quinta-feira, 30 de junho de 2011

GRAVÓTICA


O voo é livre.
Mas a aterrissagem é obrigatória.

O MÃO-DE-VALSA


Quem nunca ouviu falar em "Pé-de-valsa"? O pé-de-valsa é o cara bom de baile... o bom dançarino. Quer dizer que quando o cara é uma fera no requebra, ele é um pé-de-valsa.
Até aí beleza.
Mas hoje eu fiquei sabendo que existe uma doença rara, popularmente chamada de "Mão-de-valsa", e o Bermudez conheceu um indivíduo em Jaguarão que tinha essa doença.

***

O nome dele eu não vou dizer, mas eu sei que ele era fulo com a tal doença. Claro, se uma anomalia que acontece em 1 entre 100 milhões de pessoas acontecer logo contigo, no mínimo tu vais ficar de cara.
O que acontece é que a tal doença deixava a mão com vontade própria. Isso mesmo, a mão fazia o que queria... Quase um ser autônomo preso na ponta do braço.
Não adiantava nem tentar dialogar: a mão fazia e acontecia, literalmente, e colocava seu dono em várias frias, por assim dizer.

***

Ele conversava com um amigo e, de repente, a mão-de-valsa tentava um tapa. O amigo desviava algumas vezes... mas em outras levava um bofete no meio da cara... Aí o amigo do Bermudez dizia: Não fui eu, foi a minha mão. Parece o programa do Chaves, mas o Berma jura que era verdade.

***

Ele passava pelo mendigo e a mão jogava a moeda por vontade própria.
Uma bunda redonda então... a mão-de-valsa não podia nem ver.
Petisco em festa de aniversário. Campeonato de par-ou-ímpar... A mão-de-valsa era super-social.
E quando a mão-autônoma exagerava,

[ela começou a roubar e a meter o dedo no rabo dos amigos num cutuco rápido e incisivo, vê se pode???

ele metia ela à força dentro do bolso da calça jeans e a mantia presa pro resto do dia.

***

Os amigos deixaram de convidá-lo pro futebol, porque a cada vez que os adversários cruzavam a bola na área, o mão-de-valsa fazia um pênalti.
No trânsito, fazia xingamentos exagerados a todos os motoristas... várias vezes deu briga.
Havia dias que ele tinha vontade de cortar a mão-boba fora...

***

E um dia, o amigo do Bermudez foi jogar na loteria.
Pensou em 6 dezenas, mas a mão-louca jogou em outras.
E ele ganhou.
E ganhou sozinho o prêmio acumulado.
E foi eternamente grato à mão.
Lhe presenteou com anéis, pares de luva...
As melhores manicures...
Os melhores massagistas...
Os mais caros cremes e cosméticos...
E a relação foi ficando cada dia mais linda que se enamoraram.
Ele e a mão.
A mão e ele.
O sexo entre eles era uma loucura.
E ela passou a ser comportada.
Quase submissa.
E fiel, o que era melhor de tudo.
Silenciosa, carinhosa...
Uma companheira sempre presente...
Que lhe escrevia belas cartas e poemas...
Lhe coçava o saco como ningué, fazia cafuné.
Então ele descobriu, definitivamente, que a alegria sempre estivera a seu alcance...
Ela sempre sabia do que ele precisava.
E ele parecia conhecê-la totalmente.
Como a palma de sua mão.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O PAULO RENATO MORREU DANÇANDO


Li no jornal que o ex-ministro da Educação, Paulo Renato, morreu. Mais: ele morreu dançando. Mais ainda: morreu dançando com uma mulher 30 anos mais jovem que ele, num spa de luxo. Dois pra lá, dois pra cá e caputs.
Então pensei: isso sim é que é morrer com estilo!
Graaaande Paulo Renato.

