segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DOIS SACOS


Em janeiro enterrei minha avó em Santa Rosa. Nos preparativos fúnebres, acompanhei o coveiro até o túmulo onde já estavam meu avô e meu tio, filho dela.
Abrimos a tumba e meu avô estava lá, deitado, um prato cheio pros Piratas do Caribe. Esqueleto montado... feira de ciências... roupas rasgadas... um crucifixo de prata no meio do peito (era do caixão que virara pó). Vários pensamentos na minha cabeça, tão efêmeros como a própria vida (pelo menos como ela aparecia ali, naquele cemitério). Ao lado do vovozão ossudo, um saco plástico cheio de outros ossos... era meu tio, que havia morrido anos antes dele.

***

Os ossos do avô foram sendo colocados, um a um, dentro de outro saco plástico, que trouxera o Zé Coveiro.

- Ôpa... caiu um dedo ali seu Zé. Quer que eu pegue pro senhor?
- Ah, sim... E já me alcança o crânio aí, fafavor rapaz?
- Sim, seu Zé.

Tudo dentro do saco.

***

Aí eu percebi que a vida é um breve momento entre dois sacos.

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