sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O FRACASSO DA COP15


O capitalismo mostrou mais uma vez que é incapaz de resolver os
problemas que ameaçam a humanicdade. A maior reunião diplomática da
história, a 15ª Conferência do Clima (COP-15) terminou num retumbante
fracasso. Milhões de pessoas que dependiam de uma decisão importante
para enfrentar o aquecimento global foram abandonadas à sua própria
sorte. “A cidade de Copenhague foi palco de um crime, com os culpados
correndo para o aeroporto perseguidos pela vergonha”, resumiu um
ambientalista do Greenpeace.
A conferência, que reuniu quase 200 líderes mundiais durante duas
semanas, sequer fixou algum tipo de meta para diminuir as emissões dos
gases estufa, responsáveis pelo aquecimento global. O único documento
apresentado pela conferência – que não prevê metas obrigatórias de
redução de emissões de CO2 até 2020 – não terá o menor valor jurídico,
pois é apenas uma carta de intenções.
O acordo foi assinado apenas pelos chefes de estado da União Europeia,
Estados Unidos, China, Índia e África do Sul. O Brasil também assinou,
apesar de o presidente Lula ter dito horas antes que estava frustrado
com as negociações. Parte dos países africanos, além da Bolívia e da
Venezuela, não assinou o documento, num claro sinal de protesto.
Mas Copenhague não só fracassou no objetivo de estabelecer um acordo
mundial sobre o clima. Também significou um retrocesso mesmo diante
das tímidas ações já feitas para enfrentar o aquecimento, como o
Protocolo de Kyoto, o único acordo climático mundial com valor
jurídico.
Kyoto estabeleceu metas insuficientes para conter o aquecimento,
pedindo que países industrializados diminuam em 5,2% a quantidade de
gás carbônico jogada na atmosfera em relação aos índices medidos em
1990. Mas segundo os cientistas do Painel Intergovernamental de
Mudança do Clima (IPCC) é preciso reduzir a emissão dos gases estufa
pela metade. Mesmo estabelecendo compromissos rebaixados, os EUA se
recusaram a cumprir as metas de Kyoto. O simples fato de o
imperialismo não aderir às metas já tinha provocado a falência do
acordo. Agora, em Copenhague, uma pá de cal foi jogada sobre o que
restou do protocolo.

Pobres sofrerão mais

O imperialismo norte-americano é o principal responsável pela atual
catástrofe ambiental. Sozinhos despejam pelo menos 20% de todos os
gases estufa na atmosfera. Mas a transformação da China (segundo maior
poluidor mundial) numa plataforma de exportação imperialista aumenta
ainda mais a degradação ecológica.
Hoje já é possível perceber os efeitos das mudanças climáticas
causadas pelo aquecimento. Neste ano, eventos climáticos extremos
ocorreram na América do Sul, Ásia e Austrália. No Brasil, as enchentes
no Nordeste, que aconteceram entre março e maio, e as que ocorreram em
outubro e novembro em Santa Catarina podem ser consideradas anomalias,
bem como a seca que atingiu o sul do país e o norte da Argentina no
início do ano.
Mas os maiores desastres ocorreram onde vivem as parcelas mais pobres
da população mundial. De acordo com o IPCC, cerca de 250 milhões de
pessoas sofrerão com a falta de água na África, com uma redução de até
50% na produção agrícola em alguns países até 2020. O mesmo pode
ocorrer com regiões inteiras da Ásia, afetando mais de um bilhão de
pessoas.
Já na América Latina, a previsão aponta para a desertificação de
regiões mais secas, como a caatinga e o serrado. Cientistas também
avaliam que 40% da floresta amazônica poderá se transformar numa
região semiárida. Algo que terá profundas consequências no conjunto do
clima do planeta. O IPCC ainda diz que o nordeste do Brasil pode
perder 70% da recarga de seus aquíferos.
No entanto, há uma diferença nisso tudo. Apenas os países
imperialistas poderiam promover as profundas adaptações que a mudança
climática vai exigir. Podem, por exemplo, impedir que suas cidades
sejam devastadas pela elevação dos oceanos. Um exemplo é a Inglaterra.
Por muito tempo, Londres, que se encontra praticamente no nível do
mar, sofria inundações quando chuvas prolongadas ou o brusco
derretimento da neve coincidiam com marés altas, afetando o volume de
água do rio Tamisa, que corta a cidade. A solução foi a construção, em
1982, de um sistema de comportas para regular o fluxo das marés. Com a
ameaça de uma elevação do nível dos oceanos, estuda-se agora a
construção de um novo sistema para impedir qualquer ameaça de
inundação.
Mas os países semicoloniais não possuem recursos para tal adaptação,
uma vez que suas riquezas são espoliadas pelo imperialismo. É um
delírio achar que Bangladesh (ex-colônia britânica, um dos países mais
pobres do mundo afetado por constantes enchentes) possa construir um
sistema de comportas como o de Londres. Uma pequena elevação dos
oceanos pode ter consequências catastróficas para esse pequeno, mas
populoso país asiático.
Por outro lado, os países semicoloniais também enfrentam a degradação
ambiental provocada por multinacionais e grandes corporações. A
África, por exemplo, se tornou uma espécie de aterro sanitário do
imperialismo e das multinacionais. Lixo radioativo na Somália, derrama
de produtos tóxicos junto à Costa do Marfim, mais de 5 mil litros de
cloro abandonados nos Camarões são apenas alguns exemplos que tornam o
continente o destino de uma boa parte do lixo tóxico do mundo.

Falência do desenvolvimento sustentável

Copenhague também demonstrou a falácia do chamado desenvolvimento
sustentável. As propostas de desenvolvimento sustentável tentam
conciliar o que, na verdade, é impossível: crescimento econômico e
lucros dos capitalistas com preservação ambiental. Essa proposta
insere-se no marco da defesa de um capitalismo ecológico, com rosto
humano. Mas o capitalismo não pode superar a crise que provocou, pois
isso significaria impor limites aos lucros da burguesia.
No marco deste sistema predatório e de concorrência entre os
burgueses, é impossível que o capitalismo possa utilizar tecnologias
racionais e não poluentes, uma vez que sua adoção é infinitamente
menos rentável para os capitalistas. Qualquer proposta de cunho
reformista estará fadada ao fracasso, como se pode ver hoje com o
Protocolo de Kyoto.
Por outro lado, a sustentabilidad” – como tudo no capitalismo –
tornou-se mais uma forma de se ganhar muito dinheiro. Os chamados
créditos de carbono movimentam hoje US$ 120 bilhões e estão se
tornando numa oportunidade para especuladores ganharem muito dinheiro
enquanto o planeta agoniza.
O discurso da sustentabilidade também pode ser utilizado para preparar
grandes derrotas. No Brasil, a maior defensora da sustentabilidade é a
ex-ministra do Meio Ambiente
Marina Silva, pré-candidata à presidência da República pelo Partido
Verde. Sob o discurso da sustentabilidade, Marina aprovou leis que
permitem alugar as florestas públicas brasileiras para empresas
privadas e ONGs (Projeto de Gestão de Florestas Públicas para a
Produção Sustentável). Ou seja, a chamada sustentabilidade colocou
toda a nossa biodiversidade da Amazônia brasileira à mercê dos
empresários, inclusive os estrangeiros. Também foi sob seu ministério
que foi liberado o cultivo da soja transgênica, além das obras da
transposição do Rio São Francisco.
Copenhague é a demonstração cabal de que a lógica predatória e de
concorrência entre os burgueses impossibilita que o capitalismo crie
algum tipo de desenvolvimento sustentável, pois isso seria menos
rentável para os empresários. A bandeira ecológica insere-se na luta
pela superação completa do regime de exploração. Ou o capitalismo é
superado ou a humanidade seguirá para a barbárie e o ecocídio.


Jeferson Choma
da redação do Opinião Socialista

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