***

Melhor que isso só a morte do avô do Alexandre, que morreu bimbando num motel do interior do RS.
Dizem que a amante falou pra ele: Nooossssa vovô... eu nunca te senti tão duro!
Claro: ele tava morto!

***

Imagina... morrer no trânsito, baleado, carregando saco de batata no porto... Isso aí não tá com nada... isso aí é morte pra azarado. Eu quero é morrer como o Paulo Renato.

***

Eu quero é viver muito e morrer rápido.
Sem opções para ficar pensando.
Ou tu morre ou fica velho.
Eu quero é morrer dançando.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

EU E A MONGA


Muitas coisas vão acontecendo em nossa vida e, enquanto o tempo passa e a gente amadurece, vamos fazendo leituras que nos mostram o quanto estamos, agora, diferentes do que estávamos até pouco tempo atrás.
São os aprendizados, que nos tornam não melhores, nem piores, mas nos fazem ter um pouco mais de auto-conhecimento. E o auto-conhecimento, por sua vez, é o que permite ao indivíduo estar em paz interior... estar mais perto da verdade de seu coração.

***

O taxista conhecia meia São Paulo mas desconhecia a si mesmo.

***

E quem conhece a si mesmo?
A cada aprendizado, uma morte inevitável.
A gente morre pro que era, quando aprende alguma coisa.
E a cada conclusão, um novo e decadente muro se desenha.
Mas eu não temo a morte.
Ela é diária, desde o ponto onde se nasce.
E não há pra onde fugir.
Onde se esconder.
Mais cedo ou mais tarde, você vai ter que se conhecer.

***

Eu lembrei de quando eu tinha 13 anos.
Um parque de diversões.
Havia um brinquedo chamado Monga, a macaca assassina.
Era uma suposta mulher-macaco que botava todo mundo pra correr de dentro daquele trailer pequeno e grafitado.
Tipo King Kong.
Mas eu sabia que se tratava de um truque de espelho.
O Tiago Denardin já tinha me contado tudinho.
Que a macaca que saltava da jaula era um ator travestido.
Eu sabia que aquele terroroso esquete, na verdade, não tinha perigo algum.
Então entrei.
Pensei em ficar até o final, encarar o ator vestido de macaco nos olhos e dizer: Eu sei de tudo!
Tu não é a Monga porra nenhuma!
E puxar seus pelos do peito.
Rá!
Mas a jaula tremeu.
Tudo aconteceu.
A mulher virou macaco, como eu já previa.
O que eu não previa é que eu iria entrar no cagaço geral.
Que eu iria tremer de medo e sair daquele moquifo escuro correndo com todo mundo.
Correndo e gritando, fugindo daquela besta-fera urrante.
E foi o que eu fiz.
Correr e gritar.
E naquele momento não adiantava nada eu saber de toda verdade sobre o truque dos espelhos.
Porque na hora do susto, enquanto eu corro minha mãe tem filho vivo.

***

Porque o que somos muda a toda hora.
O importante é conhecermos nosso próprio ser.
Visualizarmos por onde passa nosso trilho...
Pois até a Monga, que é a Monga, se transforma...

[e eu não sei o que eu faço agora com minhas certezas.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

AS MANIAS


Um amigo meu foi dar uma consulta advocatícia a um cliente desconhecido. Quando chegou na casa, foi recebido por um homem bem vestido que lhe perguntou o nome.
Depois, lhe perguntou o nome de seu bisavô. Depois, se ele, meu amigo, sabia que em Rio Grande tinha o Superporto. Tudo isso respondido prontamente pelo amigo advogado.
Passados breves segundos, o homem perguntou novamente sobre o bisavô e sobre o superporto. Até que entrou na sala outro homem, o verdadeiro cliente, que disse ao meu amigo:
Não dá bola pra ele não... hoje ele tá conversador.

Aí que meu amigo percebeu que tinha sido recebido por um esquizofrênico paranóico.

