segunda-feira, 2 de julho de 2007

NADA

Arturo Bandini! Arturo Bandini!
Do pó ao pó, pensava, e todo dia ele me chamava. Porra Bandini, já morreste e tudo... me deixe quieto, pelo menos até terça. Preciso voltar à árdua tarefa de fazer nada...
Ao nada nada se compara, nem o vácuo ou o transparente. Na dimensão do nada, longe longe, as coisas que existem são quase questões. Sem respostas, óbvio. Sedutoras e reais como os aromas; e quando vai se ver, já se viu (ou nem mais há).
O nada o tudo teme. O nada, tão irresponsável e precisando de tão pouco, ficou sentado no bar, vendo o tudo trabalhar. O nada foi morar num barril, depois no Rio. O tudo nunca se mudou do apezinho da XV. O nada na praia fez top less; o tudo há dias não vai aos pés. O nada escreve errado mas pensa certo; o tudo não pensa: acha. E achando suas filosofias entre livros de sebos e teorias cartesianas, o tudo não conseguia acreditar que o nada ainda tinha razão e mudava, outra vez, de teoria.
Tudo em vão, Bandini - disse a moça de cabelo preto. Tudo tem fim... nada pode ser tão delicioso...
E, por fim, decidido a selar as pazes com o silêncio, pensou: me deixe sozinho enquanto minha cabeça viaja no infinito encanto de tua glória esplêndida.

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