quinta-feira, 17 de março de 2011

ESCADARIAS BRANCAS


Sonhei com um amigo que morreu há 7 anos.
Ele tinha pulseiras folgadas, que corriam pelo braço conforme o movimento.
E tinha recém acordado, ele, no meu sonho.
Me dissera que havia um lugar legal para o pernoite.
O Grande Hotel, no centro de Pelotas.
Mas quando eu cheguei lá, o Grande Hotel era totalmente diferente.
Era um lugar que eu já visitara, em outro sonho.
E eu sei que já estive lá, apenas não recordo quando.
Em qual das vidas.
E onde era aquele outro Grande Hotel...
Ele tinha escadarias brancas.
Quartos grandes.
Parecia um palacete, com elevador estranho.
Eu tinha medo daquele elevador.
Ele não parava exatamente nos andares.
E sim em meio-pavimento.
Encontrei sobre a lareira fotos antigas.
Da gente tocando violão.
Um cachorro diferente.
E eu me vi numa dessas fotos.
E foi a primeira vez que eu me vi de corpo inteiro num sonho.
E eu tinha dreds no cabelo.
E o meu amigo já não era aquele.
Mas um amigo vivo.
Vivo na vida, quero dizer.
Eu acordei pensando o diria aquilo.
Enquanto um banho colocou-mem pé.
Olhei detalhadamente as costas da mão...
A água corria pelo corpo... as temperaturas fazendo média...
Percebi que a mente, naquele instante, estava sincronizada à pele.
E, na minha efêmera noção de realidade, tudo estava tão normal.
Porém, todo real é deveras diferente.
O banho acabou.
O dia mudou.
Diversos locais distantes daquele branco hotel.
A volta do ponteiro, já não era aquele sonho.
Mas ele continuava aceso, por assim dizer.
Numa memória estável e frequente.

Foi então que eu percebi que a realidade é uma ilusão.
Tão mera, tão ocasional.
Como histórias contadas na fogueira.
Tudo desaparece, aparecendo o novo.
A felicidade e a tristeza...
Nada fica, tudo vai.
Tudo existe e não existe mais.
Não adianta nem querer nem desquerer:
A vida existe por si só, como uma ponte pra lugar nenhum.
Como um rio que vai pro mar.
Como um hotel branco num lugar descolorido.

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