domingo, 24 de janeiro de 2010

BOA E VELHA DEITADA


A vida é uma prisão perpétua: dela só se sai morto... até lá, condenamo-nos todos, desde o primeiro suspiro, a costurar as esquinas de algum lugar sobre a face desse mundão vazio, repleto de significados demasiadamente humanos.
Enquanto isso, a Terra anda... visita sol e lua, construindo dias, branqueando os cabelos na infinita teia das horas. Eu, aqui, olho em meu RG alguém parecido comigo... tenho um nome e um endereço... a mente quer saber o chão que pisa... minha mente quer saber quem sou... mal sabe ela que nenhum endereço é eterno; que o espelho sempre muda; que a estrada do tempo é para todos... e ela tem curvas e viadutos... mal sabe ela...
Então eu, sempre preso ao meu ponto de vista, ando por um calçadão repleto de bancos privados e de pessoas privadas de bancos. Ali, elas deitam nos ladrilhos e deixam o dia muito maior. Eu passo, passo-a-passo, ligado a elas pelo umbigo da insubstancialidade, onde faz-se uma conexão quase imperceptível a meu célere cotidiano, e que me torna também um pouco delas... eu, o outro você... as mesmas calçadas... e quem não é um pouco louco? A liberdade do mendigo é o que todos invejam... mas as piores mendicâncias são o amor implorado e a alegria comprada...
Naquele dia, me deu vontade de também deitar no chão para curtir um pouco o pátio da bela prisão da vida... porque o dia não é feito só de moedas e ninguém, ninguém mesmo, respira para sempre.

Nenhum comentário: