segunda-feira, 13 de abril de 2009

BREVE SEGREDO DA CHAVE


Uma vida não é apenas uma vida
Um conjunto orgânico que vinga e finda
Uma vida é um elo na sistemática dos seres
É um vitral opaco
Que informa e reflete
Unindo escadas,
Construindo pontes,
Ligando o antes ao depois
E se fazendo norte de outras e outras vidas

Há, então, que se saber a exata medida das palavras
Que contemplar as frases não faladas
Que vagueiam nos oceanos do silêncio,
Livres da âncora do compromisso
Presa às cordas da opinião cedida

Há que se notar as cores
E saber que o agora respirado
É que move o tempo
Despretensiosamente

Deve-se entender o nada
Respirar o fluido do nada
E, absorto, compreender que os frutos de cada momento têm sabores
E que os sabores, mesmo amargos,
Alimentam a essência imediata

Há de se buscar o âmago das coisas,
A língua do olho,
O tom do coração
Há de se ouvir o cântico dos pássaros na metrópole,
O som do beijo no deserto,
O respirar das flores
Para que não se fique cego,
Para que não se vire pedra
E não se seja um espelho insosso
Da princesa bêbada,
Da noite vazia,
Da igreja abandonada

Há de se perseverar na fé
De acreditar na sincronia harmônica que reje sóis
De pôr o peito na frente da bala da dúvida
E cerrar a porta na cara dos medos

Há de se querer botar no dia o bem
De acariciar o sagrado que farta os pratos
E que locupleta a vida entre outras vidas

Deve-se atentar ao valor intrínseco de tudo
Qualificar a medida dos atos
Rabiscar com canetas de anjos todos pensamentos
Pois pouco com Deus é muito
E muito sem Deus não é nada
E a chave que abre as portas do que és
Sempre esteve dentro do mesmo bolso ávido
Donde carregas as tuas moedas.

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom