sábado, 9 de abril de 2011

BENJAMIN ABRAHÃO E O PIOR EMPREGO DE UM HOMEM


Eu vi na tevê um especial sobre as profissões mais perigosas do mundo. Nele, a cereja no bolo era a função de pescador de lagostas nas gélidas e nórdicas águas da Groelândia, onde o sujeito encara os mais bravos mares do planeta quebrando gelo no convés, tirando cestos de pesca do fundo do mar em plena madrugada escura e mantendo a proa organizada enquanto sua vida se equilibra sobre uma linha de fio dental.
Tudo muito tranquilo...

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Mas aí eu percebi que várias profissões não foram sequer citadas em tal pesquisa. Sim... pois eu conheço vários empregos na minha cidade que fariam um pescador de lagosta achar a sua vida um saco de monotonia e sossego.
Eu sei da prostituta que trepa por um vale-transporte; sei do PM que ganha R$ 365 e um revólver 38 enguiçado pra salvar Pelotas do crime; sei do músico que ficou surdo e seguiu tocando na noite; sei do cara que foi contratado pra cuidar do chato do tio Tinoco; da telefonista da salinha de 1m² que pega às 8h e larga às 18h... enfim, empregos formais que fazem com que pescar lagosta vire diversão de playboy.

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O chato não é o trabalho: o chato é ter que trabalhar.

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E o cara me disse: "O pior não é o emprego não seu Duda! Muiiiito pior é o salário!"

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Mas eu acho, definitivamente, que um emprego maluco era o do Benjamin Abrahão, o fotógrafo oficial do Lampião. Isso sim é que era trabalho pra um cabra-da-peste! Onde o bando do Virgulino e Maria Bonita passavam, lá estava o Benjamin, com sua máquina a postos para a vaidade cangaceira.
Lampião era meio cego do olho direito, mas o que ele não via nunca passava desapercebido pelas lentes do Benjamin. Eu até imagino as cenas:
Benjamin... correqui modi fotografá ax buxada dexte cabra fio dilma égua.
Ô Benjamin... bate uma chapa modieu e Maria Bunita sivê dixpoix a nossa beleza ômi...
E assim foi, durante anos, o Benjamin, desarmado, atrás do bando... comendo poeira, se raspando em cactos, passando sede, dormindo na areia, fugindo de um mundo, batalhando contra outro... sendo uma mescla de artista e criminoso... fazendo de seu gatilho as lentes e de seu histórico um registro imagético nacional.

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E no dia em que o bando teve suas cabeças cortadas, as últimas palavras de Benjamin foram:
Eu sou apenas o fotógrafo!
Tarde demais para que entendesse o difícil trabalho que ele havia escolhido...
E sua cabeça foi parar numa bandeja, como uma lagosta da Groelândia...

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