terça-feira, 22 de abril de 2008

CARTA AO ANÔNIMO

Prezado anônimo

Gostei muito do seu comentário postado no meu blog referente ao texto EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA. Adoro críticas... principalmente as construtivas, mas as destrutivas eu também gosto, pois espremo elas e tiro o suco contido... às vezes amargo, às vezes doce, mas sempre com o sabor picante da verdade. No caso do teu comentário, verdade irada... mas a tua verdade. Contudo, tua truculenta tentativa de te comunicares me obrigou a tecer uma resposta, confeccionada por partes. Vamos a ela?


C: Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA":
R: Infelizmente, prezado anônimo, não assinaste teu comentário. Isso me faz concluir que eu te conheço e tens medo de me falar o que realmente pensas. Preferes manter a falsidade de nosso relacionamento... sem problemas. Mas não tenhas medo de assumir tuas idéias, caro amigo desconhecido. Sofres te escondendo... e isto impede que sejas íntegro com tua ideologia, íntegro com tua própria ira, enfim... isto pode fazer com que remoa teus sentimentos e tente, em outro momento, atingir uma outra pessoa. Fique sempre à vontade para te dirigires a mim, da maneira que for, pois aprendi a manter as discussões no plano das idéias... isto nos permite aprender com as teses certas e com as teses equivocadas também. Mas se quiseres assinar as próximas, poderíamos dialogar e, de repente, ajudarias efetivamente no meu crescimento.

C: Você, como o casal, também gosta de falar da vida dos outros.
R: Pois é... aqui realmente me pegaste. Mas eu sou um cara sensível, acredite. Mentalizo sempre o bem e tento, ao máximo, evitar falar de violência, de tragédias... às vezes peco e me pego comentando algo sobre a vida de alguém... mas na hora, na hora mesmo, juro, aquela voz do subconsciente (ou serão meus protetores, não sei) me manda calar, e calo. Me sinto mal depois de falar sobre alguém e isto tem me ensinado a ficar mais quieto, a engolir minhas verdades, que muitas vezes não são... a não levantar tantas questões... Porque do outro lado dos comentários está uma pessoa igualzinha a mim... E isto é lição pra ti também, amigo anônimo. Quem me conhece sabe que sou sincero, que o silêncio realmente tem sido meu norte... Mas tenho certeza que erro muito, e seguirei errando até morrer. Porém, aprendo a cada momento a usar as pedras dos meus equívocos na escadaria de minha evolução, baseada na plena convicção de que sei menos a cada dia e que palavras restringem muito os sentimentos....

Concordo com você e pensarei sobre isto, prometo.

C: Acho que o problema é esse: uns acham que estão ACIMA da merda toda, num pedestal de ESPIRITUALIDADE QUE SALVA!

R: Querido anônimo (se me permites chamá-lo de querido, claro). Felizmente não vivo na "merda toda", como disseste. Sou um cara sortudo e muito privilegiado, acredite. Tenho uma família linda, uma gata maravilhosa (realmente uma princesa) e um filho amado por todos que nos cercam, sensível e inteligente. Neste feriadão passamos arrumando a hortinha lá de casa, fazendo artesanatos, escutando músicas legais. Peguei o nascer do sol na Lagoa sexta-feira... precisavas ter visto. Ou não... nem sei quem és!!! Mas se vives na "merda toda", precisas urgentemente mudar os ares, amigo. De repente precisas amar. Ou deixar-se amar. A vida é tão linda, cheia de grandes significados em pequenas coisas... mas apenas para quem consegue ver. Longe de mim querer estar acima ou abaixo de qualquer pessoa, prezado anônimo. Tenho dezenas de ídolos... meu pai, minha mãe, meus amigos... Apenas sinto que a insensibilidade que moveu a humanidade até aqui tem que ter um fim, e nisto espero que concordes comigo. Também se não concordares, não tem importância... Te respeito no que pensas e torço para que sejas harmonicamente feliz.

Outra coisa que divergimos nesta pequena frase de teu raivoso comentário: a espiritualidade salva sim... Ao menos eu creio que salve. Mas não é um salvamento desesperador, tipo daqueles das grande enchentes. É uma iluminação, e varia de pessoa para pessoa. Às vezes sou chato, falando de coisas que acredito. Mas já percebi isto e concluí que só devo falar das minhas coisas da não-matéria quando questionado. Nunca mais falarei ao léu. Exceto no meu blog, claro, pois é meu espaço de exercer meu jus esperniandi e meu jus comunicandi. Mas aí o ônus do questionamento é invertido, pois não obrigo nem convido ninguém a vir aqui. Inclusive tu, querido anônimo: vieste por livre escolha... Não gostate? Tens todo direito de não gostar. Me criticaste? Ótimo! Volte sempre que a casa é tua... espero poder ter te auxiliado em algum momento... Mas sigas procurando... estamos todos na busca, e é assim que deve ser.

