terça-feira, 27 de dezembro de 2011

EU QUERO SER UM VAGABUNDO


Eu tava parado numa esquina, esperando por alguém que agora não me lembro, entre os minutos destes dias loucos.
E eu caminho muito rápido... só não sei se minhas pernas são muito compridas ou se o dia é deveras curto, mas agora, neste momento da minha narração, eu estava parado, em pé, numa esquina.
Quando a gente para pra pensar, a mente da gente flui melhor. Palavras... conceitos... visualizações. O raciocínio derrama o leite das ideias e faz com ele rapadura e outros derivados... mas neste dia eu parei por parar, e nem pensava em nada quando vi um carro branco se aproximar
Uma antiga colega do Direito dirigia... sorriu. Me disse Tu!? E eu não sabia se ela estava surpresa por me ver parado, de jeans, naquela esquina, aparentemente inútil ou incerto, ou se ela, o que é mais provável, esqueceu meu nome, substituindo-o pelo infalível Tu!?

***

Perguntei ligeiramente, na velocidade do trânsito, como e onde estava ela. Ela balbuciou entre as buzinas do carro de trás um Sou juíza em Herval, sorriu, quase deixou o carro apagar, e saiu sem rumo certo, agora creio que de vez vá na direção do esquecimento, este monstro que come tudo, que conduz a verdade à mentira ou inexistência...

***

Mas eu lembrei que ela, nos tempos da faculdade, só falava em ser juíza.
Era obcecada.
Estudava direto... melhores notas... o sonho em pé.
Foi então que eu percebi, naquela esquina, que eu nunca sonhei em ser alguma coisa.
No máximo, um jogador de futebol. E isso eu ainda sonho... que tô fazendo um golaço, recebido de braços abertos pela torcida que me ama, e como é bom ser amado... mesmo que falso... o amor falso é água quente, enoja o gosto da gente, mas mata a sede... enfim, eu nunca sonhei em ter uma profissão específica.
Mas eu cada vez mais sei o que eu não quero ser...

***

A menina estava mesmo satisfeita por ter conseguido seu emprego/função que sonhara tanto.
E eu fiquei feliz por ela estar feliz.
E mais feliz ainda por minha forma ser incerta e tão pequena e tão mutável...
E feliz é a água, que só entra onde quer.

***

Eu quero ser um vagabundo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

PAPAGAIO DE LUÇARDO


O seu Luçardo é um guarda municipal que tem um papagaio, a Filó.
A Filó ganha tratos de bebê e tá sempre fazendo o que melhor o papagaio faz: ficar papagaiando no ombro de alguém.
Por onde passa, o papagaio do Luçardo chama atenção.
As crianças se divertem, as meninas se aproximam e os homens ficam curiosos.
A Filó faz tanto sucesso que, em pouco tempo, de bicho de ombro, ela se tornou uma estrela, ofuscando até mesmo a presença do Luçardo.
Ou seja, o Luçardo é que virou o papagaio da Filó.

***

Ontem eu vi o Luçardo sair com uma namorada, uma senhora de quarenta e poucos, da casinha do Papai Noel.
Ele levou a namorada quarentona pra ver o Bom Velhinho...
Que legal!
Mas a Filó ele não levou.
Não sei se morreu ou foi trocada pela cônjuge em questão, ou simplesmente ficou em casa descansando.
A real é que o Luçardo parecia (e era) outro homem sem a Filó no braço.
Enquanto que, independente do lugar onde estivesse, a Filó seguia um papagaio, como todos os outros, sem vazio, sem falta de Luçardo algum...
Um papagaio intransitivo, como quase todos os bichos que o homem humaniza...
E o papagaio papagaia em qualquer ombro ou lugar!

***

No shopping eu vi um cachorro dormindo por horas e pensei feliz é ele, que não precisa de chave, emprego, RG, telefone e capacete.
E então divaguei com o cara na esquina se a racionalidade é uma dádiva ou um castigo, mas ele não entendeu muito bem meus argumentos.
Um de nós é um animal.
Mas eu queria ser aquele cusco na tarde louca de quarta...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O MEU JESUS NÃO TEM SOMBRA DE CRUZ


Minha religião sou eu e os que amo.
Toda divindade vive dentro de mim.
Esperando as oportunidades certas de se manifestar...
de viver dos meus erros
[e aprendizados...

Meu Jesus não tem sombra em cruz
nem medo
Não alimenta nenhuma competição nem vaidade
Meu Jesus é minhas plantas, os meus filhos
Meus deuses são vivos
E não precisam de nome ou forma...

***
MEU MUNDO É O BARRO

O Rappa


Moço, peço licença
Eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem passe, eu sou novo aqui
Não tenho trabalho, nem classe, eu sou novo aqui
Eu tenho fé
Que um dia vai ouvir falar de um cara que era só um Zé
Não é noticiário de jornal, não é
Não é noticiário de jornal, não é
Sou quase um cara
Não tenho cor, nem padrinho
Nasci no mundo, sou sozinho
Não tenho pressa, não tenho plano, não tenho dono
Tentei ser crente
Mas, meu cristo é diferente
A sombra dele é sem cruz, dele é sem cruz
No meio daquela luz, daquela luz
E eu voltei pro mundo aqui embaixo
Minha vida corre plana
Comecei errado, mas hoje eu tô ciente
Tô tentando se possível zerar do começo e repetir o play
Não me escoro em outro e nem cachaça
O que fiz tinha muita procedência
Eu me seguro em minha palavra
Em minha mão, em minha lavra

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ЗOPAH фYREбOлEиPO CJAJHO!

Zoran Lucic é um designer sérvio fanático por futebol. Eu, que não sou designer, muito menos sérvio, mas compartilho a fissura futebolística em qualquer idioma, uso, ao contrário de devaneios pseudo-literários costumários, este espaço para divulgar (com um breve comentário, é claro) a linda arte desenvolvida por este jovem e audaz rapagote.

***

Зоран футеболеиро Сјајно!

***


O nº 1 primeiro!
O Dico veio me comentar, todo orgulhoso, se eu sabia que o apelido do Pelé era Dico. Eu respondi que sim, mas que ele só deu certo depois de virar Pelé.

***


Zico
A linda carreira de Zico que, embora com muitos golaços pelos 4 continentes e craque consagrado, foi de sua geração a pior derrota brasileira em Copas (82)... Além disso, de que adianta ganhar do mundo inteiro e vir aqui pra Pelotas tomar pau do Xavante?

***


El Pibe
E por falar em carreira, ao contrário do que muitos pensam (muitos menos eu), dizem que o Maradona toca vuvuzela de nariz.

***

Se gostaram, vão procurar no link acima outras obras do tal Zurik-sei-lá-que que eu tenho mais o que fazer.
(Jogar bola!)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

VELÓRIO AO VIVO


Uma empresa funerária de Nova Friburgo, RJ, lançou um novo serviço em seu fúnebre menu. Agora, um de seus pacotes inclui a transmissão do velório ao vivo pela internet, para parentes, amigos e interessados que não puderem comparecer.
Eu achei isso muito interessante...
Um velório de morto ao vivo!

***

Aí o parente morreu e você está a milhas de distância.
Você entra no site da empresa e, no menu Opções, seleciona "Velórios Ao Vivo".
Escolhe o nome do morto e clica.
Depois, aparece uma porção de câmeras com ângulos diferentes para você degustar o morto (e a galera toda no velório).
Tem desde câmera dentro do caixão, panorâmica, detalhe do rosto dos presentes (essa é pra saber quem era amigo de verdade e quem são os piadistas de plantão), câmera que acompanha o cortejo... enfim, uma relação completa de tomadas que farão com que seu morto favorito passe um dia de princesa Diana ou de Ayrton Senna.

***

Eu imagino o cara no quarto, a mil quilômetros de distância do velório, conecta a internet e acessa a capela mortuária desejada.
Aí chora na frente do computador.
Comenta o velório no facebook.
Onde Curtir é um botão indesejado e que pode ser mal interpretado.
Grava em Dvd pra assistir com a família no almoço de domingo.
Compartilha e divulga o link.
Manda por e-mail.
(Oi tia Rosa... Lhe encaminho em anexo o link do velório do primo Augusto... bem bacana... clica aí embaixo e nos vemos lá, ok?)
E a família no quarto, comendo pipoca e vendo a transmissão do mortuário.
Só sente falta é de uma emocionada narração.
Mas ela é um item acessível apenas aos mais afortunados, não ao pacote Standard.

***

E eu achava que o programa da Márcia era o último degrau do audiovisual.
O último degrau é a morte, claro.
E o velório ao vivo.
Que crítico nenhum tem coragem de difamar na coluna ou revista social.

***

Todo morto é gente boa.
E todo veloriano é cínico.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

NOSSO LIMITADO SEMPRE


Uma mensagem, por mais conclusa que seja, é apenas um fragmento dentro de outra mensagem mais ampla, que por sua vez também é fragmento de algo que lhe é maior.
E assim vai a escada das mensagens, até chegar na suma essência do que chamam divindade, onde nenhuma palavra é necessária e o entendimento é algo suprarracional, decadimensional, onde a mente é pedra e o nada é tão absoluto quanto permanente.

