quinta-feira, 6 de maio de 2010

UM CHÁ


Ainda estava acordado quando ele chegou. Não bateu à porta, como de costume... espiou, entre as frestas da janela, silencioso... Levantei-me do conforto do sofá, que descansava as pernas do dia... deixei de lado a caneca com chá, e o vapor dançava rumo às estrelas...
Abri a porta, 23h. Ele entrou, mas antes me cumprimentou, com seu abraço fraternal demorado. Falamos breves assuntos... superficiais, como a brisa da manhã... observei o céu, claro, estrelado... era a forma com que eu costumava pensar... olhando o céu... embora meu jeito quieto, de poucas palavras, eu pensava muito... mas não discutia... não existem erros nem verdades... apenas o caminho... e o caminho dele o levara a mim, naquela noite de outono.

O chá... apontou ele ao braço da poltrona.
Queres um?
Não.
Então?
Pois é... estou com alguns problemas...

O fato de ter problemas não era exclusividade sua. A forma com que se relacionava com eles, sim. Idiossincrático. Nunca reclamava... absorvia as circunstâncias, resolvia as adversidades... mas aquele dia, ele reclamou.

Estou morrendo...
E quem não está?

Tomei mais um gole do chá... Observei, como sempre observo, antes de qualquer palavra.

O que posso fazer?
Nada, disse ele. Não podes fazer nada.

O nada era muito, para aquela situação. Estávamos tranquilos. Ele entendera que o seu processo era complicado, mas correto, a vontade do grande espírito.
A estrada era certa... breve... branca. E as mochilas deveriam ficar... Não se pode levar nada... Nada nem ninguém...

Mais tarde ele aceitou um chá. Preparei outro pra mim também.
A vida... um grande barato... nos ensina em todos os momentos que se mede em largura, não em comprimento...

2 comentários:

Emilene Lopes disse...

Muitos vivem tanto mas com poucas qualidades, sem aproveitar...Dessa vida não se leva nada, vamos viver o hj...
Belo texto
Bjs
Mila

DUDA KEIBER disse...

Milaaa!