terça-feira, 22 de março de 2011

ENTRE A VIDA E A MORTE


A morte é uma coisa tão intensa que depois dela eu não vou fazer mais nada. Vou ficar deitadão no éter, observando as formas das nuvens, ao contrário do Vicente, eu já falei pra ele, que ele vai ficar vendo as formas nas brasas do cramunhão.
Mas o fato é que eu não tenho medo de morrer: eu só tenho medo é de deixar de viver. Isso é realmente uma pena, eu deixar de viver, porque a vida é uma delícia. Mas tudo bem: na real eu não conheço outra coisa que não seja ela, a vida. E se conheço, não me lembro.

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A morte é pior que o voto, que só é obrigatório a partir dos 16.

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A morte é de matar.

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Há muito que morrer deixou de ser coisa de velho. A uma delas, a morte e a velhice, estamos todos condenados. Mas aí a Kelly me perguntou as coisas que eu faria, realizaria ou gostaria de realizar antes da morte sentar na minha mesa. E eu, que a cada dia me conheço menos, diria que muitas coisas fortes aconteceram na minha vida e eu nem questiono os sês que as cercam. Nada acontece por acaso e tudo tem que seguir a linha do presente, a onda do agora, sem questionamentos das coisas que seriam. E então eu não mudaria nada, pois nada existe mais além do momento exato em que respiro.
Eu vi meu pai morrer e vi meus dois filhos nascerem. Já morei no mato. Já tomei banho de rio no alto inverno. Conheci mendigos e personalidades, plantas e pessoas. Já briguei com um cachorro pit bull. Já tomei sorvete de pistache e comi geléia de pimenta. Agora, Kelly, a coisa que eu mais quero é morrer sem desejos.

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Toda liberdade é mental.

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