***

Eu fico aqui olhando os carros passarem na avenida.
Todos eles se parecem com a carona que eu espero... mas quase todos eles não são ela.
Cada carro segue seu caminho, mas não vai a lugar algum.
Todo agora é um novo destino.
Somos viajantes do tempo, não do espaço, e estamos sempre
[em nosso limitado sempre

de passagem.

***

8h. Um bem-te-vi acada de roubar um filhote do ninho de um tico-tico e eu me lembrei que ontem meu gato Mingau também atacou um ninho.
Percebi que o mundo é cheio de espertos e ladrões, mas é só na natureza humana que eles são estigmatizados como criminosos... como o mal.
Animais roubam por instinto... sobrevivência... sem medidas racionais nem intenções.
Então eu vi que o mundo é um imenso vazio a serviço das interpretações individuais e coletivas da humanidade, repleta de conceitos e tendências morais e axiológicas.

[Todas as coisas são nossos professores!

***

E o mundo segue mundo sem o homem nele.
Porque o sempre é muito tempo, mas passa bem depressa.
E tudo aquilo em que eu acredito é tão-somente aquilo em que eu acredito.
E nada mais!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O TIMONEIRO E O ASSALTANTE


Acordei na madrugada ouvindo a chuva. Segui o raio pela casa afora, o quintal, o fim da rua, o outro lado da cidade...
Ele foi embora com a tempestade, navegando pelo céu de matizes variadas...
Era o sol trazendo o amarelo, o rosa... até também sumir pela grande nuvem cinza que teimava em ficar.
E assim foi aquela rápida manhã, que parece até nem ter havido...
Pensei em como as coisas vêm e vão, como tudo se transfora, como a vida passa tão celeremente...
Pensei em como vários fatores nos conduzem por caminhos pré-determinados e como nossas escolhas, muitas vezes, a grande maioria delas, não são nossas escolhas.
São circunstâncias óbvias.

***

Como ser um timoneiro de um barco que anda à deriva e passa rápido por este oceano chamado vida?

***

Da vida não se leva nada, mas se deixa muita coisa.
Bukowsky disse que o cidadão que deixasse U$ 10 mil de herança era um fracassado.
Até concordo com ele, em certo ponto.
Mas creio que o grande fracasso da vida é não ter amado ou desistir de uma paixão...

***

O cara assaltava universitárias e, antes da fuga, exigia um beijo na boca.
Várias prestaram queixa naquela delegacia do interior de Pernambuco.
Uma amiga achou uma estupidez, um marginal querendo beijo na boca.
Detestou esta modalidade criminosa, que machucava com a coronha e acariciava com os lábios...
Que nojo!, dizia ela.

***

Foi então que eu lembrei de uma modalidade muito pior, o assalto seguido de morte.
Percebi que o amor e o medo (que cria o ódio) são fronteiras do mesmo acre; uma tela que divide a mesma cercania.
Tanto são a mesma coisa que o assaltante pernambucano conseguiu resumi-los em uma nova e única infração:
O assalto seguido de beijo!

***

Se a vida deste amado marginal se resume em amor ou medo, isso eu não sei...
Mas a passionalidade segue sendo a grande onda no mar da existência.

domingo, 13 de novembro de 2011

O FUTEBOL E AS HUMANIDADES


O homem já fez grandes inventos que lhe proporcionaram conforto e prosperidade.
Já inventou, por exemplo, o fogo, a roda e o chimarrão.
3 fantasticidades!!!
O fogo aquece a água; a roda organiza o mate; e o chimarrão é o chimarrão!

***

A las pucha tchê bah trilegal!


***

Mas eu estive pensando acerca dos grandes inventos da humanidade e percebi que o mais importante de todos foi, sem sombra de dúvidas, a bola.
A partir do momento que o homem criou esta esfera de borracha, redimensionou a relação interpessoal (e até internacional), criou esportes que se tornaram o ápice do entretenimento e possibilitou a invenção do orgasmo de garganta, que muitos também conhecem como o Grito de Goooooooollllllllll!

***

O homem inventou o futebol, mas é o futebol que segue inventando os homens.
Várias regras do espporte mais conhecido do planeta só foram inventadas por causa das condições psicológicas da humanidade.
Sério mesmo.
Eu explico:
A regra de impedimento, por exemplo, foi criada por culpa dos gordos.
É que antes do impedimento, os gordinhos (que também gostam de futebol, ora pois) não voltavam nunca pra ajudar na marcação. Ficavam na "pescaria", como se diz no jargão futebolístico.
Pra acabar com essa malandragem obesa, foi criada a regra do impedimento e os gordos foram, praticamente, banidos do futebol.
(O último foi o Ronaldo.)

***

A caneleira e os cartões amarelo e vermelho foram inventados por causa da personalidade beligerante do ser humano.
Os bandeirinhas foram inventados pra ajudar o árbitro a roubar.
A rede na goleira surgiu pra evitar a demora do goleiro buscar a bola na valeta.
Enfim... o homem se desenvolve e o futebol vai junto.
Ou é o futebol que leva a humanidade nas costas?

***

Bem... encerrarei este post prematuramente porque começou agorinha o clássico Dínamo (de Santa Rosa) e Ta-Guá e eu vou acompanhar!
Dá-lhe Cavalo cansado!!!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

NADA GRAVE


Eu tive um sonho que dizia que algo muito grave iria acontecer.
Mas o que é a gravidade, dentro de um mundo vazio?
Todas as perdas e ganhos, erros e acertos, sorte ou azar têm que ser interpretados de uma forma fria e serena, pois são dois lados distintos de uma mesma moeda.

***

O amor e o medo... o bem e o mal... o certo e o errado acabam sendo a mesma coisa.

***

O novo dia foi raiando e as coisas que eu pensava ontem foram acordando.
Sob o canto dos pássaros, a grama cresce.
O cara do meu lado tentava em vão puxar conversa.
Eu fiquei calado.
A menina pesquisava no computador valores para os seus sonhos, e eu entendi que a máquina é grande; e ela vende sonhos caros...
E eu, assim como ela, também pago os sonhos meus.
Muitos deles, invariavelmente, nunca acontecerão.
Niilisticamente, tudo perde o seu sentido.
E como pode, então, algo grave acontecer?

***

A maior gravidade é continuar vivo.
E o maior perigo é seguir sonhando...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

BUDA, A TARRAXA E O DESTINO


Buda já estava há 6 dias em meditação sob uma seringueira e questionava os porquês, após tanta dedicação, pelos quais ainda não havia alcançado a iluminação.
Foi então que passou por aquela trilha na floresta um professor de violino, que explicava a seu pupilo:
Se apertares muito a tarraxa, a corda arrebentará. Se a deixares muito frouxa, a corda não tocará. O segredo é o equilíbrio!

Ouvindo essas palavras, Buda se iluminou.

***

O Helinho me contou de um multimilionário que estava vendo TV e, de repente, se levantou e falou pra mulher:
Nega!!! Eu já sei o que eu vim fazer aqui!

Pegou uma trouxa de roupas e saiu andando pela BR para nunca mais voltar. Andarilho, largou família e fortuna para viver a sincronia de cada dia... um Forrest Gump entre Guaíba e Porto Alegre.

***

A liberdade do mendigo é o que todos invejam.

***

E eu, a partir do papo com o Helinho, descobri que todas as pessoas têm um futuro, mas poucas têm um destino.
E é por isso que eu não quero mais arrebentar as tarraxas nem frouxar as cordas da vida...
Quero apenas me manter limpo, como uma onda sonora, até que o tempo não propague mais minha sonoridade personalística.
E não me importa que isso leve cem anos, um mês ou um minuto...
Todo tempo é relativo: feliz agora, feliz sempre!
O mundo a se transformar é sempre interno.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

HOMECÃO


Encontrei um amigo mais velho, passeando com seu cachorro pela rua.
O cão abanava o rabo, feliz.
Ele sorria.
Ambos, pela calçada, no matinal e cotidiano passeio pela cidade.
Que lhes traz alegria e contentamento.
Lhes possibilita a fuga do lar vazio e solitário.
Oxigena-lhes a mente que subexiste à TV e internet.
Eu só não sei se é o amigo que leva o cachorro pra caminhar ou se é o cachorro que leva o amigo...

***

Será que quando o cão morrer o amigo vai virar sedentário?

***

É interessante como o homem se apega aos bichos. Na real, eu acho que o homem se apega na humanização do bicho, que ele mesmo inventa, e tenta através dela encontrar o que não encontrara nas pessoas reais.
Aí a solteirona dorme com o gato, o solitário conversa com o passarinho, cachorro de roupa com nome de gente, cavalo com orkut... e o George Orwell se virando no caixão...
Pra mim, de animal vestido já me chega os políticos e os árbitros de futebol...
Quanto mais eu os conheço, mais eu gosto dos animais.

***

Você já levou o seu político passear hoje?
Sabe como é... ano eleitoral chegando e eles adoram abanar o rabo pelas ruas.
Então tome cuidado redobrado, porque ele sorri e pede carinho, mas pode te dar uma mordida.
Porque o mundo animal é um barato, mas tem certos bichos em que a gente não pode confiar.

***

Au au.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A PIOR MENDICÂNCIA


Eu cursei Direito até o 5º ano na UFPel.
Faltava 1 pra eu me tornar um bacharel, mas desisti enquanto havia tempo.
Não consegui me imaginar de relógio, vivendo de reclamatórias e frequentando fóruns cheios de playmobils de terno e gravata.

***

Na faculdade vi um monte de absurdo humano que daria pra fazer um livro.
Por fim, eu só não consegui concluir se foi o Direito que se livrou de mim ou se fui eu que me livrei dele!

***

Um dia, numa aula de Direito do Trabalho, o professor entrou, sentou-se com soberba e falou pra turma, embora parecesse que falasse pra mim:
Vocês têm que ganhar dinheiro!!! Vocês têm que encher o bolso de dinheiro! Eu sei que aqui tem gente que só quer poesia... Poesia não enche barriga... vão comer poesia? Vocês têm é que ficar ricos!

Eu aproveitei a deixa, me levantei, saí do prédio e joguei meus livros e cadernos na primeira lixeira que encontrei, ainda na rua Anchieta, e nunca mais voltei. Nos outros livros que eu tinha, fiz textos relatando o que sentia e doei-os pra biblioteca da faculdade, na vil esperança de mudar alguns cabeça-de-jaca que fediam lá por dentro.
[Ou era eu quem fedia? Não sei!

O fato é que eu nunca soube se o professor otário merecia um soco ou um beijo.

***

Lembrei nisso porque hoje estou sem relógio de pulso e com o bolso cheio de poemas.
O Direito me ensinou a argumentar e a jogar sinuca.
E a vida segue, amor e dor, poemas e moedas...
E descobri que a pior miséria não é comer poemas...
A pior mendicância são o amor implorado e a alegria comprada!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

SCHUMANN NA CHUVA


Existe uma espécie de frequência elétrica entre o solo e a ionosfera que se reproduz em todo e qualquer ser vivo habitante da Terra. Pesquisada por Winfried Otto Schumann, estes picos no espectro eletromagnético do planeta atingem a banda de frequência extremamente baixa, e seu nível vibracional constante fica na casa dos 7,83Hz.

***

Não tem escolha: essa onda todo mundo pega!

***

Do solo ao céu.
Na mente humana.
Na flor que abre.
No gato da vizinha.
Na velha da cadeira de balanço tricotando.
No funcionário público, enfim... tudo que (ainda) tem vida é um espelho schummaniano.

***

7,83!

***

Astronautas que eram mantidos fora desta vibração eletromagnética adoeciam.
Eram então submetidos a uma câmara que igualava a ressonância Schumann e voltavam ao normal.
Algo parecido com o que acontece com os maridos de plantão: um pulo no bar e a vida muda!

***

O fato é que variações últimas demonstram que a ressonância Schumann está mudando, acelerando.
De 7,8 pra 11Hz, depois pra 13Hz. E isto coincidentemente com adventos climáticos, vulcânicos e maremáticos (maremáticos é ótimo!), com o ápice do homo tecnologicus e com o caos do convívio social, guerras por todo mundo e desregulação atômica dos relógios de pulso.
Ontem hoje, hoje amanhã.

***

Mas eu lembrei do velho Schumann porque minha mente anda tri atucanada com este cotidiano maluco.
Mas hoje baixou uma grande chuva em Porto Alegre e eu fiquei observando, pensando no ritmo das coisas.
No tempo certo.
E concluí que não existe o tempo certo ou errado.
Não existe nada, nada, que não esteja no seu momento de acontecer.
Na verdade, todo tempo é mental.
E mesmo que o mundo ronque em lavas e ondas gigantescas, deus estará em algum canto pensando em outras coisas obsoletas, tão fugazes como nosso pequenino planeta azul e nossa vida milimésima.

***

Tudo tem tamanho e tempo relativos.
O que é nossa existência fora de nossa cabeça?

domingo, 23 de outubro de 2011

O CONTRÁRIO DO AMOR


Eu estava num ônibus em Alto Paraíso de Goiás e um cara estranho se virou, falando comigo. Era espanhol, um phD em Sociologia. Falávamos de coisas comuns à beleza do lugar, àquela estadia momentânea no paraíso, e num momento ele me questionou sobre o antônimo do amor.
Uma pequena palavra, de 4 letras e que terminava em O.
Eu sempre aprendi que o contrário do amor era o ódio.
E naquele momento, quase aos 30, reaprendi algo de muita significância.
Porque a gente tá sempre aprendendo.
Até a hora da morte estamos aprendendo...
Na verdade, cada aprendizado é uma morte pro que éramos.
E eu morro umas 20 vezes por dia...

***

O amor é um sentimento inato, ou seja, ele é da origem do ser.
Não o amor de que falam as músicas sertanejas.
Nem o amor de telenovelas.
O amor é um sentimento puro, à mãe, ao pai, à vida, filhos, amigos, plantas... o amor é a essência que nos permite reconhecer o outro ser em nós.
E é por ser inato que não pode ter como contrário o ódio.
O ódio é um sentimeto construído.
É a soma de vários conceitos axiológicos e psicossociais.
O revanchismo, a inveja, a cobiça, a competição...
E é por isso que o contrário do amor é o medo.
E é por isso que onde não há medo, o amor e manifesta.

***

Quem tem amor não tem medo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

I-MUNDO PLANO


A educação no tempo do homem das cavernas devia ser um saco.
O aluno chegava na escola-caverna, a diretora batia a sineta de osso e o professor cabeludo ensinava, através de seus hieróglifos, o verdadeiro mundo uga-buga.
Próximo a isso, mas temporalmente distante, minha mãe, na década de 50, usava a lousa como principal instrumento escolar.
Pra quem desconhece, a lousa era um quadro pequeno onde o aluno escrevia a giz as lições e levava pra casa, onde chegavam muitas vezes já apagados, para o desespero da criança, que já sentia a palmatória futura na palma da mão presente.
Hoje, o mundo cheio de tablets e i-pads e etcéteras, recria o relacionamento do homem com o conhecimento. Uma lousa que não apaga... uma caixa de memórias do mundo... é o homem supra-evoluindo, até onde eu não sei, só que o passado está cada vez mais moderno.

***

Na Índia, tablets gratuitos pra rede escolar e a U$ 35 pra população em geral.
O mais barato do mundo.
Adeus aos cursos de datilografia, MS-DOS e correios.

***

Duda diz: Nega, pode me alcançar o café?
Nega diz: Aqui, meu amor.

***

Como o mundo cabe numa coisa tão pequena?
Acho que o mundo tá voltando a ser plano, como antes das navegações...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O MUNDO DE ESCHER


Maurits Cornelis Escher é um designer e artista que elaborou gravuras e pinturas representando construções impossíveis, onde planos se cruzavam explorando o infinito e criando padrões geométricos entrecruzados que se transformam gradualmente para formas completamente diferentes, ou seja, uma loucura, literalmente, sem pés nem cabeça.
Em seus quadros, repletos de ilusões de ótica, ele colocava na perpendicular vários planos dentro de um mesmo polígono, criando uma imagem paradoxal e complexa e inaugurando a Relatividade de Escher, onde um elemento pode ter várias significantes dentro do mesmo contexto.

***

Onde pra um é chão, pro outro é teto.
E as paredes também são concreto.
No buraco negro, a margem do espelho.
E as janelas são vitrôs e também passagens.

Louco mundo, mundo louco
O que dizer de ti.
Cada dia tão diferente
Da última vez que vi.

***

Vivemos diariamente a Relatividade de Escher.
Nossa sociedade é um quadro vivo escheriano.
Na verdade, muito limitado é falar "nossa sociedade".
Somos muitas sociedades dentro de uma só.
A visão que tem o pobre.
O olfato do nobre.
As mesas postas, as ruas iguais.
Mas enquanto um passa a pé, outro com carro blindado.
As grades altas e muros robustos da nossa cidade separam quem está dentro da festa.
Do singelo transeunte.
A cadeia negra.
O plenário branco.
As escolas cheias de ninguém.
Qual o valor que a vida tem?
Eu sou feliz.
Eu sou triste.
Neste mundo coexiste o todo, todo numa coisa só.
O foco que eu vejo é minha aura desenhada.
As coisas que percebo são um pouco de mim.
E eu sou muitos paralelos.
Perpendiculares...
E tudo aquilo que penso ao léu
No próximo instante já está
Com os pés pro céu.

sábado, 20 de agosto de 2011

ACELERADOR DE PRESENTE


O CERN é um centro de estudos científicos em Genebra que criou uma máquina maluca, chamada de Acelerador de Prótons (ou de Hádrons, como preferem alguns). Trata-se de um túnel onde átomos são movidos a uma extrema velocidade e ao chocarem-se, causam a explosão de seus núcleos (a parte realmente sólida da micromatéria). Ao explodirem, os núcleos liberam cargas positivas que, ao encontro dos elétrons, que estão à toa no nanocosmo, queimam-se, anulam-se, liberando energia.
Cientistas acreditam que esta é a origem do Big Bang e que aí, nessa suruba molecular, esteja concentrada uma energia inesgotável para a humanidade.

***

Tudo isso pra ver TV, passar e-mail e tomar banho quente até o fim dos tempos.

***

Eu me pergunto se dessa máquina aceleradora resultasse um outro Big Bang, onde isso iria parar? Me pergunto e tento responder-me: um novo sistema seria formado, com poeiras cósmicas se fundindo até formar os planetas. Planetas inabitáveis que levariam bilhões de anos para poderem ser hotel de seres vivos, dos microsseres marinhos aos símios de 5 dedos. Aí surgiria uma raça dominante, que criaria armas letais contra todas as outras... um sistema econômico de organização explorativa... um sistema mundial de comunicação...
Peraí, eu acho que isso já aconteceu! Já aconteceu sim, caraca, e foi com a gente, os humanos, o planeta Terra, o Sistema Solar... Muito prazer!
Então pra quê tudo de novo?

***

O infinito é muito (pouco) tempo
Larga tudo e vem pra tarde
Onde a grama é chamativa, a imagem da praia...
Onde o filho faz carinho e a gente brinca de responsabilidades
Aqui já é o presente que eu queria
E tem gente trabalhando pensando numa nova humanidade
O novo é dentro
O novo existe, esperando para ser descoberto
Como a roda e como o fogo

[todos os caminhos retornam à origem...

domingo, 14 de agosto de 2011

PAPAIZ


Quando eu tinha 14 anos perdi meu pai.
Ele saiu do mundo real para entrar no exclusivo mundo de minha mente.
Assim, o vejo todo dia.
Sinto sua presença.
Observo seus ensinamentos.
Tive dois filhos, porque a engrenagem não pode parar.
Vejo no espelho meus cabelos brancos surgindo, aos poucos.
Observo amigos que, como eu, adentram nesta aventura de ter filhos.
O mundo é mágico.
Nunca triste.
Ao ver a figura de um filho sorrindo.
Te abraçando.
Um simples "eu te amo" é motivo suficiente para se saber que no fundo de tudo
Há uma máquina chamada amor.
Que move montanhas.
Que move singelas folhas.
Numa tarde de outono na praça.
Numa escola qualquer.
Ver um filho crescer é ver a si próprio.
A meu pai.
Meus avôs... toda carga genética que me comprova.
A cada minuto que vale a pena devolver amor ao mundo.
Melhor que ser filho é ser pai.
E agradeço agora, em breves instantes.
A João Keiber, ao Jojô e ao Pedro Bem.
Vocês fazem eu me sentir eterno.
E feliz dia dos pais a todos os testículos do mundo!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DEUS NO FACEBOOK


O mundo anda pra frente, não tem jeito. Os adventos da tecnologia são fatores inevitáveis... as trilhas do mundo estão na internet, na tecnologia geométrica.
Tudo o que se pode saber se pergunta ao Oráculo Google, onipresente em cada casa, cada escritório. Onisciente de todos os assuntos.
Não há mais nenhuma informação da humanidade que não esteja dentro de um computador.

***

A internet é a verdadeira caixa de Pandora.
Rasgou-se a noosfera.
Todos os conhecimentos do homem estão à solta, por aí.
E o homem transformou o seu posicionamento ante as informações.
Antes, uma notícia dependia de carta...
De rádio...
De jornal...
[os jornais, cada dia mais antigos...

A notícia agora é imediata...
Parece até que o mundo de hoje aconteceu ontem!

***

Eu lembro do tempo em que os encontros se davam nas esquinas.
Hoje as esquinas é o Facebook.
Cada dia, uma nova turma.
Informações e novidades imediatas.
A piada da hora!!!
Atuais programações de cultura.
Com duas deficiências apenas, as redes sociais em relação às esquinas de verdade:
No Facebook não se pode falar alto.
Nem cuspir no chão.

***

Então Deus, querendo saber sobre a Era Tecnológica na Terra, chamou o São Pedro e solicitou averiguações.
São Pedro disse que se tratava do tal do Facebook.
Facebook?
É, Facebook. É uma espécie de onipresença que os homens criaram.
Mas a onipresença é uma exclusividade minha, respondeu divinamente o Senhor.
Mas o Senhor não tem uma conta do Face, tem?
Não, não tenho!
Pois então o Senhor vai ficar por fora!

***

Deus criou sua conta no Facebook.
Teve que criar um usuário com underline, porque deus@gmail.com já tinha domínio.
Foi anexando fotos.
Criando amizades.
Lançando histórias homéricas sobre sua biografia deísta.
Jogando cantadas certeiras pois, claro, Ele fez a mulher.
Ele sabe melhor que ninguém o que elas gostam de ouvir.
E ele foi curtindo os tópicos dos outros.
Comentando com uma sabedoria incrível.
Até que um cara, na rede, disse que Ele era fajuto... que não era Deus coisíssima nenhuma. (5 pessoas curtiram seu comentário)
Sou sim!
então prova!
não preciso provar nada, babaca.
vc tem menos seguidores do que eu! como pode ser deus? (13 pessoas curtiram seu comentário)
vou mandar um raio na tua casa pra tu ver! (Thor curtiu seu comentário)
ahhh... vai cagá!
melhor... pra te provar que sou o verdadeiro deus, vou boicotar a internet no mundo todo!!! (Diabo e Hug Chávez curtiram seu comentário)

***

Mas é claro que Deus estava blefando.
Ele não terminaria com a internet jamais.
Deus não vive mais sem redes sociais.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

TETA VITRUVIANA


Dizem que a simetria representa a perfeição harmônica, a materialidade requintada, a face divinal. Isso foi defendido pelo arquiteto romano Marco Vitruvio Polião, quando escreveu Os dez mandamentos da arquitetura, no século I a.C. Suas teorias se eternizaram quando Leonardo Da Vinci estudou as proporções e desenhou o conhecidíssimo Homem Vitruviano, o modelo de corpo perfeito, capaz de enfeitiçar tanto mentes brilhantes da matemática e arquitetura quanto moçoilas de academias.
É que ele está baseado no número phi, um conceito fantástico de proporções e padrões numéricos... a representação de deus em dígitos... a chamada proporção áurea, o 1,618.

***

1 + 2 = 3
2 + 3 = 5
3 + 5 = 8
5 + 8 = 13
8 + 13 = 21(...)

E assim sucessivamente.
E eu ficando louco de tanto somar e dividir.

***

E eu lembrei da mulher que tinha um mamilo a mais, uma terceira teta.
E o mais maluco de tudo é que a terceira teta ficava no pé esquerdo.
No pé esquerdo, perto do calcanhar.
Isso sim é que eu chamo de assimetria.
Uma teta no pé!
Pode?
E dizem que quando ela ficou grávida, a teta do pé inchou.
Que loucura!
Eu imaginei ela amamentando o bebê com o garrão.
Sentada no sofá, com pé dentro do bercinho, na cara da pobre criança.
Dorme dorme, meu benzinho...
Quanta facilidade!

***

O pior da brincadeira ainda não falei.
No caso da mulher com a teta no pé.
Complicado ia ser pro maridão.
Que na hora do romance, alta sensualidade e excitação.
Beijos quentes. Mãos atrevidas.
E aquele terceiro seio sedutor, com perfume de talco Desopé.
O bico durinho por baixo da meia.
Uau!!!
Amor... apaga a luz, tira meu All Star e me beija!

***

Teta no pé?
Por essa Da Vinci não esperava.
Com certeza essa mulher tem um amante pedicure.

SKINNER E O EREMITA


Uma americana tinha 6 filhos.
6!
Mas mesmo assim, descontente, fez tratamento de fertilização para ter o 7º.
Só que o tratamento deu muito errado (ou será que deu muito certo?) e ela engravidou de óctuplos.
ÓCTUPLOS.
E se eu ainda to bom de matemática, 6 + 8 = 14.
14!
Sete vezes mais filhos do que tetas.
Isso não é nada bom...

***

Um ano depois da cesária histórica, uma reportagem midiática foi fazer uma visita ao ninho da mulher mãe de 14.
Ela disse que se tranca no banheiro pra chorar sozinha.
E que os 6 primeiros filhos (antes da leva de 8) estão abandonados, criados como bichos.
Comida no pote!
Cama no chão!
Aí eu fiquei pensando nos meus 2 guris! Barbada!
E eu achava difícil, veja só...
Agora posso ter mais uns 5 e ainda to tranquilaço da silva!

***

Dizem que em vez de roupa, ela compra jogo de uniforme futebolístico pras crianças.
11 titulares + 3 reservas.
Cada qual com seu número nas costas.
11!? Já almoçaste?
Caminha pra dentro, número 8!
Número 3... larga essa porcaria aí.
5!!! Eu já não te falei pra não colocar caneta na boca? Ou eu falei pro 6?
Minhanossa!
Essa mulher, sem dúvida, tem o melhor banheiro do mundo!

***

Os filhos que mais me enchem o saco são os que eu ainda não tive!

***

Aí eu lembrei do conto do eremita que morava na caverna.
Os ratos começaram a comer suas roupas.
Ele foi ao vilarejo e lhe deram um gato para espantar os ratos, já que roupa toda hora é coisa de madame.
O gato espantou os ratos, mas sofria de fome.
Pobrezinho do bichano.
Recorrendo à vila, deram uma vaca ao eremita.
Ela daria leite ao gato e a ele também.
Barbada?
Barbada nada: a vaca começou a emagrecer também.
Os moradores ajudaram o eremita e lhe fizeram uma área de pasto e uma horta, bem pertinho da caverna.
Mas pra manter aquilo era uma perrenha.
Tirar inço, cortar grama, combater as pragas.
Ele sozinho não dava conta.
Então na vila pintou uma jovem viúva.
Eles a mandaram pra fazer companhia pro eremita e lhe ajudar a manter a horta e o pasto limpos.
Mas a noite chega, vocês sabem como é.
Cama grande.
Sem TV.
Eremita sozinho há muito tempo.
E a viuvinha até que não era feia.
Em 3 anos, tinham 5 filhos.
3 belos eremitazinhos.
2 pequeninas viuvinhazinhas.
E o eremita não lembrava mais a última vez que tinha meditado.
A vaca morreu.
O gato sumiu.
E os ratos seguiram o baile.
Virando lixo.
Comendo lama.
Fazendo revoluções.

***

E eu me pergunto quais os genes diferem certos homens das ratazanas.

***

Burrhus Frederic Skinner, que de burro não tinha nada, foi pioneiro na psicologia experimental, estudava os homens e os ratos e não viu nenhuma diferença entre eles.
“Os ratos são seres simples, só isso; o homem é ligeiramente mais complicado.
O homem é uma máquina extremamente sofisticada, os ratos são máquinas simples.
É mais fácil estudar os ratos”.

É por isso que os psicólogos continuam estudando os ratos.
Estudam os ratos e chegam a conclusões a respeito dos homens.
[e as conclusões a que chegam estão sempre certas.

***

Esse papo todo me deu uma vontade de comer um queijo...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

NEM A MIM


Todas as coisas que tive me ensinaram algo.
Elas sumiam, outras as sucediam.
Até também sumir para o advento do novo.
Sempre novo.
E todas elas, e cada qual, com o seu ensinamento próprio.
Percebi então que não é atrás das coisas que vivemos:
É atrás dos ensinamentos que elas nos proporcionam.

***

Eu já tive um celular tijolo, um boneco do He-man. Já tive 3 Fuscas diferentes, já tive um primeiro violão.
Eu já tive camisetas de caveiras desenhadas, coturnos de quartel.
Foram meus diversos livros, discos que nem lembro mais.
Emprestei pra quem não lembro a mais importante revista, o mais confortável chapéu.
E me pertenceram também tantas verdades que por ora não me cabem mais.
E a cada minuto sou outro... e é impossível não ser assim.
Perco tudo, pois sou vivo e tenho muito pouco.
Nem a mim.
Nem a mim.

sábado, 16 de julho de 2011

O HOMEM PEGA DE GALHO


O Nelson me contou uma história sobre um acidente espetacular.
Não que eu goste de sangue e tragédia, esse papo que o Renato Machado e os telejornais adoram, mas é que esse foi um acidente interessantíssimo. É que após uma colisão frontal de veículos, o cara foi arremessado pra fora do carro e bateu a cabeça no meio-fio.
Na hora, o tampão da cuca abriu e o cérebro do sujeito voou para a calçada.
Até aí tudo bem, isso acontece realmente.
É que o cara, sem cérebro, levantou e falou o nome de uma mulher.
Como pode?
O cara sem cérebro se mover e falar?
O Nelson jura e até briga com quem diz que ele tá inventando.

***

Eu acho que o cara disse:
Puta la madre, agora sim! Eu sabia que tinha uma coisa me incomodando, me pesando na cabeça... era essa merda aí! Tô livre! Liiiiivre!


***

O corpo é um veículo dotado de energia vital.
Ela não é nossa.
É um empréstimo.
Ela, a energia vital, está em tudo que é vivo.
Plantas e animais.
Ela surge, atinge o máximo potencial de desenvolvimento, decresce e some.
Volta a circular na biosfera, procurando outros nascentes pra se manifestar.
E é por isso que todos os seres nascem, crescem, envelhecem e morrem.
[e ainda nos achamos importantes, os humanos

Mas ela, a energia vital, não nos pertence.
Ela, sem dúvidas, passará.
E nós, inevitavelmente, teremos de morrer.

***

Eu conheci um cara que perdeu o dedo.
Rapidamente, ele pegou o cutuco do dedo e plantou num pote com humus e terra.
O dedo brotou.
Outros dedos brotaram.
Uma mão, um braço.
Depois um tronco, uma cabeça, pernas e pés.
Tudo regado com carinho, cuidado como se fosse uma planta.
Uma planta-homem.
[ou seria um homem-planta?

O homem pega de galho!, concluiu ele, meu amigo.
Que teve sua duplicidade genética saída do quintal da casa.
Um outro ele.
Chato, morrinha, maleducado!
Porque a energia vital é incrível.
Mas as manias do homem são um saco.

terça-feira, 5 de julho de 2011

OS 5 ANOS DO JOHAN


Hoje o Johan faz 5 anos e eu não fui trabalhar.
Ter filhos é a oportunidade de devolvermos amor ao mundo.
Meus guris me re-ensinaram de verdade o que significam pra mim meu pai e minha mãe.
Até parece que foi ontem que eu tinha 5 anos...
Agora é o Jojô.
O passado nunca sabe a hora de parar.
O passado está sempre acontecendo...

***

Johan, te amo como se tu fosses tu mesmo.

domingo, 3 de julho de 2011

IVAN PIRES, O DRÁCULA LATINO


Dizem as lendas que numas ruínas dentro da mata, na colônia de Pelotas, mora um vampiro. Ivan Pires, o Drácula latino. Ele não voa nem se transforma em morcego... não se teletransporta: anda de brasília velha.
Não pode se dar ao luxo de dormir em um caixão estilizado. O lugar quentinho onde ele descansa a cuca é um colchão de solteiro no chão. E o chão é de um quarto,
[de uma casa em ruínas, como eu já bem disse

não de um castelo, como o seu parente da Transilvânia, que por sinal passa os dias inteiros dormindo, outro luxo que Ivan Pires não pode desfrutar.
Ele trabalha de dia e de noite sofre com aquela insônia intensa. De madrugada, sente tesão e fome, sente vontade de morder um pescoço novo por aí. Desperto, salta da cama e toma outro ansiolítico... meia drágea pra dormir. Negligenciando seus hábitos noturnos, o Drácula latino tem que deitar cedo.
Ele nunca mordeu alguém famoso... Mas uma vez ficou a uns 20 metros da Xuxa.
Ele paga pensão pra dois vampirinhos de mães diferentes... Ele passa diariamente por diversas situações do cotidiano comum de um pelotense.

***

Mas esses dias, algo provocou a fúria de Ivan Pires.
8h da manhã.
Ele indo de brasília velha pro trabalho, caiu numa blitz.
Documentos atrasados...
Ivan Pires atrasado...
Mas caralho, uma blitz 8h da manhã?
Pensou consigo nosso vampiro.
Vagabundo não tá no trânsito 8h da manhã.
Às 8h da manhã quem tá no corre é trabalhador, seu policial.
Não adiantou o argumento.
O trabalhador é aquele que dá um jeito em pagar as multas.
Em mover a máquina.
Em alimentar o monstro dos tributos.
E Ivan Pires sentiu na própria pele.
Pela primeira vez em seus mil e poucos anos.
Como é ser vítima de um vampiro de verdade.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

SOZINHO NA MULTIDÃO


O coração é a coisa mais perigosa do mundo.
Toda cultura, toda civilização e toda pretensa religião separam a criança do seu coração.
Ele é uma coisa muito perigosa.
Tudo o que é perigoso vem do coração.
A mente é mais segura, e com a mente você sabe onde está.
Com o coração, ninguém sabe onde está.
Com a mente, tudo é calculado, mapeado, medido.
E você pode sentir a multidão sempre com você, à sua frente e atrás de você.
Muitos estão se movendo nela; é uma auto-estrada — concreta, sólida e que lhe dá uma sensação de segurança.
Com o coração, você está só, ninguém está com você.
O medo o pega, o possui, toma conta de você.
Para onde você está indo?
Agora você não sabe mais, porque quando você se move numa estrada com a multidão, você sabe onde vai porque pensa que a multidão sabe.
E todos estão na mesma posição; todos pensam: "Tanta gente andando, devem estar indo a algum lugar; de outro modo, porque tanta gente, milhões de pessoas se movendo? Devem estar se dirigindo a algum lugar".
Todos pensam assim.
Na verdade, a multidão não vai a lugar algum.
Jamais alguma multidão chegou a meta alguma; a multidão continua a caminhar.
Você nasce e se torna parte dela, e a multidão já estava caminhando antes de você nascer.
E chega um dia em que você acaba, você morre, e a multidão continua a caminhar, porque sempre há gente nova nascendo.
A multidão nunca chega a lugar algum — mas ela dá uma sensação de conforto.
Você se sente aconchegado, rodeado de tantas pessoas mais sábias, mais velhas e mais experientes que você; elas devem saber para onde estão caminhando — e você se sente seguro. (...)