***

A grande sacada é que por breves minutos meu amigo entrou na loucura do esquizofrênico e conversou com ele até que o papo ficasse irreversivelmente estranho. Então, neste interím, por um lapso temporal delimitado, um deles era normalmente louco e o outro era loucamente normal.
E então eu pego a deixa e faço esta simples pergunta: O que é ser louco e o que é ser normal?

***

Quem não for louco que atire a primeira pedra.

***

Lembrei de várias manias minhas que, se analisadas pontualmente, todos vão me chamar de louco. Lembrei também das manias dos outros loucos normais que eu conheço... Cada louco com sua mania. O cara que cuspia no chão. O outro que beliscava a bunda e cheirava a mão. O outro que não podia com o barulho do chinelo arrastando. O outro que enlouquecia com plástico-bolha...
Minha nossa... o mundo é dos loucos.
Dos loucos, o mundo.
Mundo louco.
Locoloco.
Mundo.

AS BRUXAS E O INGLÊS


Recebi um mail muito bacana que transcrevo abaixo.

ESTA É A RAZÃO PELA QUAL SOU INCAPAZ DE APRENDER A FALAR OU ENTENDER O INGLÊS!
A prova consta de três módulos…

1. MÓDULO BÁSICO (Basic)
Três bruxas olham três relógios Swatch. Qual bruxa olha qual relógio?

Em inglês:
Three witches watch three Swatch watches. Which witch watch which Swatch watch?

2. MÓDULO AVANÇADO (Advanced)
Três bruxas “travestis” olham os botões de três relógios Swatch. Qual bruxa travesti olha os botões de qual relógio Swatch?

Em inglês:
Three switched witches watch three Swatch watch switches. Which switched witch watch which Swatch watch switch?

3. E ESTE É PARA PHD:
Três bruxas suecas transexuais olham os botões de três relógios Swatch suíços. Qual bruxa sueca transexual olha qual botão de qual relógio Swatch suíço?

Em inglês:
Three Swedish switched witches watch three Swiss Swatch watch switches. Which Swedish switched witch watch which Swiss Swatch watch switch?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

FESSOCIAL


Eu levei o Johan no parque de diversões da Fenadoce e me senti uma ideal unidade consumidora. Aliás, em feiras como esta, a Fenadoce, todos são unidades consumidoras... todos são moedas que tilintam a cada passo. E todos querem ser... Compras e consumo... os estandes te convencem que tem o que tu precisas... e tu também te convence em pagar uma fortuna por um monte de bobagem...
O retrato-falado do ser social.

***

O ser social andou de carrossel e carro-choque, mas não percebeu que o carrossel é o modelo clássico do humano moderno, que anda não sabe pra onde, que não pensa nos estigmas e paradigmas cruéis de sua sociedade... que roda, roda, mas não sai do lugar.

***

O ser social sentou na praça de alimentação e aplaudiu mostras ingênuas de cultura. Bebeu e se empanturrou. O ser social tomou sorvete e saiu sentindo um enorme (e aparentemente inexplicável) vazio existencial, porque voltou tão sozinho quanto chegara e não obteve resposta alguma... Um dejà vú cinzento...

***

O ser social serviu de parafuso da festa burguesa, realizada numa ilha distante, com convites caros, com uma correria humana desordenada... um fim do mundo de luz e preços.

***

Mas o ser social viu na alegria momentânea de seu filho o significado de tudo. E por mais fugaz que fosse aquele momento, ver o sorriso da criança foi a prova de que o ser social ainda crê e valoriza o amor.
O ser social acredita na alegria.
O ser social se sente bem ao ver os outros bem.
Isso é mais que humano, é brasileiro.
E é por isso que brincar de ser social sempre foi e sempre será um divertido jogo de faz-de-contas.
Tenha o preço que tiver...

