terça-feira, 31 de julho de 2007

BOOM

Professor de homem-bomba só dá uma aula.

MESTRE II

Olá Gran Mestre!!! Meu nome é Genaro... Góciguinte, seu Mestre. Eu tô arrebentado... Tô desempregado, cheio de conta pra pagá, móro num barracão com minha muié gorda, a Vânha, minha sogra, aquela cobra cascavér, e meus 5 fio desnutrido, coitados. Meu time tá em úrtimo e nem pra pinga eu tenho moeda, seu Mestre. A minha sorte, seu Mestre, é que tenho uma vaquinha que dá leite e não dêxa os muleque passá fomi, tá entendeno? Eu quero saber o quiquié quié qui eu faço pra minha vida meiorá, seu Gran Mestre?
Hum... Genaro, ãh? Hum... Vamos ver... deixe-me consultar os astros... as mandalas... Hum... Genaro, né? Hum... Seguinte, seu Genaro, bota a vaca morar dentro de casa!
Macumé seu Mestre? Numtendi... Botá a vaca morá com a genti? Cê tem certeza, seu Mestre?
Ô rapá... que vai questionar, pô? O mestre aqui sou eu ou és tu? Além do mais, já te falei o que é pra fazer. Se não quiser não faz e te fode. Agora dá licença que eu tenho muita gente pra atender. O próximo!!!
Putz grila... Que mijada... Mas ele é o mestre e eu sou só o Genaro. Buena... Vanha!!! Traz a vaca pra dentro!
Mais capaiz Genaro! Trazê a vaca?
Faiz isso aí muié, que foi o Gran Mestre quem mandô! Vamo muié, e tu fica quieta cascavér, que quem não paga as conta aqui sou eu.

(3 meses depois)

Ô Gran Mestre... Dalicença... O sinhor tá lembrado de mim, Genaro, eu tive aqui há uns mêis atráis, o da vaca, lembra?
Claro rapá... Eu sou o mestre, pô. Eu sei de tudo. Fala Genaro, qualera?
É que a vaca arruinô minha vida, seu Mestre. Tá cagando por tudo, quebrando os troço, juntando mosca. Além do mais, seu Mestre, tá durmino na minha cama, seu Mestre, e troxe umas doença pras criança, tão tudo bixada. A muié tá com berno e umas ferida na cara. A única coisa boa foi a disinteria da sogra, seu Mestre. Eu quero saber o que é que eu faço pra ter uma vida boa, seu Mestre? O sinhô tem qui mi ajudá... O que é que eu faço, seu Mestre, prum poquinho de conforto só?
Hum... Genaro... Vejamos... Hum... Astros, astros.... hum... Genaro... Tira a vaca de casa!

MESTRE

Pode passar o próximo!!! Bom-dia, pode passar. O Mestre o aguarda no grande saguão. Mas lembre-se, você tem apenas 3 perguntas a fazer ao Gran Mestre, de modo a não cansá-lo ou perturbá-lo. Entendeste?
Sim...
Entre...
...
...
(Mas que cara estranho, meu deus... será que esse magricelo é o mestre?)
Bom-dia?
Bom-dia!
Você é o Mestre?
Sim.
O Gran Mestre?
Sim.
Eu queria saber...
3 perguntas encerradas. O próximo!!!

MEU NOME

Sabe ontem eu quis te mostrar
Encontrei um ninho de passarinho,
Flores brancas pra te coroar
E um balanço pro nosso filhinho

Eu vou
Eu vou te levar pra ver o céu,
Desenhar letrinhas num papel
Eu vou te contar meu sonho

Eu vou
Deixar poesias sobre o mar,
Trazer samambaias pra te dar
Eu vou te beijar na chuva

Hoje à noite eu vou te telefonar
Fiz uma casinha numa ameixeira
Acho que domingo vou voltar
Se marcar fico a semana inteira

Eu vou
Eu vou te levar pro mato, euvou
Eu vou amar teu retrato, vou
Eu vou te levar pipoca

Vou
Dizer coisas simples, te fazer chorar
Falar sobre o tempo, te ensinar
Eu vou te deixar meu nome.

