sábado, 16 de julho de 2011
O HOMEM PEGA DE GALHO
O Nelson me contou uma história sobre um acidente espetacular.
Não que eu goste de sangue e tragédia, esse papo que o Renato Machado e os telejornais adoram, mas é que esse foi um acidente interessantíssimo. É que após uma colisão frontal de veículos, o cara foi arremessado pra fora do carro e bateu a cabeça no meio-fio.
Na hora, o tampão da cuca abriu e o cérebro do sujeito voou para a calçada.
Até aí tudo bem, isso acontece realmente.
É que o cara, sem cérebro, levantou e falou o nome de uma mulher.
Como pode?
O cara sem cérebro se mover e falar?
O Nelson jura e até briga com quem diz que ele tá inventando.
***
Eu acho que o cara disse:
Puta la madre, agora sim! Eu sabia que tinha uma coisa me incomodando, me pesando na cabeça... era essa merda aí! Tô livre! Liiiiivre!
***
O corpo é um veículo dotado de energia vital.
Ela não é nossa.
É um empréstimo.
Ela, a energia vital, está em tudo que é vivo.
Plantas e animais.
Ela surge, atinge o máximo potencial de desenvolvimento, decresce e some.
Volta a circular na biosfera, procurando outros nascentes pra se manifestar.
E é por isso que todos os seres nascem, crescem, envelhecem e morrem.
[e ainda nos achamos importantes, os humanos
Mas ela, a energia vital, não nos pertence.
Ela, sem dúvidas, passará.
E nós, inevitavelmente, teremos de morrer.
***
Eu conheci um cara que perdeu o dedo.
Rapidamente, ele pegou o cutuco do dedo e plantou num pote com humus e terra.
O dedo brotou.
Outros dedos brotaram.
Uma mão, um braço.
Depois um tronco, uma cabeça, pernas e pés.
Tudo regado com carinho, cuidado como se fosse uma planta.
Uma planta-homem.
[ou seria um homem-planta?
O homem pega de galho!, concluiu ele, meu amigo.
Que teve sua duplicidade genética saída do quintal da casa.
Um outro ele.
Chato, morrinha, maleducado!
Porque a energia vital é incrível.
Mas as manias do homem são um saco.
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