quinta-feira, 26 de maio de 2011

RENDENIZASSONHO


Andando pela noite, vi uns operários de macacão com aquelas faixas reflexivas neon... Dezenas, em perspectiva, formavam traços desconexos e desencontrados e eu pensei brevemente estar sonhando... pensei no quanto o sonho pode ser realidade... e eu viajo um monte enquanto durmo, recebo muita informação. Eu recebi, por exemplo, as seis dezenas da mega-sena... tenho elas aqui, anotadinhas comigo. Ainda não saíram assim, as seis juntinhas num jogo só, mas hão de sair um dia.
Eu também conheci Baudelaire num sonho... Já fiz poemas inteirinhos. Minha rendenização noturna brinca com fatos subliminares, com fragmentos da minha consciência... forma um mundo imenso e insensato, amplo e vago... frases soltas... conclusões sutis.

[O mundo dos sonhos é onde não nos vemos... é onde a mente anda sem molduras.

***

Eu pedi pro nome do meu livro vir num sonho. Ao dormir, me veio a face da minha vó Sofia, falecida num dezembro desses. Lembrei da canção polonesa que ela me ensinou, Potcha Babulenka... ainda não sei se é assim que escreve, mas é assim que se fala. E eu nem sei se a cantiga que restara daquele longinquo ensinamento ainda é em polonês, ou se eu crio fonemas quando canto... enuvecidos... como imagens num sonho maluco.

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Potcha Babulenka!

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Eu quero dizer que eu me lembro da minha infância como se fosse um sonho. E ela me trouxe até aqui, a minha infância. Mas ficou um pouco longe... cada vez mais longe. Depois, um zilhão de coisas aconteceram... tantas pessoas, lugares... eu já desejei coisas diferentes... já empunhei outras verdades... e hoje não sei se eu mudo a todo instante ou se esse mundo gira muito rápido sob nossos pés.
É que eu sou outro a cada dia.
E amanhã, ao fechar a última página, irei querer que tudo tivesse sido diferente.
Compensarei os sês.
E tentarei perceber o quanto restou de mim, comigo.
E o quanto de mim o tempo levou consigo.

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