Ô BERNARDO

É só tu que lê meu blog?

sexta-feira, 20 de julho de 2007

FIN E FIM

Passei a seman com um som do Andrés Calamaro na cabeça. Dias e noites a fio e ele lá, entoando o lá menor e outras notas... Chama-se Loco, a música; é linda, dançante... bem popcastelhano, que eu me amarro.

Voy a salir a caminar solito
Sentarme num parque a fumar un porrito
E mirar a las palomas comer
El pan que la gente les tira
E reprimir el instinto asesino
Delante de un mimo o de un clown
Hoy estoy downviolento, downradical
Pero tengo entendido el papel principal
Yo soy un loco
Que se dio cuenta
Que il tiempo é muy poco...

O tempo é curto? Não sei... Acho que o tempo não se mede... Dele tudo deriva... Nós é que queremos viciá-lo em finitude.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

CHOCOLATE

Estavam lá! Horas, dias, semanas se passavam e eles continuavam lá! Entrincheirados! Devidamente camuflados, esperavam a ordem do comandante Vierbach para atacar a tropa inimiga. Tensos, entreolhavam-se. Havia meses que não saíam dali. Mas aquele dia era diferente: os tiros cobriam-lhe as cabeças como se o céu lhes estivesse cuspindo fogo. O medo e a ânsia faziam os soldados esquecerem o frio, a fome e o passado: nada mais havia! Apenas o sangue e a destruição, o ódio e a ambição, brindados com o perfume da morte.
- Hans!? Que dia é hoje?
- Seis de junho, Markus.
Ao som das balas, os primos Hans e Markus, soldados do 3º batalhão da infantaria nazista, recrutados aos vinte anos de idade, mantinham seu companheirismo de infância. Cresceram juntos e se amavam como irmãos. Não tinham muitos objetivos na vida e seus ideais políticos nem eram tão fortes assim, mas tiveram que servir o exército do terceiro Reich e esta era a realidade.
Nunca puderam optar muito em suas vidas. Hans ajudava o pai numa oficina mecânica, em Dresden. Markus estudava música, na mesma cidade. Eram pobres e sabiam que só seu árduo suor poderia proporcionar o brilho metálico e vil aos bolsos sedentos e humanos. Não pensavam muito em tudo o que lhes rodeava nem davam a real importância aos pequenos detalhes que lhes faziam felizes. Mas na guerra era diferente: Markus lembrava do seu violino, das meias que sua mãe guardava com carinho em suas gavetas e do jeito de seu pai deitar no sofá após as refeições. Hans queria, ao menos mais uma vez, tocar os belos seios de sua amada Anna, sentir o perfume das fréseas no lago e ter os pés cobertos por sua mãe, como na infância.
Sabe-se lá quem dirige esta máquina louca do destino, só se sabe que ela fez escala no inferno e deixou os primos lá, para uma viagem sem volta. Estavam no exército alemão e, quisessem ou não, deviam se adaptar às regras, à política e à luta.
- O comandante Vierbach foi atingido! O comandante Vierbach foi atingido!
- Você está bem Markus?
- Sim.
- Como vai a perna?
- Ainda dói.
- Continue abaixado. Não saia da trincheira. Trarei-lhe água.
Hans correu até o centro da trincheira, esquivando-se de centenas de corpos que lhe atravancavam o caminho. Fora buscar morfina para o primo que havia sido atingido na perna. Tinha pressa: Hans sabia que Markus não agüentaria a batalha. Era frágil. Hans sentia o primo esvair-se como a brisa na manhã e o sol, que antes lhe dera força e inspiração para tocar seu violino, amanhã estaria putrificando seu cadáver pálido. Corria: Hans corria.
As balas e os gritos formavam a ópera de Thanatos e o vermelho se espalhava pela praia como se o sangue brotasse da areia ou escorresse pela pele úmida do planeta. Hans, ao longe, ainda pôde ver o corpo de Markus ser levado por dois soldados à enfermaria, mas nada conseguiria fazer. Não podia evitar que Markus fosse embora.
De volta à trincheira, Hans apenas observava sua tropa diminuir: um por um, os soldados nazistas iam caindo, como sementes que voltam à terra. No comando do general Dwight D. Eisenhower, as tropas do Eixo avançavam sobre as areias da Normandia. Mas Hans sentou: estava cansado por aquele dia. Na verdade, estava cansado de tudo, porém, ainda tinha sede de vida. Queria ver seu pai, abraçar sua mãe e amar Anna, dentre tantas outras coisas. Mas não sairia dali. Ficaria sentado. Afinal, ninguém lhe mataria se não fizesse nada! Jogou a arma longe, mas as balas e os gritos não cessavam. Resolveu olhar sobre os morros da trincheira, percebeu os inimigos tão próximos que até podia sentir o cheiro da ira e o gosto de seu próprio sangue na boca.
Sentou-se novamente. Entre os mortos, Hans chorava. A vida era um filme em sua cabeça. Hans olhou para Gerard, um soldado de Munique que conhecera no campo, agora inerte e teso, com uma bala entre os olhos, e notou que algo fazia volume em seu bolso. Aproximou-se e achou um tablete de chocolate. Um simples e insignificante chocolate. Hans sentou do lado do corpo de seu amigo e notou-se rodeado de soldados que, impávidos, lhe apontavam as armas e lhe gritavam ordens em francês e inglês. Mas se Hans não os entendia, eles menos ainda. Com os olhos fechados, Hans deliciava-se com o pequeno chocolate, o qual o fazia lembrar dos doces que sua avó trazia para ele e Markus nas tardes de domingo em que brincavam na varanda. As armas não lhe significavam mais. Nada importava, nem mesmo a morte. Os gritos e as balas não mais ruíam seu pensamento. Estava liberto. Aquele chocolate era a vida! Não entendeu o porquê de tanto significado em um medíocre doce. E foi a última coisa que não entendeu e o último gosto que sentiu: fora executado com oito tiros, ali mesmo, na trincheira. Mas nada disso importa, Hans já havia entendido tudo.

