O Dico e o Nando me falaram que, quando eles eram pequenos,
nos remotos idos da TV em preto e branco, havia um macete (da série Truques
& macetes) de sobrepor à tela um pedaço de papel celofane colorido (as TVs
mais modernas já vinham, inclusive, com pequenos e especiais ganchos para
prender o papel celofane, pode?). Então, magicamente, a imagem se tornava
colorida...
O papel celofane, além de colorir os filmes do Batmasterson
e os jogos do Pelé, era o anúncio de que a tecnologia estava a galopar a passos
largos rumo aos dias de hoje...
[se é que alguma vez a tecnologia não tenha cavalgado a
passos largos.
A tecnologia não desmonta o cavalo...
A tecnologia está condenada ao cavalo, assim como São Jorge!
***
Pai do Alex jogou toda pipoca pro alto da primeira vez que
sofreu um ataque bombástico dos avatares de sua nova TV 3D.
***
O Alexandre quer comprar uma TV que faz até cafezinho e
fecha palheiros como ninguém. Que tem o controle remoto que acompanha o olho do
espectador; que acompanha até os pensamentos do espectador, com wi-fi conectado
no sofá. Ele quer uma TV que diga as notícias antes dos fatos, que o resultado
do jogo apareça antes do sorteio da tabela e que pegue internet, óbvio... e que
loucura deve ser o encontro da TV com a internet!!!
***
A TV, pra mim, foi o invento mais sedutor (e poderoso) da
humanidade. Aí alguns vão dizer: e a roda? E o fogo? Ora... a roda serve pra
nos levar mais rápido pra frente da TV e o fogo serve pra climatizar o ambiente
antes do jogaço das 9.
***
Agora, como surgem novas tecnologias, eu também tô pensando
em inventar uma TV. Mas não uma TV qualquer (daquelas com botão girador de 12
canais e antena de mosquito), eu tô a fim de inventar uma TV inédita, que seria
a sensação do momento... seria tão tentadora quanto irresistível... o ápice da
raça humana... o sonho de consumo de toda família moderna... só que eu ainda tô
pensando que irresistibilidade seria essa... onde é que eu pego essa tal
humanidade?
***
Eu pensei em criar uma TV que mostrasse ao espectador um
filme sobre si mesmo... que revelasse seu passado e, como no mesmerismo e na
psicanálise, o catapultasse pra uma análise única e exclusiva de sua
personalidade, tão profunda e intensa, tão reveladora, que depois de assistir
ao seu filme nunca mais a pessoa seria a mesma... Ela teria consciência de seus
traumas, vícios e virtudes... seria uma superpessoa! Ela entenderia seus
defeitos e limitações e sacaria (em uma só sessão do Cine-eu, é... Cine-eu...
esse aí é o nome do programa das 10), de imediato, sacaria, todo caminho de sua
vida ante a luz nem tão retilínea do que chamamos destino...
O espectador sairia da sala com cara de zumbi... a mulher
assustada na cama... que cara é essa? Que foi que aconteceu homem-de-deus?
Fala-homem! E eu sei de tudo seria
uma resposta recorrente; eu diria que recorrentemente avassaladora.
***
Eu vou falar com o Helio di Pinho pra gente patentear esta
TV.
O meu único receio é de que ninguém queira conhecer a si
mesmo e prefira seguir utilizando falsas máscaras... falsos artifícios.
Como um papel celofane na frente do televisor.
E prefira ficar sempre com novas ilusões de velhos canais...
[violentas e fictícias programações que não permitem
desgrudarmos desta (magnífica) caixa pandorística...
Pois entrar dentro da TV é bem mais simples que entrar
dentro de si mesmo...
E a novela é bem mais interessante
[que a vida aqui do lado de fora da tela.
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