o oi que podemos.

QUESTÃO DE TEMPO


Mais um dia ou menos um dia?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

UM CHÁ


Ainda estava acordado quando ele chegou. Não bateu à porta, como de costume... espiou, entre as frestas da janela, silencioso... Levantei-me do conforto do sofá, que descansava as pernas do dia... deixei de lado a caneca com chá, e o vapor dançava rumo às estrelas...
Abri a porta, 23h. Ele entrou, mas antes me cumprimentou, com seu abraço fraternal demorado. Falamos breves assuntos... superficiais, como a brisa da manhã... observei o céu, claro, estrelado... era a forma com que eu costumava pensar... olhando o céu... embora meu jeito quieto, de poucas palavras, eu pensava muito... mas não discutia... não existem erros nem verdades... apenas o caminho... e o caminho dele o levara a mim, naquela noite de outono.

O chá... apontou ele ao braço da poltrona.
Queres um?
Não.
Então?
Pois é... estou com alguns problemas...

O fato de ter problemas não era exclusividade sua. A forma com que se relacionava com eles, sim. Idiossincrático. Nunca reclamava... absorvia as circunstâncias, resolvia as adversidades... mas aquele dia, ele reclamou.

Estou morrendo...
E quem não está?

Tomei mais um gole do chá... Observei, como sempre observo, antes de qualquer palavra.

O que posso fazer?
Nada, disse ele. Não podes fazer nada.

O nada era muito, para aquela situação. Estávamos tranquilos. Ele entendera que o seu processo era complicado, mas correto, a vontade do grande espírito.
A estrada era certa... breve... branca. E as mochilas deveriam ficar... Não se pode levar nada... Nada nem ninguém...

Mais tarde ele aceitou um chá. Preparei outro pra mim também.
A vida... um grande barato... nos ensina em todos os momentos que se mede em largura, não em comprimento...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SURFISTA PRATEADO


O Surfista-prateado saiu da loteria
E eu ainda não sabia
Se aquele rap francês
Era doce ou agressivo
Ouì, em todas as línguas existe fúria...
Em todas existe poesia...
Em todas existe o homem
Num próximo ponto
Atrás do pensamento...

ILUSTRÍSSIMO ASSESSOR


Não reclame, ilustríssimo assessor,
Honre seu salário
[que não é baixo

E trabalhe,
De preferência com a sua inútil boca bem fechada
E sua feia cabeça baixa...

O seu pai é um reconhecido político
Escroto como todos seus amigos
Da sala de reuniões

Mas você
Você não é nada
[um subnada

Muito rapidamente
O mundo dá voltas
E logo
[brevemente

A porta dos fundos
Por onde entraste
[traste

Estará fechada
[de repente, comigo fora.

NA PRESSÃO


Dinamite é o feijão cozinhando dentro do molho dela.

terça-feira, 4 de maio de 2010

BEM MAL


O diabo se assusta com a própria sombra
Porque ele é a besta, mas também tem medo
Ainda mais de si...

***

Se pro inferno vão os maus
E lá, são punidos por serem maus,
Então, e logicamente, seus punidores são bons
Porque é o bem que castiga o mal...

Logo, o Diabo é bom, pois penaliza o mal
[todo mal
Que vem de fora

De fora de onde?
Ora bolas, de fora do inferno...

Então, o mal vem de fora do inferno, e não de dentro
Pois lá dentro ele, o mal, é castigado...
Logo, o inferno deve ser bom...

Diablicamente bom...

***

A grande questão
[grandíssima questão

Que nos resta
É definirmos
Com exatidão
O que é o bem
E o que é o mal...

ESPELHO DE PORTA


O sol do outono
Vai acordando as coisas,
Iluminando os últimos detalhes da noite...

E a lua no céu
Permanece pequena
Como que pasma pelo dia que nasce...

Eu, cinjo os olhos na janela
E imagino, repentinamente,
Que a vida existe enquanto durmo

Mas a vida está em tudo
Inclusive em mim
Como me mostra
Este pequeno espelho de porta.

A POLÍCIA NUNCA SABERIA


A polícia achou estranho
Aquele maluco tocando violão
Não pedia esmola
[não pedia nada

Apenas tocava
De pé no chão

Não era mendigo
[antes muito pelo contrário

Até que era um bom cidadão
Pagava impostos e taxas em dia
E sentava na frente da televisão

Mas naquele específico dia
Numa banda por sua cidade
Esbanjava alegria pros prédios
Derramava alegria nas fontes
Era algo sem explicação...

Mas aquilo soava tão louco
O maluco e o seu violão
Musicando a cinzura das horas
Competindo com as liquidações

E aquilo que ele sentia
E se era loucura a alegria...
Nem a polícia saberia...
A polícia nunca saberia...
A polícia jamais saberia.

IMAGINOSHO


Sempre que você está tenso, jamais pensa que sua tensão e angústia possam ser sua fantasia... Se pudesse, elas desapareceriam. Assim, se você pensa que seu silêncio e sua felicidade são imaginários, eles desaparecerão.