sexta-feira, 17 de agosto de 2007

PAPÉR DI BOBO

Aconteceu em Porto Mauá, divisa com Argentina, no RS. Minha tia Neli, bem gordinha, era casada com o tio Jenuíno, magricelo, num casal tipicamente rural. Lá, na propriedade deles, vivi episódios muito bons, que muito influenciaram no que sei sobre o respeito, a simplicidade, a humildade e a harmonia com a natureza. Depois que meu pai faleceu, pouco os tenho visto: na verdade, tenho ido pouco às minhas origens... Mas não sou mandioca pra ter raiz, então sigo os ventos.
Num fim de semana de sol, fomos com o Passatão 78 a mais um passeio a Porto Mauá. Eu era moleque, um pouco mais velho que meus primos Elia e Bano, filhos da tia Neli e que representavam a inocência encarnada. Eu fazia o papel do garoto do concreto, da cidade, do videogame Atari. Entre uma brincadeira e outra, o Elias chegou pra mim e disse:
Tu é muitu esperrrto, mais eu consigo adivinhá o qui tu faiz iscundido.
Como é que é Elias?
Ué sô! Tu pódi si iscondê atráis daquela árvre ali e fazê qualqué côsa: tirá meleca, coçá o saco, escrivinhá no chão... qualqué côsa que eu adivinho o qui cê tá fazeno.
Ah é? Duvidei essa!!! Quer dizer que eu me escondo e tu consegue adivinhar o que eu tô fazendo sem me ver? Duvidei!
Lá fui eu pra trás da árvore, sempre me certificando que nem ele ou o Bano conseguiam me ver. Me virei de costas até, tal receio. Catei um galho seco no chão e comecei a quebrá-lo, lentamente, bem no mocó.
Ô Chico Bento... Vamos ver se tu adivinhas o que é que eu tô fazendo então...
Craro qui sim... tu tá fazeno PAPÉR DI BOBO!

Que bom que não há êxodo às boas lembranças...

Um comentário:

Bernardo disse...

Ae ô desmandiocado!
Brógue cuidadinho esse teu, hein? Banho e tosa todo dia? haha