domingo, 4 de maio de 2008

DUDÁRIO DE BORDO II


Acordei às 3h30min. Ainda no hotel, tomei um banho hiperquente... Chovia e continuava frio... era só mais uma prévia do ciclone que se aproximava. Embarquei às 6h rumo a Salvador: subi no inverno, desci no verão.
A viagem foi tranqüila, mas não consegui dormir. Cheguei na Bahia às 9h40min com 32ºC e segui direto pro hotel, na rua Chile, no centro histórico da cidade. Larguei as coisas no quarto e fui dar uma banda, como diria o gaúcho.
A vista é linda e o mar cerca tudo o que vejo. O Pelourinho é aqui do lado... Nas ruas, o resquício da colônia de exploração: muita gente pobre (Salvador é cheia de favelas) e, na noite, os vendedores ambulantes agarram turistas lhes colocando colares e fitas do Senhor do Bonfim... Só ontem ganhei mais de dez... Comprei um pau-de-chuva e um tambor pro Johan, uma bolsa e umas sandálias de Salvador de Bahia só pra imitar o Drexler... Mas aqui o que mais se adquire é a cultura: a negritude é linda e forte... os orixás andam nas ruas e tu nunca sabes qual é real e qual é mitológico.
De tarde, tive o incomensurável privilégio de construir um sopapo com o mestre Batista (mestre Griô). Cara... não é pra qualquer um: eu, em Salvador, construindo sopapo com o mestre Griô. Ficamos até as 21h na função. Depois fomos jantar num lugarzinho simples, aqui pertinho, mas muito amoroso, com feijão delicioso e uma pimenta viraku. Depois do banho, fui tomar uma gelada na rua antes de dormir com os anjos. Passei pela praça do reggae, onde conheci algo muito estranho, que denominei de contra-racismo. É que depois do processo histórico de exclusão que os negros sofreram (e ainda sofrem), há lugares onde os brancos são mal-vistos. Eu cheguei na praça do reggae e o cara me disse: Pode entrar mas não vai pra lá. Eu perguntei porque e ele me respondeu que iriam me tirar tudo. Comprei uma cerveja e fiquei de canto, vendo a galera curtir. Excluído, pensei nos escravos... pensei nos crimes que fizemos contra uma raça tão linda que até hoje é explorada...
No fim daquele longo dia, no retorno do hotel, mais um ambulante me pegou. Me deixou uma fita e um colar e me levou os últimos 10 pilas que tinha. Era hora de voltar pro hotel e esticar o corpo.
Quando cheguei, o marzão da esquerda me fazia procurar a África. Agora sei que estou bem em cima dela.

Nenhum comentário: