sexta-feira, 31 de outubro de 2008

ARQUÉTIPO


Olha
Pensa
Pula
Anda
Lava
Sai
Volta
Liga
Senta
Deita
Dorme

Ele
Que julgava se conhecer
Não entendia o quanto
Faltava
À completude
De seu arquétipo.

OFÍCIO DE NOMEAÇÃO


O governador advertiu o secretário-geral pelo esquecimento do nome do funcionário no ofício de nomeação
O secretário-geral sacudiu as estruturas do gabinete do chefe departamental por ele ter enviado daquela forma o ofício de nomeação
O chefe departamental xingou o escrevente por ele não ter digitado o nome ARTUR AZEVEDO no ofício de nomeação
O escrevente ofendeu o estafeta por ele ter demorado tanto com o papel timbrado do ofício de nomeação
O estafeta esmurrou o preto dos serviços gerais que perdera a chave do armário do papel timbrado para o ofício de nomeação
O preto dos serviços gerais, sem ter a quem culpar, voltou pra casa carregando toda aquela diferença hierárquica na pequela mala de sua honra. Abrindo o portão, deu um pontapé no cusco que viera recebê-lo, como de costume, abanando o rabo. Diga-se de passagem que o cachorro preto não tinha nada a ver com o referido ofício de nomeação... Mas quando conseguiu alguns minutos de liberdade (falo do cusco, não do preto), correu sem rumo até chegar à avenida e, num instante mesclado pela opressão e medo, reagiu ante a proximidade do governador, mordendo-lhe a canela.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

MANCHETE


Deu de eleições, falemos de bola
Que lá de cima a vida é pouca
a onda, baixa
E te cobrem pensamentos
cabelos vermelhos...

Aonde dizes estar o eco
do espelho refletido
dentro ou fora do teu olho?

O que lês nesta manchete de segunda?

VOCÊ JÁ DEU A SUA FOLHAMACHADA HOJE?

www.folhamacho.wordpress.com

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

PEPE DIARONIORANDO

Pepe Ludo é um português mestre em ciência política. O Pepe veio pra Pelotas em 96, fugido de uma polaca grávida pela (e com a) qual cruzara em Lisboa. Aqui ele se naturalizou e vota, na 60ª do Laranjal, desde as eleições de 2000.
Esses dias a pesquisa da revista Vagabundaqui entrevistou ele sobre as intenções de voto para o segundo turno.

Vou votar no Diarone!
Mas seu Pepe... O Diarone já foi eleito pra vereador.
Mas eu vou votar no Diarone!
Mas seu Pepe... agora é só entre esses dois aqui óh... que são os candidatos a prefeito.
Eu quero o Diarone...
Seu Pepe... vou lhe explicar melhor... Se as eleições fossem hoje, hoje mesmo, hoje hojinho, o senhor votaria no Fetter ou no Marroni?
Hummm... ah tá... se fosse hoje?
Sim seu Pepe, hoje...
Hum... no Diarone.

MORAL: O voto é obrigatório, mas a burrice é livre.

LEVE SOM


A aristocracia quer poder... A pseudo-esquerda também... O juiz de Direito diz que o martelo é dele... Um vereador nepotista veio me cumprimentar, sorrindo pela reeleição, como se eu tivesse votado nele... ele e sua troupe também gosta de poder...
A faxineira que virou chefe e brigou com as outras adora poder... o antipático dono da lotérica troca todos os seus minutos por cheques, achando que depois trocará as cifras pelo tempo perdido... ele ama o poder.
Cada um pode querer o que quiser... Cada um pode poder o que puder... E enquanto medem o tamanho de sua ânsia, capino de pé no chão, escutando um leve som...

