Em Laguna, Santa Catarina, ocorre um fenômeno talvez inédito
em toda humanidade. Lá, pescadores trabalham em conjunto com os golfinhos,
[ou botos, no linguajar local
numa interação entre espécies tão rara quanto bela, singela
e mágica, proveitosa a ambos, homens e golfinhos, e ninguém sabe como aquilo
começou.
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Existe, neste caso, uma óbvia aproximação de um ser “racional”,
o homem, e de um animal “irracional”, no caso o golfinho. E, desta interação,
surge uma dúvida: o homem compreende os golfinhos ou são eles, botos, que se
aproximam da dita mente racional humana?
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Então, o grande questionamento resultante é se a
racionalidade humana é uma dádiva ou um castigo.
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Vejamos... neste planetão azul, a racionalidade é o que
difere os hominídeos das outras espécies. A racionalidade é a propriedade de
utilizar elementos da lógica e dialética em pensamentos sequenciais até atingir
uma conclusão embasada em conceitos criados através dos milênios da mente
instrumentalizada. Ou seja, através do conceito racional o homem estabelece
regramentos de convívio, transforma elementos naturais oriundos da Terra em
produtos manufaturados e artificiais que não mais são aceitos no processo
orgânico terreno (como petróleo em plástico, a pedra em concreto, a água em
tinta etc), se torna a única espécie que produz o conceito de lixo, de guerras,
que solta bombas químicas e defeca na água que bebe. E, sob esta ótica, a
racionalidade é um castigo.
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Contudo, há dois aspectos que tornam a racionalidade uma dádiva,
que são a arte e o esporte. É neles, arte e esporte, que o suprassumo da vida e
do amor são reduzidos em belas ações, em competitividade sadia (pois a única
forma de competitividade sadia entre os homens é o esporte), em quadros,
músicas, arquitetura que se assimilam à flor que abre, às cores dos bichos, à
música das baleias e aos ninhos dos pássaros... Assim, em toda manifestação
humana embebecida de amor e outros sentimentos que conduzem a breve passagem
dos homens niilisticamente ao esquecimento, a arte e o esporte são o que há de
dadivoso em nossa mente dita superior e “racional”.
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Neste ínterim, ao indefinir a racionalidade como boa ou
ruim, também não conseguimos definir a essência humana, já que a mente precede (e
propaga) a existência. O homem é bom ou ruim por natureza? Qual é a nossa saga
e nossa sina como espécie e para onde conduzimos nossa genética que, muitas
vezes, nem parece natural como a dos animais e plantas que pela Terra insistem
em brotar.
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E neste breve post, movido pela racionalidade e intencionado
à conclusão, como praxe humana, penso que a natureza do homem não pode ser
apontada como boa ou má, mas sim o conjunto de ações individuais de cada
elemento que compõe a espécie. Temos homens belos e, outros, bélicos. Temos
artistas e temos arteiros. Temos pacificadores esperançosos e tiranos egoístas,
mas nenhum deles consegue resumir sua espécie, que incógnita, viaja pelo
espaço-tempo a transformar seus arredores, sem destino nem ponto de chegada.
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E, entre uma era e outra, momentaneamente, o homem para numa
breve pescaria com seus irmãos nadadores golfinhos. Entre eles, muito mais que
simples tainhas: o segredo nunca revelado da humanidade.
A bondade e a maldade são, também, como a própria existência da mente que os julga, ilusões passageiras.
A bondade e a maldade são, também, como a própria existência da mente que os julga, ilusões passageiras.
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