BURACÃO


O universo
é um buraco
sem fundo nem paredes

um vazio eterno
do nunca pro sempre
constante e constantemente
um pano de fundo da noite

sem cima nem baixo
onde se guardam estrelas
[e pó de estrelas

que passam com vida ligeira
[a velha pressa que a vida pede

dentro de um espaço louco
que não se mede.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O MUNDO GIRA


O munda gira
As plantas crescem
Em outra tarde
O mesmo céu empalidece

A noite vem, falando em sombras
O que que é que a gente tem?
Um corpo fraco
Um nome bonito
E tudo isso também vai virar um mito

A gente parte
Os nomes ficam
Sem patrão
À deriva no mar das lembranças...

As plantas crescem
E noutro agora
O mesmo céu empalidece...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

GRANADA FUTEBOL CLUBE


O Granada Futebol Clube tinha uma peculiaridade.
Não era o fato da camisa ser tetracor, uma raridade no mundo do futebol.
Nem de ser de uma cidade com 2 mil habitantes, afinal, por que uma cidade de 2 iml habitantes não pode ter um time de futebol? Se até Nova Bréscia tem?
O fato peculiar que eu me refiro era o centroavante do Granada. Matador. Um diabo dentro da grande área. O nome dele era Alcyr, o Alcyr Pedalada. Só que o Alcyr Pedalada era o pároco da cidade. Isso mesmo: um padre artilheiro...
O time do Granada era outro com o Alcyr Pedalada vestindo a camisa 9. Mas nem tudo eram flores naqueles jardins, ou melhor, naqueles gramados da redondeza: é que rolava o campeonato ruralito do interior, e as partidas começavam às 11h de domingo.
Então, enquanto metade da comunidade ia na missa, a outra metade ia no futebol.
Campo pequeno, gramado irregular, bola pesada, camisa de lã... Tudo do bom e do melhor, como manda o figurino do verdadeiro futebol.
O padre Alcyr era o único membro daquela sociedade que ia à missa e ao futebol.
Na real, ele só entrava no segundo tempo.
Sempre no segundo tempo.
Com a 9.
Com fé.
Com uma bomba guardada na perna esquerda.

***

Final do campeonato.
Granada x Arroio Grande.
Membros da Comissão técnica e diretoria do Granada tentam atrasar a partida.
Fingem contusões.
Provocam pequenas discussões e reclamam com o juiz.
Tudo para que o Alcyr Pedalada chegasse a tempo de jogar.
E a missa, do outro lado da ponte, rolando.
Primeiro tempo começa.
Hóstias distribuidas... hinos e louvores na igreja.
O padre já fardado por baixo da batina.
Controlando tensamente o horário no relógio de pulso.
O juiz apita um pênalti pro Granada.
Mas o camisa 10 bate pra fora...
Não tem o cacoete do matador em cobrar penalidades...
Isso é atributo do artilheiro Alcyr Pedalada.
Que, naquele exato momento, canta o hino 3 da página 5 com suas corolas e seus coroinhas.
Intervalo de jogo.
O Granada descansa na sombra.
Que a paz do senhor esteja convosco.
Amém.
Começa o segundo tempo.
Alcyr Pedalada anda o mais rápido que pode com sua bicicleta monareta.
Desce a ladeira.
Bola pra fora: escanteio.
O padre chega e joga a bici no chão.
Num pulo, arranca a batina e joga no colo do treinador.
De imediato sobe a plaqueta: sai João Mondongo, camisa 17, entra Alcyr Pedalada, camisa 9.
O time adversário treme.
38 do segundo tempo.
A bola é lançada pro nosso craque Pedalada.
Ele finta o primeiro.
Passa pelo segundo.
Deixa o terceiro no chão.
De cara com o goleiro.
É só fazer.
A torcida pula!
Ele chutaaaaaa......
Na trave!
Uhhhhhhh, a torcida se inflama.
E o Arroio Grande contrataca.
Já é 43 do segundo.
O balão do meio-campo cai na dentro da pequena área.
O goleiro não vai.
O zagueiro deixa quicando.
Ariovaldo chega-chegando e faz o gol do título para o Arroio Grande.
O jogo termina.
Desilusão geral por parte do Granada.
O padre-artilheiro segura a batina nos braços, desanimado.
Olha desiludido para o crucifixo.
Reclama ao senhor em baixa-voz.
Mas de nada adianta.
Deus não tem nada a ver com futebol.
E futebol é futebol e vice-versa.
A justiça divina nunca se atreveria meter a mão no resultado de um jogo.
Nem mesmo no jogo do Alcyr Pedalada.
O artilheiro diabolicamente e divino...

