sábado, 1 de junho de 2013

UM REINADO

Um príncipe conhece pouco do mundo. A não ser pelas opiniões e conselhos das várias pessoas que o cercam cotidianamente, incutindo em seu pensamento ideias abstratas acerca da realidade e protegido demasiadamente pelo principado, um príncipe pouco vê. Por isso, um príncipe inteligente está sempre se cercando de gente notável, de grandes artistas, cientistas e intelectuais. Pessoas sensíveis que possam ver o mundo e deitar a ele, o príncipe, informações, sucinta e didaticamente, advindas de suas célebres interpretações do que é o mundo e a existência. E é por isso que Dostoiévski diz que nada serviu tanto o despotismo como as ciências e os talentos.

***

 Muitas cabeças foram cortadas pela dádiva da sensibilidade dos assessores monarcas.

***

Eu acordo,
Eu penso no meu dia
A manhã muda de cor, embora fria...

Eu tomo café,
Eu leio as novas sobre o futebol
Enquanto a Terra gira um vestido de sol...

A noite chega,
Esparramando as sombras em seu movimento
Um dia a mais?
Um dia a menos?
Esparso tempo para ser pequeno...

***

Hoje de manhã eu era outro e, consequentemente, o mundo também. Pelo menos o meu mundo, a minha prancha oportuna e necessária, da qual eu nunca desço... o meu ponto de vista, viciado em meus desejos e misticismos matemáticos... Mas o mundo a meu redor parecia outro, completamente outro... Havia o sol entre as folhagens e vários beija-flores zuniam pelo jardim... Os jasmins ainda exalavam o perfume que sobrara da noite... os pássaros cantavam esperança nos galhos secos da aroeira e eu lembrei da música que dizia que não se precisa morrer pra ver deus.

***

Eu vi a grama, molhada pelo choro da chuva... e um verde gris, agora iluminado e úmido, verde novo e claro. Permaneci sozinho num breve tempo-espaço
[embora nunca se está sozinho nem mundo onde todas as coisas estão conectadas...
o tempo parado no ar... tive uma momentânea (contudo parecia eterna) sensação de beleza... um mundo belo onde eu estava imerso e envolvido... repleto de detalhes, de suntuosidades... as folhas também tinham cheiro e havia um sincronismo entre zilhões de formigas... havia uma realidade acontecendo por entre o silêncio, e eu preciso do silêncio como preciso da água, então me senti pleno... percebi um mundo acontecendo pelo tempo e me senti um rei.

***

Ontem o mundo era igualmente belo ou eu não percebi?
Talvez o mundo permaneça igual e eu esteja diferente.
A única coisa que permanece sempre igual é a impermanência...
Pro dia...
Pras noites...
Pros reis
[pra toda realidade.

***


O verdadeiro reinado vem de dentro.

Nenhum comentário: