domingo, 3 de novembro de 2013

ABSTRATO ABRIL 4


Diga lá então o que pensas do mundo rapaz... os teus conceitos tão teus que queres pra todos... o sabor das tuas frutas, o nome do teu guia, as roupas que mais gostas. Mas o povo é tirano... e sofres porque o povo não gosta do que gostas e questionas a humanidade como se a própria humanidade coubesse num conceito único, lógico, tão óbvio e tão teu.
E por falar nas roupas, na cidade te vêem como as roupas tuas e por isso te preocupas tanto com as golas da camisa, a gravata combinante, o sapato brilhoso, enfim... e é mais fácil tu subires uma grande escadaria e chegares ante os teus com a perna quebrada do que com a calça puída, porque são os teus aparência e argumento que te representam perante outros atores da vida social, mas que não são o que realmente és quando deita-te na cama, à noite, sozinho e desnudo.

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Sem roupa somos todos iguais.

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Veja só que no mundo que vives quem tem mais poder é, inexoravelmente, o melhor argumentista. Os líderes, ídolos e profetas são articulados, belos e serenos. E é por isso que a influência que persegues ter é para não só teu uso, mas para estar por sobre os outros, num pedestal de perfeição. Ora correto, ora exato, julgas ser a representação perfeita no teu meio, sem perceber a impermanência das coisas, sem a humildade sensível que diferencia os anjos dos homens, pra quem vencer é acumular, sobrepujar e submeter.

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Então eu penso que, quando nasci, morri em outro lugar.
E estou agora aqui, também de passagem, como em todos os lugares-planos a que se vá.
É a lógica universal nascer, crescer e morrer.
Rápido e constante passar, isto é tempo.

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Aquele argumento velho
Mundo tolo, mundo teu
Homens deuses, deus humano
O semáforo dançando...

Mundo tolo, roupa sua
Ordens e indicações
Um lugar que ninguém viu
Abstrato abril.

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