sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

CONTRAPÉ DO DIÁLOGO

O castelhano desdentado me sorriu e disse que torcia pro Boca! Quando ele falou "Boca", saltou cuspe pra todo lado. É interessante como tem coisas que não combinam com suas imagens, como o desdentado amante do "Boca" (cuspe) e do índio de sapato que eu e o Andrezinho vimos hoje.
Outra coisa que não combina com o nome é a Ambrosia, delicioso doce que tem o nome mais feio de todas as mesas. Mas esta substantivada postagem nasceu como uma ponte para que eu chegasse ao assunto que queria: o contrapé do diálogo.
O contrapé do diálogo é quando uma resposta chega antes da pergunta, é quando o não se veste de sim e quando o ilógico domina as teias da percepção racional, como aquele tio gordo que deita no sofá da sala pra ver o jogo do Curíntias.
Um dia, eu estava na frente de casa, esculpindo. Não que eu seja escultor, nada disso. Minha mãe e meu pai é que são! E dos bons, pois fizeram a coisinha querida que vos fala. Mas eu tava era rateando, bolando um número da casa num pedaço de pau, a finzaço de parar de enlouquecer os carteiros, quando estacionou um carro da ViacaboTV. E eu, que há horas assinava a ViagatoTV, fiquei só de bico nos caras que descobriram minha ligação clandestina.
Ôpa... boa-tarde, disse um deles. Eram 3.
Ôpa... e daí!? respondi eu, sem parar de esculpir e fazendo de conta que ele era um cara do Censo e tentando pensar rapidamente no que eu faria.
É que a gente reparou nesta sua ligação aqui... E ela é clandestina...
Sim, é clandestina sim... Disse eu.
Pois é, falou ele meio sem jeito, não entendendo minha tranqüilidade. É que a gente possui vários planos de assinatura...
Mas eu não tô a fim de assinar, respondi. Eu tenho de graça cara, quando eu quero. Além do mais, não vou discursar pra ti sobre o papel emblemático da mídia na desgraça social brasileira, nem vou te falar dos preços exorbitantes que vocês cobram por esta merda. Faz o teu papel aí mano, e podes cortar minha TV, que quando eu quiser, ligo de novo.
O cara me olhou e disse: Tudo bem, nós vamos cortar. E puseram a mão na massa, como diz o gaúcho.
Eu entrei em casa como quem ia dar uma mijada e respirei fundo. Olhei pela janela e eles estavam recolhendo o cabo que eu havia comprado na Eletrônica Shop por 50 pilas.
Hei hei hei... Pode parar aí manito. Este cabo é meu! Comprei e tenho nota, falei.
Mas é política da empresa recolher os cabos, falou ele, já se encolhedo como um pinto no frio.
Mas a política da SUA EMPRESA não pode lhe dar a liberdade de retirar o MEU CABO, que eu comprei com MEU SALÁRIO. Isso que vocês estão fazendo é roubo! ROUBO! Vou chamar a polícia!, esbravegei e entrei pra dentro de casa, como quem faria, de fato, a ligação pra lei.
Os caras ficaram tensos... recolheram rapidamente o material e se mandaram, carregados de culpa e sem me importunar mais. Levaram o cabo, sim... Mas deixaram de me trazer uma gama de incomodações... Fiquei sem TV por breves dias, mas fui salvo pelo contrapé do diálogo.

Goleiro num canto, bola no outro.

Um comentário:

Bernardo disse...

"Eu sou livre!, eu sou livre!, uaaaah!"