A FUGA DO BRIZOLA


Pelotas é muito legal... além de capital nacional do Doce, é também a cidade dos cães de rua e dos loucos. Os loucos, por sua vez, se dividem em dois grupos: os que admitem serem loucos e os que não admitem a loucura jamais.

***

Eu não sou louco!

***

Mas o fato é que eu conheço um mundaréu de louco aqui em Satolep. Músicos, poetas... artistas... loucos velhos e jovens, homens e mulheres. E foi com eles que eu aprendi que o perigo do mundo não são os loucos: são os lóques.

***

Então um amigo meu, um louco velho, me disse, numa conversa da manhã, que ele era soldado quando o Brizola fugiu para o Uruguai, após o Golpe de 64. Mais que isso: ele era O soldado que permitiu a fuga do Brizola pras bandas de Montevidéu.
Explico: segundo este meu amigo, o Louco Velho*, o Brizola realmente escapara da ditadura militar vestido de mulher. E o Louco Velho era o guarda responsável pela fronteira naquela fatídica noite. E ele me garante que notou que aquela "mulher" era muito estranha, que usava bota e falava de "interésses", de política e caminhava feito um xirú de Bagé.
Mas havia um detalhe muito significativo em tudo isso. Ele, o Louco Velho, era homossexual e, como não gostava muito de papo com mulheres, não teve ânimo para investigar aquela personagem esdrúxula e seu fusca colorado.
Brizola passou, salvando seu couro e tornando-se um ícone da política nacional. E eu descobri que as mulheres enganam até o diabo... mesmo tendo por baixo da roupa um macho gaúcho da estirpe do Brizola.

***

Hoje pela manhã eu achei um livro, Dossiê Brasil, de Geneton Moraes Neto, e nele tem uma entrevista com o Maneco, piloto do João Goulart em 1964 que resgatara Brizola da praia do Pinhal.
Abaixo transcrevo este trecho da história brasileira que mostra como as mentiras viram verdades e como não se deve dar corda pra louco. Principalmente pra Louco Velho de Pelotas.

GMN- A única pessoa que pode contar a verdadeira história sobre como Brizola saiu do Brasil em 1964 é o senhor - que estava no avião com ele. Há versões desencontradas sobre o que aconteceu. Qual é a verdade,afinal ?