BARRIGA


A pior obesidade é ter a alma barriguda.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

NEM TUDO


Penso e penso que penso, mas na verdade sou pensado. Tudo o que imagino capto, de alguma forma, das informações inerentes ao tempo, ao éter, às bocas que rebeldes falam e aos ouvidos, que curiosos, pegam.
Sou eu e minhas circunstâncias... essa é velha, mas tá inteirinha ainda. E enquanto pairo à amálgama das informações latentes, vou sendo forjado cinicamente ao que creio ser, sem perceber que antes de ser, morrerei. Antes de pensar, o cenário já está montado. Assim como a descarga leva tudo (ou quase tudo) e a borracha apaga tudo (ou quase tudo), a conclusão apaga as teses no caminho da lógica ou da dialética, pois nem tudo o que acredito concluo...
(ou quase nem tudo...)

QUANTO VALE UM HOMEM?


Nunca fui representado por nenhuma máfia... Até porque se colocasse todas as siglas partidárias dentro de um panelão, tiraria merda e grana. Como ainda não preciso comer merda, como fazem os filhotes da máfia que se grudam nas tetas públicas, nem preciso manusear grana suja de interesses inóspitos, esta receita não me interessa.
Não gosto de prostituição e troca de influências nos subterfúgios politiqueiros... Não questiono o preço do homem, mas os seus valores. Sou quase um punkpolítico, embora não seja contra tudo ou contra nada. Apenas aprendi que as coisas que mais valem são pequenas e o mundo que realmente importa fica do meu portão pra dentro.

PAVLOVIANAS


Faltava o que lhe era conveniente... sobrava sujeira naquele copo d'água... Ele levantava vagarosamente seu cadáver dormido da cama quente, alguns instantes após ligar a tevê com as novas de ontem... às vezes escovava os dentes, na projeção diária de que encontraria alguém que lhe valesse o bafo, às vezes não. Vestia-se nas feias vestes, repletas de furos dos ácaros famintos, que comiam pele morta, como ele fazia em suas ceias e jantares. Calçava as botas úmidas da água constante de Pelotas, e sempre saía de guarda-chuvas, como forma de tatear seu medo... medo de tantas coisas que, antes de viver, calava.
Passava entre os mesmos marcos de sua metódica história... cumprimentava as mesmas pessoas... pairava sobre o ritmo hipnótico e certo de seus passos que, ao passar pelas mesmas esquinas, rastreava seu cheiro sôfrego de escravo da vida...
Às vezes bebia, no banho cantava... tomava os goles do café, que se frio indiferente ante à pressa rumo ao nada, e empinava o dedo mingo ao céu. Comia doces e salames junto, pois pra ele seu corpo não passava de uma "fábrica de bosta". Ignorava o silêncio, como se o barulho lhe tornasse pleno, e falava coisas sem interesse às garotas da rua. Contava as moedas do cofre aberto pela ânsia imediatista e revelava segredos antes de dormir às paredes que ouviam tudo...
E antes de pôr o resto das vestes na mala, naquela que seria sua última viagem, deu comida aos gatos.
Sua última síntese terrena deixara num caderno velho, carcomido pelo tempo. E sua derradeira e metafísica síntese, que abrigava do seu existencialismo depreciativo à sua concepção neocapitalista, ainda desconheço... É que do éter pouca conclusão me chega... e se chegasse, me obrigaria a olhar nos olhos de minha própria idiotice refletida.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

CARA OU COROA?


E quando as caravelas entupidas de sífilis e jesuítas chegaram, revelaram aos nativos que teriam, a partir de então, civilizada e ocidentalmente, e enfim, por fim, o grande contato com deus. Seriam gente, por assim dizer.
Hoje vejo o que restou dos índios escondidos sob lonas pretas em beira de estradas, penso no deus que os homens buscam...

