segunda-feira, 30 de setembro de 2013

BARBEIRO DO BRASIL

Mas doutor, o que de fato eu tenho?
A senhora está com a Doença de Chagas!
Doença de Chagas? Mas o que significa isso, doutor?
Isto significa que a senhora foi chupada por um barbeiro!
Desgraçado... ele me disse que trabalhava no Banco do Brasil!

sábado, 28 de setembro de 2013

AAAAULA

Ele comeu a professora na sala de educação sexual.

VIDA PERNETA


O Gordo Tetéu fez uma acentuada e irresponsável curva pra esquerda e foi colhido, com sua moto, por um carro em alta velocidade. O impacto arrancou a sua perna logo acima do joelho e ele passou a ter um novo e bulinático apelido: Gordo Perneta.

***

O Gordo Perneta dizia que seu membro (que não existia mais) coçava. E eu fiquei me indagando, pois já ouvi histórias sobre pessoas que perdem mãos e pés e eles seguem doendo, coçando, incomodando como não faziam antes, quando, de fato, existiam.

***

O taradão perdeu a mão e deixou, por certo tempo, de acariciar um bumbum feminino. Contudo, seu prazer não se findara... muito antes pelo contrário. Diz ele que depois da amputação, quando passava uma mulher bonita, ele fechava os olhos e a mão inexistente se deliciava com uma pseudo e etérica bunda.

***

O fato é que eu já estou há 5 dias em Santa Rosa, minha cidade natal.
Neste curto espaço de tempo, revisitei pontos onde minha infância aconteceu.
O sítio do pai, o arroio onde eu e o Ale tomávamos banho... o bar do merengue, as pedras, ginásios... reconstruímos vários momentos que ficaram (ou pareciam ter ficado) para trás.
As pessoas que cercam o ambiente onde eu cresci, hoje, são completamente diferentes... novas crianças, tios que já partiram. Há uma calçada nova e um cachorro que eu não sei o nome. O galpão virou garagem, o bolicho, mercadão. Trocaram o antigo calçamento por asfalto, e poucas coisas eu reconheço, embora a essência do que me forjou ainda permanece, como uma alma escondida atrás de um muro, como a ex-perna coçante do Tetéu.

***

Pensando nisso, vi que minha infância, em certo ponto, hora após hora, também vai ficando num lugar distante... as memórias também vão se perdendo, em sua grande maioria, e eu daqui, deste exato presente, vendo tudo o que me cerca, minha mãe ficando velhinha, sinto que tudo passa muito rápido... sinto que a vida, como a infância, vai passando sem parar, e eu teimo em olhar pra trás. E então, reconhecendo aquilo que fui, faço perspectivas tolas, como se tudo fosse eterno... mas percebo também que o que finda, aquilo que passa e não existe mais, deixa no ar uma tênue energia, um cheiro de realidade, uma infância que insiste em ficar, como aquela mão que não está mais no corpo, como uma perna que não existe mais.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

MEU NOVO POEMA

Eu tento encontrar
Num mar de palavras
Algumas gotas pra te dar...
Peixe pequeno nestas águas turvas
Vou nadar...
Nadar até onde não podem os peixes
Eu vou nadar até cegar num feixe
Deste sol que fora d'água
[aquece e reina

Eu vou achar
Uma concha irresistível que me coma
Que me tranque como pérola
Uma ilha de vulcões,
Pétalas na areia
Onde a onda vá buscar
Todo dia tua manha,
Meu novo poema...

EU COMPRO UMA REVISTA


O jovem sentado no banco da praça ouve a conversa de outros jovens no banco da frente... enquanto isso, as pombas giram pelo céu e pousam, em grupos e separadamente, bebem água no chafariz e ciscam migalhas pelo chão da vida, esta dimensão fugaz onde o tempo passa sem parar. O sol reflete na água do pequeno lago, fazendo lâminas, devolvendo luz ao céu que brilha azul, sem nuvens. Entre pontos cintilantes, as tartarugas espiam o mundo do lado de fora, amontoadas, e outras nadam entre kinguios branco-alaranjados e carpas dançarinas, que nada mais fazem nesta tarde do que hora para a morte, como os jovens que conversam e se beijam na minha passagem.
Eu, compromissado, creio estar seguindo a um lugar exato... creio ter função nesta roda, ora samsárica, ora sistemática e monetária, e quase sempre quando ando penso se vivo ou sou vivido pelos lugares em que vou e não gosto, pelas coisas que quero e que não posso, pelo que quero demais. Há sempre um futuro, escondido num outro lugar que ainda não veio, mas nem sempre há um destino. No entanto eu vejo e também observo
[o que talvez seja mais importante

eu vejo e também observo os arredores deste corpo andante. Na parte norte dos bancos há um gramado e algumas plantas, arbustos, piracantas, uma sica deveras revoluta, gigante e descabelada, como o cara que toca seu violão na calçada por onde passo agora. Então o ritmo constante de minhas pernas com chegada certa me leva pra fora da praça e outros minutos ficaram para trás. Eu compro uma revista, eu vejo pessoas que eu (acho que) conheço e cumpro ações de uma lista, costurando esquinas, reconhecendo outra vez a cor do dia, que passa rápido e parece feroz.
Há um cachorro cheirando a rua por onde andam também centenas de pessoas, constante passar. Há dois, há quatro, há dez cachorros marginais. Há também em uma loja um cachorro de pelúcia verossímil, uma boneca inflável para companhia e solidão... Há, no segredo dos apartamentos, o domínio inefável dos amores sobre outros amores
[se é do amor o domínio, a supressão e o mando).

Quem sabe o amor não seja assim tão puro, pois aquilo que mais amo é também minha maior prisão, a ferida mais frágil e aberta, a possível maior ruína.

***

Eu volto sempre pelo mesmo caminho. Quando chove, sob um conjunto de marquises, eu desvio das gotas insistentes e salto as poças pelo chão. Elas refletem uma mulher de guarda-chuva colorido... elas refletem qualquer coisa, imitando a vida antes do sol secá-las. Tolas poças, tão finitas quanto ela, a vida. Estagnadas pela gravidade e pelo tempo da cidade úmida.
Espelhando algo que não são, às poças eu dedico esta pequena história que parece não ter fim, só meio. E de fato, vivemos entre os meios, buscando inutilmente como tudo começou, esperando um fim, andando pela praça e ruas, seguindo os mesmos caminhos por dias diversos...
Talvez o fim fique na frente... talvez o fim nem há. Ou vivamos apenas de fins... vários e incessantes fins... fins que se unem uns aos outros num permanente transformar... uma intrigante e rápida eternidade, como o espaço-tempo entre dois bancos de praça por onde passo, novamente, agora.