Um príncipe conhece pouco do mundo. A não ser pelas opiniões
e conselhos das várias pessoas que o cercam cotidianamente, incutindo em seu
pensamento ideias abstratas acerca da realidade e protegido demasiadamente pelo
principado, um príncipe pouco vê. Por isso, um príncipe inteligente está sempre
se cercando de gente notável, de grandes artistas, cientistas e intelectuais. Pessoas
sensíveis que possam ver o mundo e deitar a ele, o príncipe, informações, sucinta
e didaticamente, advindas de suas célebres interpretações do que é o mundo e a
existência. E é por isso que Dostoiévski diz que nada serviu tanto o despotismo
como as ciências e os talentos.
***
Muitas cabeças foram
cortadas pela dádiva da sensibilidade dos assessores monarcas.
***
Eu acordo,
Eu penso no meu dia
A manhã muda de cor, embora fria...
Eu tomo café,
Eu leio as novas sobre o futebol
Enquanto a Terra gira um vestido de sol...
A noite chega,
Esparramando as sombras em seu movimento
Um dia a mais?
Um dia a menos?
Esparso tempo para ser pequeno...
***
Hoje de manhã eu era outro e, consequentemente, o mundo
também. Pelo menos o meu mundo, a minha prancha oportuna e necessária, da qual
eu nunca desço... o meu ponto de vista, viciado em meus desejos e misticismos
matemáticos... Mas o mundo a meu redor parecia outro, completamente outro...
Havia o sol entre as folhagens e vários beija-flores zuniam pelo jardim... Os
jasmins ainda exalavam o perfume que sobrara da noite... os pássaros cantavam
esperança nos galhos secos da aroeira e eu lembrei da música que dizia que não
se precisa morrer pra ver deus.
***
Eu vi a grama, molhada pelo choro da chuva... e um verde
gris, agora iluminado e úmido, verde novo e claro. Permaneci sozinho num breve
tempo-espaço
[embora nunca se está sozinho nem mundo onde todas as coisas
estão conectadas...
o tempo parado no ar... tive uma momentânea (contudo parecia
eterna) sensação de beleza... um mundo belo onde eu estava imerso e envolvido...
repleto de detalhes, de suntuosidades... as folhas também tinham cheiro e havia
um sincronismo entre zilhões de formigas... havia uma realidade acontecendo por
entre o silêncio, e eu preciso do silêncio como preciso da água, então me senti
pleno... percebi um mundo acontecendo pelo tempo e me senti um rei.
***
Ontem o mundo era igualmente belo ou eu não percebi?
Talvez o mundo permaneça igual e eu esteja diferente.
A única coisa que permanece sempre igual é a
impermanência...
Pro dia...
Pras noites...
Pros reis
[pra toda realidade.
***
O verdadeiro reinado vem de dentro.
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