SUPERADOBE


A permacultura é realmente um grande instrumento a ser potencializado. É inovadora, não só em termos de bioconstruções, mas também no desenvolvimento organizacional de ecovilas, outro termo muito moderno que vem sendo trabalhado ante o colapso do convívio social e da qualidade dos dias na metrópole. Claro que sustentabilidade, ecovila e permacultura são gotas no oceano do processo de ruptura e crises em que a sociedade contemporânea se encontra, sejam elas ambiental, social, política ou estrutural. Vejo também o calendário de 13 luas e 28 dias como a forma mais eficaz de fazer do agora arte, de perceber o deísmo das coisas, de perceber os cristais que cada um traz consigo, o outro eu... o eu em outros... Da justiça harmônica à organização participativa...
Mas assim como creio em tantas outras coisas, não farei aqui dessa postagem um amplo campo das coisas em que acredito, um festival de realidades, pois nem quero, nem tenho certeza do que sei, e posso também estar falando um monte de equívocos viciados em meu ponto de vista... Mas se não puder lidar com meu singelo e limitado ponto de vista não teria um blog, e sim um universo só pra mim, assim como o magnata burguês personificado que a igreja chama de deus.

***

Este tópico é sobre o superadobe, um método de construção revolucionador criado em estudos da Nasa por um iraniano chamado Nader Khalili e que objetivava edificações em solos lunares. A base dele, o superadobe, é o saco de tecido de polipropileno preenchido com subsolo, o que o torna, talvez, na maneira mais simples de construir com terra, pois não é necessário fazer qualquer teste com o material, não é preciso peneirar a terra, nem moldá-la e nem acrescentar palha. As paredes são erguidas muito rapidamente, mas é preciso ter uma equipe de pelo menos cinco pessoas.



O superadobe necessita de ferramentas simples para sua execução:
- um pedaço de cano que servirá como funil (tubo de PVC de 250 mm é o ideal)
- pedaços de sacos de polipropileno (servem também sacos de adubo),
- soquetes
- arame farpado (colocado entre as camadas)
- baldes
- marretas de borracha para aprumar as fiadas.

O rolo de polipropileno (bobina) tem aproximadamente 50 cm de largura. Ele é cortado em pedaços do comprimento da parede a ser construída, deixando-se uma pequena sobra em cada ponta para fazer o acabamento.
Este grande saco vai sendo preenchido com terra, com a ajuda de um cano que funciona como um funil. Assim vão sendo formadas as “fiadas” (camadas) que depois são - bem - socadas, cobertas por outra fiada e assim sucessivamente, até a parede ser completamente erguida.
As paredes devem ser isoladas do contato com o chão, para evitar problemas com umidade, utilizando o próprio superadobe, só que em lugar de terra, deve-se usar areia e cimento, na proporção 9/1, nas primeiras fiadas, até acima do nível do solo.

É muito importante que as fiadas sejam muito bem socadas. Quanto mais compactada, melhor será a sua parede. Sempre fique atento ao prumo!


As paredes de superadobe são estruturais, portanto dispensam a construção de pilares ou vigas, e permitem instalações elétricas e hidráulicas embutidas ou aparentes.
Após a remoção do saco, o recomendado é a utilização de um reboco natural, à base de cal hidráulica e terra.

PARA SABER MAIS:
http://www.ecocentro.org
http://www.ecocentro.org/bioconstruindo/superadobe.html
http://www.vimeo.com/1491473

