sexta-feira, 26 de outubro de 2007

(re) SACO CHEIO DE PAPAI NOEL

No ano passado, escrevi uma coluna pro Diário da Manhã e, agora, procurando ícones no vago e-tempo computadorístico, a reencontrei perdidinha, encolhida como um pinto no frio. Reli a dita e resolvi que era hora dela espraiar-se na rede da virtualidade. Eis-la-a-a:

O ano que passou, 2006, trouxe em seu término grandes reflexões à humanidade, como coletividade, bem como a cada indivíduo, como partícula evolutiva no contexto cosmológico e espiritual. Mesmo que passando pelo ápice das transformações axiológicas, das mudanças de linguagem, da avançada tecnologia dos cliques, o homem moderno ainda traz consigo amarras intelectuais da Idade da Pedra presas às bolas-de-chumbo do consumismo e do capitalismo destrutivo: é prisioneiro de seus desejos materialistas, delimitado dentro de fronteiras criadas por sua própria mente e segue incapaz de perceber que, enquanto a Terra morre asfixiada por seu lixo, ele também é um mero e finito passageiro do tempo.
As mortes dos tiranos Augusto Pinochet, no Dia dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, e Saddam Hussein, no dia 30 do mesmo mês, Dia do Perdão Universal, mostram ironicamente dois fatos que baseiam a sociedade humana da qual todos fazemos parte e somos agentes formadores: a Justiça falha (meramente hipocrisia formal) e a incapacidade de uma visão estratosférica dos problemas terrenos. O general chileno morreu sem prestar contas dos crimes que cometera. Dançou com os tribunais, brincou de doente e foi escoltado por uma grande fortuna e um prestígio político que o blindaram até seu último suspiro, enquanto que aqui, no Brasil, da mesma forma como ocorre no Chile e em outros países subdesenvolvidos (ou "em desenvolvimento", como preferem ser chamados) as sentenças executórias e as instituições penais existem apenas para negros, pobres e analfabetos. Já no Iraque, a mesma corda que enforcou Saddam sufoca qualquer análise coerente. Com que legitimidade foi feito não só o julgamento fajuto de Hussein, mas também a invasão àquele país (sob o pretexto equivocado de haver armas de destruição em massa), que trouxe ruína total, morte de inocentes e um caos nunca antes visto no Direito Internacional? Agora, as forças da coesão se encontram em um terrível dilema: retirar suas tropas e amargurar o fracasso de sua missão ou prosseguir em uma guerra urbana, dizimando vidas por uma ira de vingança sem sentido.
Além disso, a humanidade atravessa uma era de intensa mudança planetária. Grandes catástrofes naturais já acontecem, o aquecimento global é visível e perceptível, mas o homem ainda não criou uma consciência protetora da água nem um conjunto de ações racional e eficaz para com seu próprio lixo. Sua ânsia cega faz com que siga destruindo as matas (no Brasil, restam apenas 6,05% da floresta atlântica original), poluindo os rios e mares e participando com a fome planetária e as desigualdades sociais, pois no momento em que passa a ser apenas uma unidade consumidora, o homem passa a crer e a obedecer somente um ego faminto e não acorda para o que acontece a seu redor. O planeta está no limite.
Então nos chega 2007... O que dizer? O que esperar? Nos festejos de fim de ano o homem deseja paz, amor e perdão, veste branco e, embora tenha trocado a figura de Jesus pela de Papai Noel e o presépio por Coca-cola, segue vários ritos formais e não reflexivos, pois brinda e pede por coisas que não pratica em seu dia-a-dia. Penso se direi a meu filho que em 20 anos ele irá encarar as graves crises da água e da energia elétrica, das superpopulações e da fome, que em 2020 não haverá nenhum pico nevado e muitos animais e plantas ele conhecerá apenas através de livros e fotografias... Provavelmente não: esta minha índiga reflexão irá mostrar a ele, criança cristal, que já é hora de usarmos a intolerância contra o mal. É tempo do homem fazer uso de ações corretas e do verdadeiro amor incondicional se quiser seguir viagem pela galáxia em sua linda nave azul.

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