O sistema é um botão
Tão distante e sigiloso
E alguém atrás para apertar-lhe
Ao seu bel-prazer moroso.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
sábado, 26 de outubro de 2013
OS SINGULARES PLURAIS
Campi é um plural sem S
Qualquer tem plural no meio
Lápis, plural de si
E blitze é o plural mais feio
Plural vem depois do um
O um do zero o teor
Que o zero não tem nenhum
Plural que lhe dê valor.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
NANDO
Eu moro em lugar algum
Eu moro nos meus sonhos
Que me encontram noite afora
Dia adentro...
De manhã
Eu moro nos meus planos
Que se espalham pelo chão
Da tarde...
Diário de Gogol
Nuvem sobre o sol
Outro limbo
Paralelograma
Praça pós-humana
Ser infindo.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
terça-feira, 22 de outubro de 2013
LOTAÇÃO 252
Lotação, lotação
Deus me livre, nem me conte
Já parou 40 vezes
Inda nem desceu da ponte
Lotação 89
De manhã foi dois-dois-dois
Motorista, não comove
O porquê do seu depois
Lotação 45
Da praia de São José
55 sentados
95 de pé
Lotação amargurada
Como é bom descer de ti
Minha rua na parada
Desde a hora em que parti.
domingo, 20 de outubro de 2013
OS PÁSSAROS E AS FORMIGAS
É esta uma das coisas que mais me entretêm: ficar olhando
silenciosamente os pássaros chegarem lentamente ao alpiste, numa cena
momentaneamente eterna em que ouço o vento balançando os galhos e vejo
dançarem no chão as sombras criadas pelo sol da tarde. Reparo pequeninos detalhes
do lugar... uma borboletinha marrom e seu célere mundo, a organização das
formigas, as flores do cinamomo que deslizam pelo ar, o remoto grão de areia
que reluz entre os demais.
Eu poderia estar com pressa, talvez a que possuem os
solitários... Eu poderia também estar traçando planos de trabalho ou abrindo
novos anexos de responsabilidade enquanto estes pássaros cantam e comem
alpiste, mas o silêncio é quase impossível na cidade e a humanidade está sempre a correr para dentro dos shoppings. Eu poderia estar em tantos lugares, tantas gentes esperam
por mim, mas a solidão e o silêncio é o que mais alto me chamam, aqui, junto ao
muro verde que me cerca, junto à fauna alada dos pardais, asas-de-telha, sabiás
e canarinhos. Junto às formigas que andarilham entre meus gigantes pés.
***
O pardal prefere ciscar o chão. Tremendamente próximo ele
chega da humanidade, a qual aqui eu represento como único exemplar, um inerte
dominante. E de mim chega tão próximo, sem medo nem pronome nem vergonha, e eu, como
ele, cisco pelo chão as novidades deste micromundo neste macroperpétuo
instante. Enquanto isso, numa mesa de reuniões, alguém discute sobre vaidades e
honorários, sobre horas programadas de outro dia egoísta sem paixão, que ignora
se é um dia a mais ou dia a menos, pois viver passou a ser a conquista de
moedas e a obtenção da razão.
Hoje o dia tem o céu azul. As horas já deixaram de ser tempo
e eu percebo que ter razão é ter bagagem. Eu vejo as coisas tão pequenas pelo
chão e elas me vêm imensamente grande, mas a diferença entre estas dimensões é
apenas um ponto de vista... um entre tantos outros que existem entre o fato e a
verdade, entre o ser e o existir, e ter razão então passou a ser desnecessário, como
é desnecessário qualquer julgamento sobre as coisas ao redor.
Ter razão é estar preso... Ter razão é estar numa gaiola da verdade... é manter um patrimônio obsoleto acima de tudo, um bigode ridículo na cara... pois a verdade pode vir a ser uma tatuagem que não se quer mais. Por isso, quanto mais eu penso estar convicto, menor estou, mais distante do vazio, que é a imensidão mais factível onde todas as verdades se encontram.
E é isso que eu aprendi com os pássaros e as formigas.
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