quinta-feira, 16 de junho de 2011

A FUGA DO BRIZOLA


Pelotas é muito legal... além de capital nacional do Doce, é também a cidade dos cães de rua e dos loucos. Os loucos, por sua vez, se dividem em dois grupos: os que admitem serem loucos e os que não admitem a loucura jamais.

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Eu não sou louco!

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Mas o fato é que eu conheço um mundaréu de louco aqui em Satolep. Músicos, poetas... artistas... loucos velhos e jovens, homens e mulheres. E foi com eles que eu aprendi que o perigo do mundo não são os loucos: são os lóques.

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Então um amigo meu, um louco velho, me disse, numa conversa da manhã, que ele era soldado quando o Brizola fugiu para o Uruguai, após o Golpe de 64. Mais que isso: ele era O soldado que permitiu a fuga do Brizola pras bandas de Montevidéu.
Explico: segundo este meu amigo, o Louco Velho*, o Brizola realmente escapara da ditadura militar vestido de mulher. E o Louco Velho era o guarda responsável pela fronteira naquela fatídica noite. E ele me garante que notou que aquela "mulher" era muito estranha, que usava bota e falava de "interésses", de política e caminhava feito um xirú de Bagé.
Mas havia um detalhe muito significativo em tudo isso. Ele, o Louco Velho, era homossexual e, como não gostava muito de papo com mulheres, não teve ânimo para investigar aquela personagem esdrúxula e seu fusca colorado.
Brizola passou, salvando seu couro e tornando-se um ícone da política nacional. E eu descobri que as mulheres enganam até o diabo... mesmo tendo por baixo da roupa um macho gaúcho da estirpe do Brizola.

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Hoje pela manhã eu achei um livro, Dossiê Brasil, de Geneton Moraes Neto, e nele tem uma entrevista com o Maneco, piloto do João Goulart em 1964 que resgatara Brizola da praia do Pinhal.
Abaixo transcrevo este trecho da história brasileira que mostra como as mentiras viram verdades e como não se deve dar corda pra louco. Principalmente pra Louco Velho de Pelotas.

GMN- A única pessoa que pode contar a verdadeira história sobre como Brizola saiu do Brasil em 1964 é o senhor - que estava no avião com ele. Há versões desencontradas sobre o que aconteceu. Qual é a verdade,afinal ?

ML - "A verdadeira história da saída de Brizola é tensa. Perseguido pelas forcas da repressão, Brizola se encontrava em Porto Alegre,sem condições de sair do país. Já em fins de abril de 1964, eu, que já estava no Uruguai acompanhando o presidente Goulart, recebi a visita de um emissário que me propôs uma missão: resgatar Brizola no Brasil.
Tive um encontro com D.Neuza (mulher de Brizola). Combinamos, então, um plano de resgate. Dona Neuza chegou a me entregar metade de uma nota de CR$ 1. Disse-me que a pessoa que me procurasse com a outra metade da nota seria o emissário com quem eu deveria combinar o plano para resgatar Brizola.
Poucos dias depois, fui procurado pelo emissário - que trazia a outra metade da nota. Durante dez dias, estudei, no Uruguai, a possibilidade de fazer a operação resgate em Porto Alegre. Eu pilotaria um avião que desceria no Aeroporto Salgado Filho, o que seria arriscado. A alternativa seria descer numa praia no litoral do Rio Grande do Sul. Optei pela praia.
A escolha da praia ficaria a critério dos amigos de Brizola no Brasil. Mas, para descer na areia da praia, eu precisaria saber do horário das marés. Por quê? A maré baixa deixaria livre uma faixa de terra que possibilitaria a descida do avião.
Designamos, então, uma pessoa que ficou encarregada de estudar o movimento das marés. Somente assim, eu teria certeza de que poderia descer na praia. Recebi, então, um informe indicando em que horarios a maré estaria baixa ou estaria alta. Preferi o horário das sete da manhã. Nesse horário, com a maré baixa, eu teria espaço suficiente para descer na areia pilotando o bimotor.
Começamos, então, a executar a operação resgate. Eu usaria o avião do presidente João Goulart para resgatar Brizola no Brasil. Era um avião Cessna 310, prefixo PT-BSB. Já exilado no Uruguai, o presidente João Goulart sabia de todo o plano. Autorizou-me a decolar de Punta del Este. Deixei Punta às cinco da manhã, em direção à praia do Pinhal, onde Brizola deveria estar me esperando. Eu pilotava o avião do presidente. Fui sozinho.
Quando me aproximei da praia, notei que nem todos os planos que havíamos feito estavam se confirmando. Pelo acerto que haviamos feito, deveriam estar na praia um grupo de pescadores, um Volks vermelho, um caminhão e outro carro. Mas, ao sobrevoar a praia, notei que o caminhão não estava lá! Eu deveria regressar ao Uruguai, porque alguma coisa estava errada. Mas, num arroubo de juventude, resolvi me aproximar de qualquer maneira.
Quando eu estava vindo buscar Brizola, sintonizei durante o vôo a Rádio Guaíba. Uma autoridade do governo dizia que em 48h Brizola estaria preso.
Quando cheguei à praia, vi Brizola saindo de trás de um monte de areia. Estava acenando para mim. Pensei comigo: se Brizola veio, então vou aterrissar. O plano deve ter dado certo. Brizola não iria me entregar. Pousei na areia. Abri a porta do avião.
Quando Brizola ainda estava fechando a porta do avião, eu já estava decolando de novo, rumo ao Uruguai! Brizola estava vestido com a farda da gloriosa Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Trajava o uniforme de soldado. Tenso, mas feliz, Brizola parecia aliviado porque iria se encontrar com a família no Uruguai. Tinha saído de Porto Alegre num fusca, junto com uma senhora que demonstrou grande coragem pessoal ao levá-lo ao local do resgate. Passaram pelas barreiras sem serem vistos.
Quando eu disse a ele "Dr. Brizola, já estamos no Uruguai! Acabamos de passar pela fronteira!", ele apertou minha mao e me disse: "Obrigado, Maneco!". Logo após nossa decolagem, nos quinze minutos seguintes, tomei uma decisão como medida de precaução, para que nosso avião não pudesse ser interceptado pela FAB: voei baixo, cerca de um metro acima das ondas do mar.
Brizola chegou a me dizer: "Olhe para trás, para ver se vem vindo algum avião da FAB!". Respondi: "Agora eles nao vêm mais. Porque, com o nosso tempo de vôo, já não há perigo de sermos interceptados". A viagem, com uma escala em território uruguaio, terminou em Solimar, um balneário nos arredores de Montevidéu, onde o presidente João Goulart nos esperava. Assim Brizola saiu do Brasil em 1964."




* Nome fictício

Um comentário:

Maria Fernanda Passos disse...

Putz...cresci acreditando que o Brizola tinha entrado no Uruguay cruzando a Ponte Mauá. História dos loucos de aqui.Agora fiquei decepcionada com toda essa verdade!hehhehee!