terça-feira, 19 de abril de 2011

UMA BR DE VIDA


Quando a mãe tinha 7 anos a vó Sofia falava todo dia que ia morrer, que estava morrendo... E levou mais 59 anos morrendo, até morrer definitivamente.
Aí que eu percebi que quem mais reclama, mais vive.

***

A mãe casou, teve 4 filhos, viajou pelo sul com a família embaixo da asa, voltou pra Santa Rosa, os filhos cresceram, o pai faleceu, todos foram embora, trocou de cachorro, o piso da sala, a janela da cozinha, a cor das paredes da casa...
A vida e essa mania de mudar a toda hora.

***

A tia Ana e a tia Dalva tiveram caminhos parecdos.
Como diria meu pai, a gente nasce, cresce, fica burro e casa.
E isso foi com elas também.
Filhos. Marido. Divórcio.
As três professoras sem tempo algum além do trabalho e da família.

***

Amanhã, 66 anos depois do início dessa brincadeira, elas farão uma viagem de carro.
Apenas as 3 irmãs, como nunca antes acontecera.
Se reencontrarão.
Se reconhecerão.
As 3, uma BR, um carro e 1kg de frango na farofa.

***

Uma grande oportunidade, um presente da vida.
Eu queria filmar.
Eu queria ser uma mosca.
O amor não tem tempo pra piada.

Um comentário:

Maria Fernanda Passos disse...

Que lindo Duda...me emocionei.Esse tempo para a gente mesmo é algo raro! Poder viver isso, com essa plenitude e ainda te ter como crônista....Gracias por traduzir o cotidiano em poesia