ÓPTICA

Há estrelas que perderam sua energia
há milhares de anos
e ainda podemos ver sua luz
[tamanha sua distância

talvez aqui também já estejamos todos mortos.

EU SOU (PRECE AO LARANJAL)

Amanhece na Lagoa
E uma nova onda encantada faz brilhar
O Sol

Borboletas da montanha
Violetas na janela,
Paz no roseiral

Doce chuva molha o ar
Minha íris segue o arco pelo vasto céu
Beija-flores brincam de voar
Novas cores para acordar as vidas de papel

Sei, eu sou presente
De um mundo que é seu também
Olhe tudo ao lado
Quantas são as dádivas que você tem?

Nasce a fogueira sagrada
Bem-te-vis constróem ninho
Bem no meu quintal

Um sorriso de criança
Uma sombra de figueira
Lua de farol

Uma água cristalina
Minha alma vai cascata acima me levar
Sete anjos das estrelas
Trazem luz em suas bênçãos para celebrar.

DO TREM

Triste sina do trem
Vai trilhando seu destino
Para os braços de ninguém...

FREQÜÊNCIA SCHUMANN

Você já deve ter tido a sensação de que os dias parecem estar mais curtos, que os anos têm passado mais depressa, que ontem foi Natal, hoje já é Carnaval e amanhã já será um novo fim de ano. Deve também ter ouvido alguém comentar que "o tempo está voando" e se pego surpreso com a data em que se encontrava. Mas, de fato, o que realmente está acontecendo com o tempo? Será que o ritmo acelerado do cotidiano nos ilusiona ou está mesmo havendo alguma coisa com o planeta Terra?
Em 1952, o cientista Winfried Otto Schumann descobriu, pesquisou e registrou um campo eletromagnético existente entre a Terra e a ionosfera (cerca de 100 km acima da superfície) que emite uma freqüência na casa de 7,83 pulsações por segundo, ou seja, 7,83 hertz* (Hz), classificada como banda de freqüência extremamente baixa (ELF). É que quando a Terra gira sobre seu eixo em rotação, as moléculas presentes abaixo da ionosfera sofrem atrito, gerando, logicamente, energia. Esta energia produz um campo magnético que, por sua vez, possui uma ressonância (chamada então, em homenagem ao físico referido, Ressonância Schumann) que atua sobre todos os seres vivos do planeta, caracterizando, à sua maneira, a vida em nossa biosfera. É uma espécie de marca-passo de toda vida terrena. Astronautas isentos à freqüência Schumann, em viagem espacial, adoeciam. Eram então submetidos a um simulador Schumann, melhoravam e recuperavam o equilíbrio. E foi assim durante milhões de anos: o ritmo das pulsações da Terra era harmônico e havia um relativo equilíbrio ecológico e mentes mais sãs, menos obsecadas.
Foi então que nas décadas de 80 e 90 houve impressionantes observações acerca da Ressonância Schumann: seu módulo de 7,83 Hz havia aumentado para a casa de 11,8 e, depois, para 13 Hz. "O coração da Terra disparou", segundo o teólogo Leonardo Boff, em artigo sobre o tema. Em consoante, recordes furacões, tempestades e outras perturbações climáticas, atividades vulcânicas, desequilíbrios ecológicos, além de conflitos armados por todo o mundo e um crescimento geral dos "comportamentos desviantes" do homem social ocorreram. Devido a esta aceleração, a jornada de 24 horas na verdade seria de somente 16 horas (alguns físicos falam em 12 horas) e, por isso, estaríamos sentindo os dias tão fugazes.
O certo e preciso é que a freqüência Schumann atinge todos os seres vivos e, no homem, age de maneira peculiar. O ser humano possui uma freqüência cerebral natural que, por sofrer influência externa da Ressonância Schumann, seria, na maior parte do tempo, correlata à casa de 7,83 pulsações por segundo. Essas ondas que formam a freqüência cerebral humana podem variar de acordo com a situação fisiológica do indivíduo, ou seja, conforme seu nível de vigilância (acordado, dormindo, sonhando etc) o homem pode apresentar ondas do tipo beta (14 a 30 Hz, comum em adultos em vigília), alfa (8 a 13 Hz, típico dos momentos de repouso, meditativos, com os olhos cerrados), teta (4 a 7 Hz, encontrada em crianças e adultos em estado de sonolência) e delta (1 a 3 Hz, ocorre em crianças recém-nascidas e durante o sono). Deste modo, uma variação extrema na Ressonância Schumann poderia provocar, diretamente, reações adversas na humanidade e isto implicaria numa mudança de atitudes e compreensão da existência imperceptível ao Homo sapiens.
O que entra em questão é a relação do homem com seu irmão, em sociedade, e também com o planeta, como organismo vital à sua sobrevivência. Com a variante Schumann, o homem estaria vibrando à freqüência beta, do homem acordado, da freqüência acelerada. Neste estado o homem está preparado para perceber o mundo da terceira dimensão, perceber a matéria mais grosseira, com mais rapidez como desviar de um obstáculo quando se está dirigindo ou agir sobre reflexos motores, realizar serviços mais brutais e até guerrear fisicamente. Neste estado de beta o "sentir" do ser humano é pequeno, limitado, se atém apenas à parte grosseira das freqüências da matéria e da sobrevivência física. É no estado de beta que existe para nós o tempo e o espaço. É a ressonância do homem belicoso, do ser materialista, das ânsias egoístas.
Contudo, a Terra está lutando para retornar a sua ressonância original, e vai conseguir. Não sabemos que preço a humanidade (e toda biosfera) pagará, pois, assim como afirmam os astronautas de suas naves, somos uma coisa só, um mesmo organismo vivo, e responderemos em conjunto pelos danos que estamos produzindo. Se, portanto, quisermos seguir viagem em nossa nave azul, devemos começar a alterar nosso comportamento ante Gaia. Sejamos responsáveis com nosso lixo e nossa água e cuidemos de nossas flora e fauna. Vivamos com mais cordialidade e menos angústias, mais sorrisos e menos desejos. Vibremos com mais amor e serenidade e tenhamos, segundo Boff, "coragem de ser anticultura dominante, que nos obriga a ser cada vez mais competitivos e efetivos. Precisamos respirar juntos com a Terra, para conspirar com ela pela paz".





* Embora registrados picos adicionais de ressonância em 14, 20, 26, 33, 39 e 45 Hz, a freqüência 7,83 é a de maior ocorrência e, portanto, chamada de fundamental.

TERRA: QUEM POSSUI A ESCRITURA?