ML - "A verdadeira história da saída de Brizola é tensa. Perseguido pelas forcas da repressão, Brizola se encontrava em Porto Alegre,sem condições de sair do país. Já em fins de abril de 1964, eu, que já estava no Uruguai acompanhando o presidente Goulart, recebi a visita de um emissário que me propôs uma missão: resgatar Brizola no Brasil.
Tive um encontro com D.Neuza (mulher de Brizola). Combinamos, então, um plano de resgate. Dona Neuza chegou a me entregar metade de uma nota de CR$ 1. Disse-me que a pessoa que me procurasse com a outra metade da nota seria o emissário com quem eu deveria combinar o plano para resgatar Brizola.
Poucos dias depois, fui procurado pelo emissário - que trazia a outra metade da nota. Durante dez dias, estudei, no Uruguai, a possibilidade de fazer a operação resgate em Porto Alegre. Eu pilotaria um avião que desceria no Aeroporto Salgado Filho, o que seria arriscado. A alternativa seria descer numa praia no litoral do Rio Grande do Sul. Optei pela praia.
A escolha da praia ficaria a critério dos amigos de Brizola no Brasil. Mas, para descer na areia da praia, eu precisaria saber do horário das marés. Por quê? A maré baixa deixaria livre uma faixa de terra que possibilitaria a descida do avião.
Designamos, então, uma pessoa que ficou encarregada de estudar o movimento das marés. Somente assim, eu teria certeza de que poderia descer na praia. Recebi, então, um informe indicando em que horarios a maré estaria baixa ou estaria alta. Preferi o horário das sete da manhã. Nesse horário, com a maré baixa, eu teria espaço suficiente para descer na areia pilotando o bimotor.
Começamos, então, a executar a operação resgate. Eu usaria o avião do presidente João Goulart para resgatar Brizola no Brasil. Era um avião Cessna 310, prefixo PT-BSB. Já exilado no Uruguai, o presidente João Goulart sabia de todo o plano. Autorizou-me a decolar de Punta del Este. Deixei Punta às cinco da manhã, em direção à praia do Pinhal, onde Brizola deveria estar me esperando. Eu pilotava o avião do presidente. Fui sozinho.
Quando me aproximei da praia, notei que nem todos os planos que havíamos feito estavam se confirmando. Pelo acerto que haviamos feito, deveriam estar na praia um grupo de pescadores, um Volks vermelho, um caminhão e outro carro. Mas, ao sobrevoar a praia, notei que o caminhão não estava lá! Eu deveria regressar ao Uruguai, porque alguma coisa estava errada. Mas, num arroubo de juventude, resolvi me aproximar de qualquer maneira.
Quando eu estava vindo buscar Brizola, sintonizei durante o vôo a Rádio Guaíba. Uma autoridade do governo dizia que em 48h Brizola estaria preso.
Quando cheguei à praia, vi Brizola saindo de trás de um monte de areia. Estava acenando para mim. Pensei comigo: se Brizola veio, então vou aterrissar. O plano deve ter dado certo. Brizola não iria me entregar. Pousei na areia. Abri a porta do avião.
Quando Brizola ainda estava fechando a porta do avião, eu já estava decolando de novo, rumo ao Uruguai! Brizola estava vestido com a farda da gloriosa Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Trajava o uniforme de soldado. Tenso, mas feliz, Brizola parecia aliviado porque iria se encontrar com a família no Uruguai. Tinha saído de Porto Alegre num fusca, junto com uma senhora que demonstrou grande coragem pessoal ao levá-lo ao local do resgate. Passaram pelas barreiras sem serem vistos.
Quando eu disse a ele "Dr. Brizola, já estamos no Uruguai! Acabamos de passar pela fronteira!", ele apertou minha mao e me disse: "Obrigado, Maneco!". Logo após nossa decolagem, nos quinze minutos seguintes, tomei uma decisão como medida de precaução, para que nosso avião não pudesse ser interceptado pela FAB: voei baixo, cerca de um metro acima das ondas do mar.
Brizola chegou a me dizer: "Olhe para trás, para ver se vem vindo algum avião da FAB!". Respondi: "Agora eles nao vêm mais. Porque, com o nosso tempo de vôo, já não há perigo de sermos interceptados". A viagem, com uma escala em território uruguaio, terminou em Solimar, um balneário nos arredores de Montevidéu, onde o presidente João Goulart nos esperava. Assim Brizola saiu do Brasil em 1964."




* Nome fictício

terça-feira, 14 de junho de 2011

DROGA ANTI-DROGA


O cara me falou que o top da modernidade medicinal era a nova droga que já está no mercado: a droga anti-drogadição. É verdade, juro! Diz que os caras criaram uma droga (drágeas ou líquida) que inibe o vício em qualquer outra substância. Ou seja, o cara que é viciado em crack, toma a droga anti-droga e zera a conta.
O fumante... o alcoólatra... o maconheiro e o cheirador... seus problemas acabaram! A moda agora é a droga anti-drogas.