C: Menos arrogância, por favor.
R: OK! Juro que tentarei ser menos arrogante. Não fiz por mal. Às vezes julgo minha verdade como verdade absoluta... é que estou aprendendo, te falei. Não desejava ser arrogante, apenas questionador. Gostaria de lançar críticas ao ventilador para que as pessoas, regidas pela sensibilidade e auto-crítica, pensassem a respeito. Não queria ter te ofendido. Deves ter muitas certezas absolutas e de repente não precises de mais nada... Eu ainda não cheguei lá... nem quero. O conhecimento é morto... não quero estar aprisionado em verdades retilíneas, que impedem que eu concorde ou discorde de todas as coisas. A sabedoria é que liberta, e é dela que carecemos, prezado anônimo.

C: Você não vê, pois precisa humildade para isso.

R: Amigo anônimo... isto é uma luta. Me achava relativamente humilde, até ler alguém dizer que não o sou. Pensei direto no Diógenes, um sufi que andava nu como os animais e que por não ter nada, tinha tudo. Lembrei de Gautama... Nunca irei me comparar a eles, porque vivo num mundo dual, sou um pequeno pecador... um grande buscador. Ajudo os que posso e também sou ajudado, e muito. Não sou um avatar... sou um humano que peida e caga. Adoro leite condensado, torrada de queijo com alho, adoro sentir a água gelada na pele... Gosto de passear com meu filho no velho fuscão 83... Não tenho vergonha de minhas roupas velhas, pois são só casca... Sei pedir desculpas e dar beijo em homem... não tenho preconceito nenhum contra credos, cores e sexualidades... respeito toda forma de expressão amorosa e sincera... Não como nenhuma carne por respeito aos seres... parei de beber e fumar, por respeito a mim e minha família... cumprimento o prefeito da mesma forma com que o faço com o guardador de carros... nunca maltratei ninguém... nunca ofendi pretensiosamente alguém... Mas ainda assim concordo contigo: preciso mais humildade... Sempre mais. Porque o ego sempre acha brechas pra se manifestar... Mas não entenda como maldade, por favor... são os rastros do que também és...

C: Você precisa sentir-se parte da raça humana, e você escreve como se fosse superior: cegueira, ilusão.
R: Prezado anônimo. Até que enfim chegamos ao final dos teus quesitos quanto a minha pessoa. Embora aí do Mato Grosso onde te encontras não consigas me ver direito, exceto minhas letras, adorei teres me questionado. Te peço que se minha resposta novamente te ofendeu, desconsideres. Posso (e talvez deva) estar mais uma vez redondamente enganado. O fato é que existo, e se existo, expresso. Não quero que me julgues melhor ou pior agora... nem preciso, para ser sincero. Quem julga se desaponta por desconhecer o todo.

Dizes que tenho que me sentir parte da raça humana e lembrei de certas coisas... do cara jogando bituca de cigarro no chão... do outro dando um soco na cara do um... do caçador atirando num filhote de elefante... do cara rindo sobre a prostituta... dos lenhadores derrubando árvores imensamente lindas... lembrei do motoqueiro me ofendendo no trânsito... lembrei da Guerra no Iraque e dos assassinatos que passam toda hora na TV. Lembrei até de meu texto EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA ... aquele que te incomodou... acho até que vou tirá-lo do ar... pois podes ter razão e eu não... Mas desta humanidade, violenta e virótica, que chamas de "merda toda", nunca farei parte. Não escrevo como superior: escrevo orientado por uma cosmovisão, que questiona erros que eu mesmo cometo, que questiona coisas que acredito que possam melhorar... dentro e fora do meu lar... dentro e fora de meu umbigo cabeludo. Se sou cego, oriente-me, se puderes, para que eu encontre a luz. Se me iludo, deixe-me iludir até onde posso... E previna-se contra as tuas ilusões... Eu sou livre para iludir-me e crer no que desejo. Sou livre para errar... Mas lembremos: o plantio é sempre livre, mas a colheita é sempre obrigatória.

E para finalizar, querido anônimo, se te faz bem, podes me detestar. Se quiseres ofender, fiques à vontade, repito. Agradeço de coração por teres me feito perceber mais uma vez o quanto preciso evoluir e espero que voltes a comentar meus escritos e minhas ilusões. Mas te aconselho, meu amigo sem nome, que preste atenção também à tua caminhada e não te percas pelas estradas sinuosas da ira e da vingança.

Com amor

Duda Keiber

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