Um colono judeu se retira com a família lentamente do assentamento em Homesh. Deixa uma vida para trás... olha tudo o que construíra sobre os ombros pela impossibilidade racial de sua ali presença. No outro lado do mundo, um mexicano é morto ao tentar cruzar o muro de 3.140 km na divisa com os EUA... No mesmo instante, no Brasil, uma outra muralha é levantada sob a Ponte da Amizade para separar as economias tupiniquim e paraguaia. No Golfo, xiitas iraquianos preparam uma emboscada letal para crianças sunitas, enquanto que em Berlim, um neonazista espanca um negro na calçada, onde antes ficava a muralha que dividia os olhares do ocidente e oriente.
É manhã no Laranjal. Um Jorge Drexler toca enquanto olho a chuva na janela. Tudo parece estar esperando a água parar... Mas a Terra segue girando na grande janela das dimensões, filha do tempo... E em sua linda pele verde-azul, todos os seres convivem. Penso nos grandes predadores, nas sagas das espécies, na cadeia alimentar como representação da harmônica relação dos animais, que respiram a contemplação de sua curta e finita existência almejando nada mais que um bom ninho, um parceiro da procria e uma comida satisfatória, já que a gula e a angústia não cobiçam os “irracionais”. Eles não desejam mais do que precisam, não destroem a mata que lhes dá abrigo e ar nem poluem a água que bebem. Alguns estipulam fronteiras, sim, mas baseados apenas no instinto de proteção de seus aspirais genéticos, ao contrário da racionalidade do homem, o único ser vivo que produz lixo e delimita espaços com sua vil noção de “propriedade” e raça.
Proudhon dizia que “a propriedade é um roubo” e, de dentro do contexto social desta afirmação há, contido, um significado cosmológico também. A Terra não pertence ao homem. O mundo não foi “feito” para que tirássemos o máximo de proveito dele, com um desespero consumista e um desrespeito generalizado com o milagre da vida, com as gerações vindouras, com as espécies que por todo globo se espalham, cada qual com sua beleza-viva. O planeta não é da burguesia, mas também não é da prole. Não é dos chineses nem dos hindus. Deus não é americano nem islâmico nem judeu. Deus é uma flor, um rio, um sorriso e todas as manifestações de amor e de solidariedade. É os milagres que acontecem nas entrelinhas de nossa mecânica e opaca percepção... milagres são naturais, ora bolas. Eles acontecem sim... a própria água limpa que tomo agora não me veio da torneira, como dizem. Veio do sangue da Terra, da vontade dos ventos, do mágico céu que não suporta gotas e onde voam os aviões. E enquanto agora um botão de flor se abre, cientistas aperfeiçoam a bomba H.
O que falta então ao homem para alcançar um convívio de paz? Como alcançar uma vivência harmônica, não-violenta, onde o homem perceba que as fronteiras fazem parte apenas de seu imaginário? Como correlacionar o meu direito ao direito do outro sem haver agressão? Talvez a simples resposta esteja dentro de cada indivíduo, pois cada um pode fazer a parcela que julgar necessária sem cobrar de seus espelhos-irmãos. A cada um cabe derrubar os muros do preconceito e da intolerância que traz na alma.
Meu vizinho falou: Eu quero ter paz. Lembrei de um raciocínio bacana sobre isso e retruquei: Pega tua frase ‘Eu quero ter paz’ e tire o Eu, pois grande parte dos sofrimentos humanos advém do ego faminto e insaciável. Depois, saque o verbo querer: “toda dor vem do desejo”, e essa é velha. Agora subtraia o ter, que representa todo o medo de escassez que norteia os homens e cria as diferenças. Restou a paz que tanto buscavas.

4 MILHÕES DE ICS

Soluço interminável.

CLARO MÊS DE ABRIL

Lua na janela
Claro mês de abril
Procuro por estrelas e constelações
Uns pedidos que fiz aos cometas

Era cedo para quem já não dormia
Era tarde para um som...
Sem palavras, sobrava espaço no meu pensamento
E eu era o filho de minhas próprias ilusões

O que buscava?
O que queria?
Nada mais que um bom cigarro de palha
E um licor do Gottinari

As horas não existem de per si.

SEMPRE ATRASADO

O compromisso, metodica e cotidianamente, consegue chegar antes que eu...

EU NUNCA CONSEGUI FAZER UM POEMA PARA VIOLETA PARRA

Faltou letras para descrevê-la
Que tal ficarmos apenas brincando de amar?

Ela sempre tomava banho frio
- dizia que era bom pra circulação sangüínea
OraMeu amor, bom mesmo pra circulação sangüínea

[é permanecer vivo.

DELETE

Para onde vão
Os arquivos deletados da internet?
Onde fica
A central de todas as informações?

A raiz, que por ora comes

[e te alimentas

Já foi semente um dia
E sedenta de idéias vivas
Deu à terra uma nova anatomia

Para onde vamos?
Onde irá parar meu pensamento?
Que dirá
A minha mente solta pelo vento?

Eu também já fui semente

[e depois, gente

Com células duplicando-se
Do nada à matéria
Do que como... do que penso...
Dos empréstimos que a vida

[me concede

(Se o fogo vira brasa
Depois fumaça e cinza
Onde irá minha energia
Quando eu desfalecer?
No que irei me transformar?
Serei um gás?Serei um som?
Serei fugaz?
Qual dimensão?
Existirei ou não?
E todas as questões
Da minha próxima existência
Me chamaram a atenção
Para a água no fogão.)

A ÚLTIMA CARTA QUE PRA TI ESCREVERIA

A última carta que pra ti escreveria
Não conteria palavras
Nem letras, nem datas
Nenhuma afirmação que restringisse o resto
Nenhuma moldura que apartasse o todo

Seria uma folha em branco
A última carta que pra ti escreveria
Com todas as letras de todos os idiomas
E todos os desenhos de todas as cores
Encaixados no vazio de todas as hipóteses
Escondidos no invisível de tudo o que se pode

E se enviada fosse
No mundo das coisas que não faço
A última carta que pra ti escreveria
Não teria papel nem envelope
Seria postada via pensamento

[Para chegar mais rápido no endereço do algum tempo

E na linguagem do silêncio, sem assinatura
Pois já saberias, como sempre soube
O quanto as frases são pequenas.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

PELOTAS, 5ºC DO FRIO DE 2007.

Mensagem subliminar by FEDERAÇÃO GALLÁCTICA:
LEIA A REVISTA GENTE BOA!

NADA

Arturo Bandini! Arturo Bandini!
Do pó ao pó, pensava, e todo dia ele me chamava. Porra Bandini, já morreste e tudo... me deixe quieto, pelo menos até terça. Preciso voltar à árdua tarefa de fazer nada...
Ao nada nada se compara, nem o vácuo ou o transparente. Na dimensão do nada, longe longe, as coisas que existem são quase questões. Sem respostas, óbvio. Sedutoras e reais como os aromas; e quando vai se ver, já se viu (ou nem mais há).
O nada o tudo teme. O nada, tão irresponsável e precisando de tão pouco, ficou sentado no bar, vendo o tudo trabalhar. O nada foi morar num barril, depois no Rio. O tudo nunca se mudou do apezinho da XV. O nada na praia fez top less; o tudo há dias não vai aos pés. O nada escreve errado mas pensa certo; o tudo não pensa: acha. E achando suas filosofias entre livros de sebos e teorias cartesianas, o tudo não conseguia acreditar que o nada ainda tinha razão e mudava, outra vez, de teoria.
Tudo em vão, Bandini - disse a moça de cabelo preto. Tudo tem fim... nada pode ser tão delicioso...
E, por fim, decidido a selar as pazes com o silêncio, pensou: me deixe sozinho enquanto minha cabeça viaja no infinito encanto de tua glória esplêndida.

VIRTUAL IDADE

Entrar ou sair, me perguntei rapidamente.
Fiquei parado na porta, sentindo o doce cheiro do novo, que entre outros aromas se destacava. Olhei o Sol se pondo no horizonte e o vento que o cair da noite trazia. Meu impulso canceriano me conduzia à casa, mas, por uma teimosia do sem-signo entrei, e deu no que deu.
Hoje, dia qualquer, tornei-me transparente ao que pensava e fazia... e muito de mim escoou e ecoou pelo imenso infinito do mundo das letras.
Sentei numa mesa, de canto, estiquei as pernas naquela mania insossa de secar as mãos nas coxas. Apertei um botão de luz verde e a máquina acordou.
Vamos nessa, mundo virtual.