***

O problema agora é que a galera toda tá se viciando na droga anti-droga. Imagina... eu tenho um conhecido que fumava oito baseados num dia. Agora ele toma só 2 capsulas da droga anti-droga e se sente livre. Livre!

***

O outro chamava a sexta-feira de sexta-cheira. Agora, todo dia de manhã, de meio-dia e de noite (antes de dormir) ele toma uma droga anti-droga e fica relax.

***

Mas eu fico pensando: e pras outras drogas, tipo telenovela... antidepressivos... coca-cola... palavra cruzada e religião? Os vícios na maldade, na falcatrua, na mentira...
Pra isso não existe anti-droga...
Pra se livrar disso o cara tem que ser pau-ferro, à moda antiga... no osso do peito.

***

Porque as drogas de verdade não são levadas no bolso.
As drogas realmente perigosas a gente leva na mente.

CORONEL POETA E O PORTUGUÊS CORRETO


A menina me disse ontem que se a gente bebesse água demais o estômago delataria. Delataria até a morte, e eu pensei o quão confusos podem ser os caminhos de um idioma.

***

Na ditadura militar muitos delataram à base de água.

***

Dizem que em toda história de Pelotas, em todos os seus 200 anos, apenas um homem nunca cometera nenhum erro de português. Um homem apenas... sem cacofonias, sem aquele descuido natural dos plurais, (a menina me disse também que estava com dor nos ), enfim... um indivíduo que de sua preciosa e magnânime boca nunca saíram fonemas picarescos, excêntricos, burlescos nem extravagantes...
Mas eu já estava esquecendo, o nome dele é Coronel Poeta. O nome mais bonito que eu já ouvi em toda minha vida, junto com Lobo da Costa, Fernando Pessoa e Chico Buarque.
[Isso sim é que são nomes de poetas... Lobo da Costa... Fernando Pessoa! Chico Buarque!!! Duda Keiber não é nome de poeta... Duda Keiber é nome de tenista de Santa Catarina... É nome de vendedor de petshop em Santa Cruz do Sul.

Isso é que são nomes! Mas o do Coronel Poeta é muito mais bonito. Ainda mais por saber este fatoresco pito, dele unca ter falado uma bobagem idiomática sequer. Nenhum menas... nenhum porquê equivocado. Nada. O Coronel Poeta nunca errou. Ele só errou quando pensou estar errado!

***

E eu tô tão longe do Coronel Poeta na língua portuguesa que eu até poderia ser o Soldado-raso Alfarrabiano.

***

Mas o legal é que a linguagem se transforma. A cada dia nascem e florescem neologismos, novas forma de escrever. Novos jeitos de teclar. Tc. Me add no msn! qq hr tc ctgo, sem ponto nem letra maiúscula, nem parágrafo... Para o terror do Coronel Poeta... Para a dinâmica pressa que vibra dentro da língua... E eu aceito essas transformações... é uma onda que eu surfo, saca? Se não a língua seria rocha e não língua.

***

Eu tenho um amigo que ainda usa máquina de escrever, onde nenhum neologismo é aceito...
A máquina de escrever não admite resumos... ela é um veículo que só os ases dominam. Até o plim do fim da linha. Ela é feita para os pacientes esforçados.
E para caras como Coronel Poeta.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

TRUCO


2 de paus e não se dobra
Lagartixa atrás da cobra
E jacaré comendo abóbra.

terça-feira, 7 de junho de 2011

ETERNIDADE CIRCULAR


A eternidade é a transformação constante
Somos informações mutáveis num corpo que envelhece
A eternidade segue
Nós seguimos...
O fim é o retorno ao início
O início é o princípio do fim
Este agora também é passageiro
Infindavelmente passageiro...