Osho

***

A festa estava tão cheia.
A pista tão lotada de dançantes.
Que o seu Bruno teve um infarto fulminante.
E morreu no meio da música.
Morreu, mas não caiu.
Não caiu porque a massa em festa, apertada, não deixava que seu corpo fosse ao chão.
E assim foi, até o fim da folia.
Duas horas depois.
Todo mundo foi embora, só ficou o morto no meio salão.
Gelado.
120 minutos inerte.
Dançando a alegria dos outros.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

GRAVÓTICA


O voo é livre.
Mas a aterrissagem é obrigatória.

O MÃO-DE-VALSA


Quem nunca ouviu falar em "Pé-de-valsa"? O pé-de-valsa é o cara bom de baile... o bom dançarino. Quer dizer que quando o cara é uma fera no requebra, ele é um pé-de-valsa.
Até aí beleza.
Mas hoje eu fiquei sabendo que existe uma doença rara, popularmente chamada de "Mão-de-valsa", e o Bermudez conheceu um indivíduo em Jaguarão que tinha essa doença.

***

O nome dele eu não vou dizer, mas eu sei que ele era fulo com a tal doença. Claro, se uma anomalia que acontece em 1 entre 100 milhões de pessoas acontecer logo contigo, no mínimo tu vais ficar de cara.
O que acontece é que a tal doença deixava a mão com vontade própria. Isso mesmo, a mão fazia o que queria... Quase um ser autônomo preso na ponta do braço.
Não adiantava nem tentar dialogar: a mão fazia e acontecia, literalmente, e colocava seu dono em várias frias, por assim dizer.

***

Ele conversava com um amigo e, de repente, a mão-de-valsa tentava um tapa. O amigo desviava algumas vezes... mas em outras levava um bofete no meio da cara... Aí o amigo do Bermudez dizia: Não fui eu, foi a minha mão. Parece o programa do Chaves, mas o Berma jura que era verdade.

***

Ele passava pelo mendigo e a mão jogava a moeda por vontade própria.
Uma bunda redonda então... a mão-de-valsa não podia nem ver.
Petisco em festa de aniversário. Campeonato de par-ou-ímpar... A mão-de-valsa era super-social.
E quando a mão-autônoma exagerava,

[ela começou a roubar e a meter o dedo no rabo dos amigos num cutuco rápido e incisivo, vê se pode???

ele metia ela à força dentro do bolso da calça jeans e a mantia presa pro resto do dia.

***

Os amigos deixaram de convidá-lo pro futebol, porque a cada vez que os adversários cruzavam a bola na área, o mão-de-valsa fazia um pênalti.
No trânsito, fazia xingamentos exagerados a todos os motoristas... várias vezes deu briga.
Havia dias que ele tinha vontade de cortar a mão-boba fora...

***

E um dia, o amigo do Bermudez foi jogar na loteria.
Pensou em 6 dezenas, mas a mão-louca jogou em outras.
E ele ganhou.
E ganhou sozinho o prêmio acumulado.
E foi eternamente grato à mão.
Lhe presenteou com anéis, pares de luva...
As melhores manicures...
Os melhores massagistas...
Os mais caros cremes e cosméticos...
E a relação foi ficando cada dia mais linda que se enamoraram.
Ele e a mão.
A mão e ele.
O sexo entre eles era uma loucura.
E ela passou a ser comportada.
Quase submissa.
E fiel, o que era melhor de tudo.
Silenciosa, carinhosa...
Uma companheira sempre presente...
Que lhe escrevia belas cartas e poemas...
Lhe coçava o saco como ningué, fazia cafuné.
Então ele descobriu, definitivamente, que a alegria sempre estivera a seu alcance...
Ela sempre sabia do que ele precisava.
E ele parecia conhecê-la totalmente.
Como a palma de sua mão.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O PAULO RENATO MORREU DANÇANDO


Li no jornal que o ex-ministro da Educação, Paulo Renato, morreu. Mais: ele morreu dançando. Mais ainda: morreu dançando com uma mulher 30 anos mais jovem que ele, num spa de luxo. Dois pra lá, dois pra cá e caputs.
Então pensei: isso sim é que é morrer com estilo!
Graaaande Paulo Renato.

***

Melhor que isso só a morte do avô do Alexandre, que morreu bimbando num motel do interior do RS.
Dizem que a amante falou pra ele: Nooossssa vovô... eu nunca te senti tão duro!
Claro: ele tava morto!

***

Imagina... morrer no trânsito, baleado, carregando saco de batata no porto... Isso aí não tá com nada... isso aí é morte pra azarado. Eu quero é morrer como o Paulo Renato.

***

Eu quero é viver muito e morrer rápido.
Sem opções para ficar pensando.
Ou tu morre ou fica velho.
Eu quero é morrer dançando.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

EU E A MONGA


Muitas coisas vão acontecendo em nossa vida e, enquanto o tempo passa e a gente amadurece, vamos fazendo leituras que nos mostram o quanto estamos, agora, diferentes do que estávamos até pouco tempo atrás.
São os aprendizados, que nos tornam não melhores, nem piores, mas nos fazem ter um pouco mais de auto-conhecimento. E o auto-conhecimento, por sua vez, é o que permite ao indivíduo estar em paz interior... estar mais perto da verdade de seu coração.

***

O taxista conhecia meia São Paulo mas desconhecia a si mesmo.

***

E quem conhece a si mesmo?
A cada aprendizado, uma morte inevitável.
A gente morre pro que era, quando aprende alguma coisa.
E a cada conclusão, um novo e decadente muro se desenha.
Mas eu não temo a morte.
Ela é diária, desde o ponto onde se nasce.
E não há pra onde fugir.
Onde se esconder.
Mais cedo ou mais tarde, você vai ter que se conhecer.

***

Eu lembrei de quando eu tinha 13 anos.
Um parque de diversões.
Havia um brinquedo chamado Monga, a macaca assassina.
Era uma suposta mulher-macaco que botava todo mundo pra correr de dentro daquele trailer pequeno e grafitado.
Tipo King Kong.
Mas eu sabia que se tratava de um truque de espelho.
O Tiago Denardin já tinha me contado tudinho.
Que a macaca que saltava da jaula era um ator travestido.
Eu sabia que aquele terroroso esquete, na verdade, não tinha perigo algum.
Então entrei.
Pensei em ficar até o final, encarar o ator vestido de macaco nos olhos e dizer: Eu sei de tudo!
Tu não é a Monga porra nenhuma!
E puxar seus pelos do peito.
Rá!
Mas a jaula tremeu.
Tudo aconteceu.
A mulher virou macaco, como eu já previa.
O que eu não previa é que eu iria entrar no cagaço geral.
Que eu iria tremer de medo e sair daquele moquifo escuro correndo com todo mundo.
Correndo e gritando, fugindo daquela besta-fera urrante.
E foi o que eu fiz.
Correr e gritar.
E naquele momento não adiantava nada eu saber de toda verdade sobre o truque dos espelhos.
Porque na hora do susto, enquanto eu corro minha mãe tem filho vivo.

***

Porque o que somos muda a toda hora.
O importante é conhecermos nosso próprio ser.
Visualizarmos por onde passa nosso trilho...
Pois até a Monga, que é a Monga, se transforma...

[e eu não sei o que eu faço agora com minhas certezas.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

AS MANIAS


Um amigo meu foi dar uma consulta advocatícia a um cliente desconhecido. Quando chegou na casa, foi recebido por um homem bem vestido que lhe perguntou o nome.
Depois, lhe perguntou o nome de seu bisavô. Depois, se ele, meu amigo, sabia que em Rio Grande tinha o Superporto. Tudo isso respondido prontamente pelo amigo advogado.
Passados breves segundos, o homem perguntou novamente sobre o bisavô e sobre o superporto. Até que entrou na sala outro homem, o verdadeiro cliente, que disse ao meu amigo:
Não dá bola pra ele não... hoje ele tá conversador.

Aí que meu amigo percebeu que tinha sido recebido por um esquizofrênico paranóico.

***

A grande sacada é que por breves minutos meu amigo entrou na loucura do esquizofrênico e conversou com ele até que o papo ficasse irreversivelmente estranho. Então, neste interím, por um lapso temporal delimitado, um deles era normalmente louco e o outro era loucamente normal.
E então eu pego a deixa e faço esta simples pergunta: O que é ser louco e o que é ser normal?

***

Quem não for louco que atire a primeira pedra.

