segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O QUE NÃO VEJO


O tempo se condensa, do nunca pro sempre, vira brisa na janela e desce em gotas de oceano na área da casa. Os minutos crescem, viram horas, dias, vidas... O que percebo é que a fome da matéria não sacia... que a ânsia de arrumar o mundo não é nada além da ânsia de arrumar-se... que a nave vem de dentro, e também somos nave a rodar na infinitude imediata dos milésimos, intermináveis quanto a tudo, finitos na relatividade espacial...
Aquele pedacinho de papel com algumas letras a terra comeu, como come os corpos e pirâmides... Toda verdade que representava o feitio do que julgava ser se quebrou, como um espelho, e ensinou que meu nome segue sendo muito pouco... E as datas, que colocam fios brancos na pelugem, mostram que o conhecimento aprisiona e que a sabedoria liberta...
E tantas outras coisas vão surgindo... infindas... que a cada palavra que escrevo restringo o todo-resto; e o resto é o todo que não conceituo e, por isso, longo, como as ondas do silêncio.
Aprendi que tudo o que percebo sou, e todo fato é a vida se fazendo vista. E o que não vejo, não é o que inexiste... O que não vejo é exatamente aquilo que não me permite existir.

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