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ALMAR


O que quero pra mim é calmaria. Não quero que os ventos soprem meu cabelo ou as páginas do livro que leio silenciosamente numa tarde divinal. Quero ouvir os pássaros cantando enquanto acordo o beijo de meu filho... quero pessoas educadas, que freqüentem meu lar em amizade harmoniosa e pura. Quero poder andar descalço pela praia, tocar a água e beber de uma cascata... Quero poder chutar bola com a criança interior, numa perspectiva de que tudo anda, vagarosamente, sem precisar das horas. Imagino o sol do inverno brindando a pele e um fruto doce colorindo a boca, um olhar de anjo da mulher amada e um Quintana a deixar rastros de vida poética pra eu seguir...
Quero que a noite caia lentamente e a chuva bata na janela, como palmas pros meus sonhos. Quero regar as plantas do jardim e reparar nas aves que migram no caminho da tarde, desenhando formas entre nuvens brancas. Quero ouvir a música do Laranjal e ver cachorros brincando na singela alegria do não-desejo. E quero muito, muito mais... Mas o que quero é simples, e por sê-lo, parece tudo ilusão dentro da metrópole cinza. Parece que no ar que respiro e nutre a vida do meu corpo tem sujeira: a poeira dos outros. Parece que o que falam perturba, e não deveria, pois meus ouvidos (e olhos) são portas e só cabe a mim abri-las.
E me constranjo em saber que o mundo que perturba é a opção imediata que realizo e faço parte: sou a própria culpa que vejo nos outros, por não fazer o que de fato penso. Sou o próprio criminoso que procuro pelas ruas do meu dia...
Mas tudo bem... o ego cala e a tarde cai, da mesma forma, até o final dos tempos. O sol renasce numa rotação contínua do nosso planeta. Os anos passam enquanto giramos pelo cosmos. As Eras vão (precessionalmente) em direção ao nada, do nunca pro sempre... E, de carona, me calo a olhar pela janela.
Na verdade, a cada passo, passo. O tempo é curto para ser pequeno... é eterno para ser contínuo... e é exato pra ser questionado.

NÃO É SERTÃO DE ALAGOAS


Já falei mais de mil vezes que não gosto de politicagem. Aqui em Pelotas, como em boa parte do país, a febre é de se falar em eleição e eu não posso cair nessa. Mas hoje realmente fiquei de saco cheio, porque me senti mais uma vez ameaçado por um CC do atual prefeito. E eu tenho paciência, quem me conhece sabe... Então essa postagem serve apenas de aviso: da próxima vez que eu for intimado, falarei de todos os podres que a administração tem feito aqui, na autarquia em que trabalho. E isso não tem nada a ver com apoio a candidato A ou B: eu quero que os dois se ferrem. Mas quero algo além disso: quero ficar sossegado no meu canto, sem me sentir devedor dos meus direitos... sem me sentir oprimido ou serviçal de firma quebrada de jagunço... Da próxima vez que esses politiqueiros nojentos dirigirem a palavra a mim, redigirei uma postagem demolidora e uma carta detalhada à imprensa.
Porque não sou pelego nem pinico de cambada: fiz concurso, pago imposto e não careço de teta partidária pra viver.

domingo, 5 de outubro de 2008

MÁXIMA DA ELEIÇÃO

Vote bem, não importa em quem!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

P.nt. exat.

Um ponto exato
entre o conexo e o discreto,
uma carta de amor,
um grito de gol anima o mundo...
aquela tarde era tão quieta que ouvia-se os respirares da morte
[os passos das baratas entre os vãos

e eu, que catava entre um e outro cáqui
[despretensiosamente
vivia um tempo em que o agora inda não era assim, tão presente
e contava os passos na calçada

brincando de ir...
brincando de ir...

VOTE ROBALO


Últimos dias de campanha do candidato Robalo e ele passa na vila, de porta em porta, entregando santinho.

Com licença... eu sou o candidato Robalo! Eu poderia entregar um santinho?
É qui eu num sô u dono da casa... sô só o pintor só!
Ah...

Com licença... eu sou o candidato Robalo! Eu poderia entregar um santinho?
Infelizmente eu estou atrasado para buscar uma janela que prometi pra minha sogra. E eu sou muito honesto, sou um cara verdadeiro... prometi e vou cumprir. O pessoal aqui da vila já me conhece, sou o Romualdo, mais de 20 anos trabalhando em prol das crianças e dos velhisnhos, dos brancos e dos pretos, das mulheres e dos homens...
O senhor também tá fazendo campanha, seu Romualdo?
Não não... eu vendo bala. E me dá licença que tô atrasado.

Com licença... eu sou o candidato Robalo! Eu poderia entregar um santinho?
Vai te fudê!!!

Com licença... eu sou o candidato Robalo! Eu poderia entregar um santinho?
Ah sim... como não?
Assessor Pacheco... Os santinhos, fafavore!
E quais são os seus projetos, seu Robalo?
Hum... pra revelar os projetos aí é mais caro.
Ah tá...