***

Lembrei de várias manias minhas que, se analisadas pontualmente, todos vão me chamar de louco. Lembrei também das manias dos outros loucos normais que eu conheço... Cada louco com sua mania. O cara que cuspia no chão. O outro que beliscava a bunda e cheirava a mão. O outro que não podia com o barulho do chinelo arrastando. O outro que enlouquecia com plástico-bolha...
Minha nossa... o mundo é dos loucos.
Dos loucos, o mundo.
Mundo louco.
Locoloco.
Mundo.

AS BRUXAS E O INGLÊS


Recebi um mail muito bacana que transcrevo abaixo.

ESTA É A RAZÃO PELA QUAL SOU INCAPAZ DE APRENDER A FALAR OU ENTENDER O INGLÊS!
A prova consta de três módulos…

1. MÓDULO BÁSICO (Basic)
Três bruxas olham três relógios Swatch. Qual bruxa olha qual relógio?

Em inglês:
Three witches watch three Swatch watches. Which witch watch which Swatch watch?

2. MÓDULO AVANÇADO (Advanced)
Três bruxas “travestis” olham os botões de três relógios Swatch. Qual bruxa travesti olha os botões de qual relógio Swatch?

Em inglês:
Three switched witches watch three Swatch watch switches. Which switched witch watch which Swatch watch switch?

3. E ESTE É PARA PHD:
Três bruxas suecas transexuais olham os botões de três relógios Swatch suíços. Qual bruxa sueca transexual olha qual botão de qual relógio Swatch suíço?

Em inglês:
Three Swedish switched witches watch three Swiss Swatch watch switches. Which Swedish switched witch watch which Swiss Swatch watch switch?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

FESSOCIAL


Eu levei o Johan no parque de diversões da Fenadoce e me senti uma ideal unidade consumidora. Aliás, em feiras como esta, a Fenadoce, todos são unidades consumidoras... todos são moedas que tilintam a cada passo. E todos querem ser... Compras e consumo... os estandes te convencem que tem o que tu precisas... e tu também te convence em pagar uma fortuna por um monte de bobagem...
O retrato-falado do ser social.

***

O ser social andou de carrossel e carro-choque, mas não percebeu que o carrossel é o modelo clássico do humano moderno, que anda não sabe pra onde, que não pensa nos estigmas e paradigmas cruéis de sua sociedade... que roda, roda, mas não sai do lugar.

***

O ser social sentou na praça de alimentação e aplaudiu mostras ingênuas de cultura. Bebeu e se empanturrou. O ser social tomou sorvete e saiu sentindo um enorme (e aparentemente inexplicável) vazio existencial, porque voltou tão sozinho quanto chegara e não obteve resposta alguma... Um dejà vú cinzento...

***

O ser social serviu de parafuso da festa burguesa, realizada numa ilha distante, com convites caros, com uma correria humana desordenada... um fim do mundo de luz e preços.

***

Mas o ser social viu na alegria momentânea de seu filho o significado de tudo. E por mais fugaz que fosse aquele momento, ver o sorriso da criança foi a prova de que o ser social ainda crê e valoriza o amor.
O ser social acredita na alegria.
O ser social se sente bem ao ver os outros bem.
Isso é mais que humano, é brasileiro.
E é por isso que brincar de ser social sempre foi e sempre será um divertido jogo de faz-de-contas.
Tenha o preço que tiver...

BURACÃO


O universo
é um buraco
sem fundo nem paredes

um vazio eterno
do nunca pro sempre
constante e constantemente
um pano de fundo da noite

sem cima nem baixo
onde se guardam estrelas
[e pó de estrelas

que passam com vida ligeira
[a velha pressa que a vida pede

dentro de um espaço louco
que não se mede.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O MUNDO GIRA


O munda gira
As plantas crescem
Em outra tarde
O mesmo céu empalidece

A noite vem, falando em sombras
O que que é que a gente tem?
Um corpo fraco
Um nome bonito
E tudo isso também vai virar um mito

A gente parte
Os nomes ficam
Sem patrão
À deriva no mar das lembranças...

As plantas crescem
E noutro agora
O mesmo céu empalidece...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

GRANADA FUTEBOL CLUBE


O Granada Futebol Clube tinha uma peculiaridade.
Não era o fato da camisa ser tetracor, uma raridade no mundo do futebol.
Nem de ser de uma cidade com 2 mil habitantes, afinal, por que uma cidade de 2 iml habitantes não pode ter um time de futebol? Se até Nova Bréscia tem?
O fato peculiar que eu me refiro era o centroavante do Granada. Matador. Um diabo dentro da grande área. O nome dele era Alcyr, o Alcyr Pedalada. Só que o Alcyr Pedalada era o pároco da cidade. Isso mesmo: um padre artilheiro...
O time do Granada era outro com o Alcyr Pedalada vestindo a camisa 9. Mas nem tudo eram flores naqueles jardins, ou melhor, naqueles gramados da redondeza: é que rolava o campeonato ruralito do interior, e as partidas começavam às 11h de domingo.
Então, enquanto metade da comunidade ia na missa, a outra metade ia no futebol.
Campo pequeno, gramado irregular, bola pesada, camisa de lã... Tudo do bom e do melhor, como manda o figurino do verdadeiro futebol.
O padre Alcyr era o único membro daquela sociedade que ia à missa e ao futebol.
Na real, ele só entrava no segundo tempo.
Sempre no segundo tempo.
Com a 9.
Com fé.
Com uma bomba guardada na perna esquerda.

***

Final do campeonato.
Granada x Arroio Grande.
Membros da Comissão técnica e diretoria do Granada tentam atrasar a partida.
Fingem contusões.
Provocam pequenas discussões e reclamam com o juiz.
Tudo para que o Alcyr Pedalada chegasse a tempo de jogar.
E a missa, do outro lado da ponte, rolando.
Primeiro tempo começa.
Hóstias distribuidas... hinos e louvores na igreja.
O padre já fardado por baixo da batina.
Controlando tensamente o horário no relógio de pulso.
O juiz apita um pênalti pro Granada.
Mas o camisa 10 bate pra fora...
Não tem o cacoete do matador em cobrar penalidades...
Isso é atributo do artilheiro Alcyr Pedalada.
Que, naquele exato momento, canta o hino 3 da página 5 com suas corolas e seus coroinhas.
Intervalo de jogo.
O Granada descansa na sombra.
Que a paz do senhor esteja convosco.
Amém.
Começa o segundo tempo.
Alcyr Pedalada anda o mais rápido que pode com sua bicicleta monareta.
Desce a ladeira.
Bola pra fora: escanteio.
O padre chega e joga a bici no chão.
Num pulo, arranca a batina e joga no colo do treinador.
De imediato sobe a plaqueta: sai João Mondongo, camisa 17, entra Alcyr Pedalada, camisa 9.
O time adversário treme.
38 do segundo tempo.
A bola é lançada pro nosso craque Pedalada.
Ele finta o primeiro.
Passa pelo segundo.
Deixa o terceiro no chão.
De cara com o goleiro.
É só fazer.
A torcida pula!
Ele chutaaaaaa......
Na trave!
Uhhhhhhh, a torcida se inflama.
E o Arroio Grande contrataca.
Já é 43 do segundo.
O balão do meio-campo cai na dentro da pequena área.
O goleiro não vai.
O zagueiro deixa quicando.
Ariovaldo chega-chegando e faz o gol do título para o Arroio Grande.
O jogo termina.
Desilusão geral por parte do Granada.
O padre-artilheiro segura a batina nos braços, desanimado.
Olha desiludido para o crucifixo.
Reclama ao senhor em baixa-voz.
Mas de nada adianta.
Deus não tem nada a ver com futebol.
E futebol é futebol e vice-versa.
A justiça divina nunca se atreveria meter a mão no resultado de um jogo.
Nem mesmo no jogo do Alcyr Pedalada.
O artilheiro diabolicamente e divino...

A FUGA DO BRIZOLA


Pelotas é muito legal... além de capital nacional do Doce, é também a cidade dos cães de rua e dos loucos. Os loucos, por sua vez, se dividem em dois grupos: os que admitem serem loucos e os que não admitem a loucura jamais.

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Eu não sou louco!

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Mas o fato é que eu conheço um mundaréu de louco aqui em Satolep. Músicos, poetas... artistas... loucos velhos e jovens, homens e mulheres. E foi com eles que eu aprendi que o perigo do mundo não são os loucos: são os lóques.

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Então um amigo meu, um louco velho, me disse, numa conversa da manhã, que ele era soldado quando o Brizola fugiu para o Uruguai, após o Golpe de 64. Mais que isso: ele era O soldado que permitiu a fuga do Brizola pras bandas de Montevidéu.
Explico: segundo este meu amigo, o Louco Velho*, o Brizola realmente escapara da ditadura militar vestido de mulher. E o Louco Velho era o guarda responsável pela fronteira naquela fatídica noite. E ele me garante que notou que aquela "mulher" era muito estranha, que usava bota e falava de "interésses", de política e caminhava feito um xirú de Bagé.
Mas havia um detalhe muito significativo em tudo isso. Ele, o Louco Velho, era homossexual e, como não gostava muito de papo com mulheres, não teve ânimo para investigar aquela personagem esdrúxula e seu fusca colorado.
Brizola passou, salvando seu couro e tornando-se um ícone da política nacional. E eu descobri que as mulheres enganam até o diabo... mesmo tendo por baixo da roupa um macho gaúcho da estirpe do Brizola.

