segunda-feira, 14 de abril de 2008

NOVINSTANTE


Um amigo me disse que, na vida, às vezes a gente ganha e às vezes a gente perde. Mas o que é ganhar? O que é perder? Quando eu condiciono a minha mente ao escrotório santo de cada dia, trabalhando miseravelmente por uma aposentadoria, estou ganhando ou perdendo? Minha mente vive no passado... minha vida vive no futuro... e as duas parecem nunca se encontrar. Talvez eu mesmo esteja deslocado do que sinto, de onde estou...
Mas na Princesa é assim: até meus pensamentos cheiram a mofo: meus pensamentos ficam velhos a toda hora... de onde venho? Pra onde vou? Sou uma réplica mal feita de tudo o que desejo, e se desejo, sofro.
Hoje tenho dois pilas no bolso e nem sei quem sou... Desejava ser uma pedra das ruínas, que envelhece sem questões... mas sou apenas carne, e o que pode morrer, morrerá! Às vezes me culpo por beber em uma esquina, e outra ambulância passa a mil pelas ruas da cidade.
Mas o que existe é só um somatório do que sempre houve... É um quociente do que ainda não há... e sigo mínimo nos poucos problemas, que se acabarão no fim do tempo, pai de todas as respostas. Sim, porque toda materialidade é ilusória, e os vermes esperam a todos, ricos ou pobres, sem distinção...
Não sei o que a minha mãe esperava, na sua vã expectativa alheia... Sou eu e todas circunstâncias... E uma tribo canta na Amazônia, entre a selva de ninguém: eu aqui, comendo o carbono de nossas angústias, vendo o concreto se reproduzir. Procuro, nas moedas derramadas, alguma que sirva como leite... alguma que sirva como ar... sou apenas a ilusão contínua de uma chegada... um nome preso ao registro geral.
O que busco? Talvez seja mera fuga... uma fuga abstrata de tudo o que me oferecem, pra chegar ao nada, completo conceito.
Não sou jeito... não sou forma... sou mais um espírito que entre esquinas perambula, vendendo almas e verdades que talvez não sejam, trocando por salsichas minha liberdade... querendo ser o outro... querendo estar além...
E os deuses, nos altares, não me escutam... quiçá se fazem arte, e a arte existe para que a realidade não nos destrua. Então outro sol amanhece, e eu me iludo ser o mesmo, enquanto rugas nascem por todos os cantos... Enquanto isso, atiro, todos os dias, pedras na lua do mundo que acredito...
Talvez o outro, que joga o pesado níquel das esmolas, amanhã desconsidere tudo... seguirei aqui sentado, sendo o novo... sendo o velho... sendo o sempre... Porque o tempo nasce e morre a cada novo instante...

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