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Hoje pela manhã eu achei um livro, Dossiê Brasil, de Geneton Moraes Neto, e nele tem uma entrevista com o Maneco, piloto do João Goulart em 1964 que resgatara Brizola da praia do Pinhal.
Abaixo transcrevo este trecho da história brasileira que mostra como as mentiras viram verdades e como não se deve dar corda pra louco. Principalmente pra Louco Velho de Pelotas.

GMN- A única pessoa que pode contar a verdadeira história sobre como Brizola saiu do Brasil em 1964 é o senhor - que estava no avião com ele. Há versões desencontradas sobre o que aconteceu. Qual é a verdade,afinal ?

ML - "A verdadeira história da saída de Brizola é tensa. Perseguido pelas forcas da repressão, Brizola se encontrava em Porto Alegre,sem condições de sair do país. Já em fins de abril de 1964, eu, que já estava no Uruguai acompanhando o presidente Goulart, recebi a visita de um emissário que me propôs uma missão: resgatar Brizola no Brasil.
Tive um encontro com D.Neuza (mulher de Brizola). Combinamos, então, um plano de resgate. Dona Neuza chegou a me entregar metade de uma nota de CR$ 1. Disse-me que a pessoa que me procurasse com a outra metade da nota seria o emissário com quem eu deveria combinar o plano para resgatar Brizola.
Poucos dias depois, fui procurado pelo emissário - que trazia a outra metade da nota. Durante dez dias, estudei, no Uruguai, a possibilidade de fazer a operação resgate em Porto Alegre. Eu pilotaria um avião que desceria no Aeroporto Salgado Filho, o que seria arriscado. A alternativa seria descer numa praia no litoral do Rio Grande do Sul. Optei pela praia.
A escolha da praia ficaria a critério dos amigos de Brizola no Brasil. Mas, para descer na areia da praia, eu precisaria saber do horário das marés. Por quê? A maré baixa deixaria livre uma faixa de terra que possibilitaria a descida do avião.
Designamos, então, uma pessoa que ficou encarregada de estudar o movimento das marés. Somente assim, eu teria certeza de que poderia descer na praia. Recebi, então, um informe indicando em que horarios a maré estaria baixa ou estaria alta. Preferi o horário das sete da manhã. Nesse horário, com a maré baixa, eu teria espaço suficiente para descer na areia pilotando o bimotor.
Começamos, então, a executar a operação resgate. Eu usaria o avião do presidente João Goulart para resgatar Brizola no Brasil. Era um avião Cessna 310, prefixo PT-BSB. Já exilado no Uruguai, o presidente João Goulart sabia de todo o plano. Autorizou-me a decolar de Punta del Este. Deixei Punta às cinco da manhã, em direção à praia do Pinhal, onde Brizola deveria estar me esperando. Eu pilotava o avião do presidente. Fui sozinho.
Quando me aproximei da praia, notei que nem todos os planos que havíamos feito estavam se confirmando. Pelo acerto que haviamos feito, deveriam estar na praia um grupo de pescadores, um Volks vermelho, um caminhão e outro carro. Mas, ao sobrevoar a praia, notei que o caminhão não estava lá! Eu deveria regressar ao Uruguai, porque alguma coisa estava errada. Mas, num arroubo de juventude, resolvi me aproximar de qualquer maneira.
Quando eu estava vindo buscar Brizola, sintonizei durante o vôo a Rádio Guaíba. Uma autoridade do governo dizia que em 48h Brizola estaria preso.
Quando cheguei à praia, vi Brizola saindo de trás de um monte de areia. Estava acenando para mim. Pensei comigo: se Brizola veio, então vou aterrissar. O plano deve ter dado certo. Brizola não iria me entregar. Pousei na areia. Abri a porta do avião.
Quando Brizola ainda estava fechando a porta do avião, eu já estava decolando de novo, rumo ao Uruguai! Brizola estava vestido com a farda da gloriosa Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Trajava o uniforme de soldado. Tenso, mas feliz, Brizola parecia aliviado porque iria se encontrar com a família no Uruguai. Tinha saído de Porto Alegre num fusca, junto com uma senhora que demonstrou grande coragem pessoal ao levá-lo ao local do resgate. Passaram pelas barreiras sem serem vistos.
Quando eu disse a ele "Dr. Brizola, já estamos no Uruguai! Acabamos de passar pela fronteira!", ele apertou minha mao e me disse: "Obrigado, Maneco!". Logo após nossa decolagem, nos quinze minutos seguintes, tomei uma decisão como medida de precaução, para que nosso avião não pudesse ser interceptado pela FAB: voei baixo, cerca de um metro acima das ondas do mar.
Brizola chegou a me dizer: "Olhe para trás, para ver se vem vindo algum avião da FAB!". Respondi: "Agora eles nao vêm mais. Porque, com o nosso tempo de vôo, já não há perigo de sermos interceptados". A viagem, com uma escala em território uruguaio, terminou em Solimar, um balneário nos arredores de Montevidéu, onde o presidente João Goulart nos esperava. Assim Brizola saiu do Brasil em 1964."




* Nome fictício

terça-feira, 14 de junho de 2011

DROGA ANTI-DROGA


O cara me falou que o top da modernidade medicinal era a nova droga que já está no mercado: a droga anti-drogadição. É verdade, juro! Diz que os caras criaram uma droga (drágeas ou líquida) que inibe o vício em qualquer outra substância. Ou seja, o cara que é viciado em crack, toma a droga anti-droga e zera a conta.
O fumante... o alcoólatra... o maconheiro e o cheirador... seus problemas acabaram! A moda agora é a droga anti-drogas.

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O problema agora é que a galera toda tá se viciando na droga anti-droga. Imagina... eu tenho um conhecido que fumava oito baseados num dia. Agora ele toma só 2 capsulas da droga anti-droga e se sente livre. Livre!

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O outro chamava a sexta-feira de sexta-cheira. Agora, todo dia de manhã, de meio-dia e de noite (antes de dormir) ele toma uma droga anti-droga e fica relax.

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Mas eu fico pensando: e pras outras drogas, tipo telenovela... antidepressivos... coca-cola... palavra cruzada e religião? Os vícios na maldade, na falcatrua, na mentira...
Pra isso não existe anti-droga...
Pra se livrar disso o cara tem que ser pau-ferro, à moda antiga... no osso do peito.

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Porque as drogas de verdade não são levadas no bolso.
As drogas realmente perigosas a gente leva na mente.

CORONEL POETA E O PORTUGUÊS CORRETO


A menina me disse ontem que se a gente bebesse água demais o estômago delataria. Delataria até a morte, e eu pensei o quão confusos podem ser os caminhos de um idioma.

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Na ditadura militar muitos delataram à base de água.

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Dizem que em toda história de Pelotas, em todos os seus 200 anos, apenas um homem nunca cometera nenhum erro de português. Um homem apenas... sem cacofonias, sem aquele descuido natural dos plurais, (a menina me disse também que estava com dor nos ), enfim... um indivíduo que de sua preciosa e magnânime boca nunca saíram fonemas picarescos, excêntricos, burlescos nem extravagantes...
Mas eu já estava esquecendo, o nome dele é Coronel Poeta. O nome mais bonito que eu já ouvi em toda minha vida, junto com Lobo da Costa, Fernando Pessoa e Chico Buarque.
[Isso sim é que são nomes de poetas... Lobo da Costa... Fernando Pessoa! Chico Buarque!!! Duda Keiber não é nome de poeta... Duda Keiber é nome de tenista de Santa Catarina... É nome de vendedor de petshop em Santa Cruz do Sul.

Isso é que são nomes! Mas o do Coronel Poeta é muito mais bonito. Ainda mais por saber este fatoresco pito, dele unca ter falado uma bobagem idiomática sequer. Nenhum menas... nenhum porquê equivocado. Nada. O Coronel Poeta nunca errou. Ele só errou quando pensou estar errado!

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E eu tô tão longe do Coronel Poeta na língua portuguesa que eu até poderia ser o Soldado-raso Alfarrabiano.

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Mas o legal é que a linguagem se transforma. A cada dia nascem e florescem neologismos, novas forma de escrever. Novos jeitos de teclar. Tc. Me add no msn! qq hr tc ctgo, sem ponto nem letra maiúscula, nem parágrafo... Para o terror do Coronel Poeta... Para a dinâmica pressa que vibra dentro da língua... E eu aceito essas transformações... é uma onda que eu surfo, saca? Se não a língua seria rocha e não língua.

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Eu tenho um amigo que ainda usa máquina de escrever, onde nenhum neologismo é aceito...
A máquina de escrever não admite resumos... ela é um veículo que só os ases dominam. Até o plim do fim da linha. Ela é feita para os pacientes esforçados.
E para caras como Coronel Poeta.